Expectativa.



Ocorreu-me a palavra. Expectativa. Bem antes de provar o melhor moscatel do mundo. Numa altura em que o nosso ego colectivo parece andar tão cá em baixo, uma designação tão definitiva. É nosso, o tal moscatel. E tem uma cor linda. Quase luz, o melhor moscatel do mundo. E a tal expectativa. Porque quando nos é dito que vamos provar uma coisa que é a melhor, a hesitação inevitável. Um equilíbrio frágil, então. Tudo o que provámos antes a voltar à memória sensorial. Ou então não. Ou então procurar uma espécie de vazio que não se consegue. E tentar esquecer. Nada disto é possível. Por isso, o elementar. Ver se sim. Se para nós sabe a melhor qualquer coisa. Não posso saber se é o melhor. Falta-me demasiado para isso. Convém ter a noção das circunstâncias, dos contextos. Mas sei isto: soube-me muito bem. E isto parece-me suficiente. Porque ter-me sabido muito bem sabe agora a cada um dos respirares antes. A cada um dos respirares depois. E ao que ficou entre. Que é sempre o mais importante. E entre um respirar e outro, pode bem acontecer isto:

Chèvre Saint Loup com mel e alcaparras

Uma fatia generosa de chèvre Saint Loup (pareceu-me mais suave do que outras possibilidades de chèvre) + 2 colheres (de sobremesa) de mel + 2 colheres de azeite (de sobremesa) + alcaparras q.b.

Fácil: coloca-se a fatia de chèvre numa taça que possa ir ao forno. Por cima, o azeite e o mel, previamente misturados. E no fim, as alcaparras. Vai ao forno até que derreta. E serve-se com fatias de pão tostado. Ou tostas.

NB: Eu sei aqueles pressupostos todos. Que este é um vinho habitual de fim de refeição. Mas sabe bem no início, também. E é bom fazermos coisas que nos saibam bem. Orientarmo-nos por esse princípio. E esquecer um bocadinho todos os pressupostos. Por apetecer subvertê-los. E beber este moscatel (Venâncio da Costa Lima - Reserva 2006) antes de dar início.

7 comentários:

  1. Fico feliz por "o melhor moscatel do mundo" não a ter dececionado :) Às vezes, as expetativas têm esse senão. Gostei do chèvre com alcaparras. E gostei que tivesse contrariado as regras. Afinal elas existem para que possam ser subvertidas :) Também gosto de as quebrar de vez em quando: branco com carne, tinto com alguns pratos de peixe. Só porque apetece. Não gosto de ficar agarrada às convenções. Mais uma convergência, pelos vistos :) Um beijo

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  2. Sim. Mais uma convergência. O gosto pela subversão. Só porque sim. O chèvre fica óptimo. Esta variedade é particularmente ligeira e o toque final das alcaparras dá-lhe uma graça muito peculiar. O vinho soube-me bem. Tal como escrevi. Sem que isso decorresse da designação tão temerária e definitiva. Bom assim, não? Quando as coisas nos sabem bem sem mais. Ou não. E pronto.

    Um beijo. Numa quinta-feira dedicada a ir. Sabe bem ir, também:)

    Mar

    PS: Quando tiver o link da reportagem da RTP sobre o seu blog, dê notícia.

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  3. E porque não subverter? Com um chèvre e alcaparras a pedirem uma nota doce de abertura. Gostei desse assumir. Que se gosta e pronto. Que se sabe bem é permitido... Aprovado!
    Um beijo de fim de dia de uma semana que está a ser muito longa, e cheia.... a desejar por muitas razões que seja fim-de-semana ;)
    Babette

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  4. E porque não a subversão? As coisas subversivas são quase sempre deliciosas. Pelo menos não soam a privisibilidade. O que é um bom princípio.
    Cheguei há pouco do Porto. E sabes uma coisa engraçada? Não havia das minhas baguetes rústicas:) Não deixa de ser irónico. Mas houve outras coisas. A pensar no almoço de Domingo. E outras que são de contar. Lindas. De presente. Depois vês:)
    Está quase, o fim-de-semana desejado por muitas razões.

    Um beijo de quase sexta-feira.

    Mar

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  5. Olá, Mar. Voltei com o link do vídeo: http://videos.sapo.pt/7Oj0ahe7yfWOoB6zY8eT Espero não a desiludir, tal como o moscatel não a desiludiu :) O que vai ver é uma Ilídia muito mais séria do que o habitual, menos sorridente. Ao longo do programa, fui descontraindo, mas, no princípio, logo após o genérico, e por ser um programa em direto, só me apetecia fugir do estúdio:)
    Beijos
    P.S.: Pelo que percebi, vai estar com a Babette no fim de semana. Um beijo para ela também. Estas amizades nascidas dos blogues são tão especiais, não é? Também estou a adorar descobrir as minhas novas amigas. Espero um dia encontrar-me com vocês também.

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  6. Olá Ilídia:

    Gostei tanto de a ver. E de a ouvir. Agora, a minha amiga dos Açores tem um rosto e uma voz. Gostei muito de ter sido uma conversa com tempo. E vi a Patrícia, também:) Curioso, como as coisas se encaixam. Como peças de um puzzle. Mesmo que não consigamos, no momento em que estamos a viver as coisas, antecipar esses encaixes todos. Na génese dos nossos blogs, há sempre uma componente aleatória. Essa é a primeira peça. As outras vão surgindo. Aleatórias. Mas plenas de sentido(s).
    Nunca ficaria desiludida, sabe? Gosto há muito tempo de a ler. Gosto há muito tempo de ir registando o seu registo. Este foi um prolongamento das coisas boas destes últimos meses.
    E sim. A Babette vem cá no Domingo. Há muito tempo que andávamos a tentar que as nossas agendas coincidissem. E agora sim. A ver se da próxima vez que voltar ao Continente, nos encontramos todas:)
    Obrigada por ter partilhado a sua aparição. A propósito de comida, escrita e amizade.
    E um beijo de bom fim-de-semana.

    Mar

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  7. Obrigada, minha querida. Vim aqui espreitar. Ver se já me teria visto :) Um beijo e continuação de bom fim de semana.

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