No primeiro sábado de Setembro.

































O mês de Setembro é assim. Começa com um aniversário. E continua assim. Até ao último dia de todos. Num sábado de sol indeciso, foi o dia de um amigo. Dedicado a ele. Muitas pessoas juntas a lembrar isso mesmo. A fazerem uma viagem para irem para junto dele. Só para lhe dizerem que é mesmo bom que exista. Num lugar que fica algures no Douro. Uma casa que é uma segunda morada. Linda e afectuosa, como são as segundas moradas. Lugares que são quase sempre cenário de celebrações deste género. Ou de férias que deixam saudades daquelas que não se consegue mitigar. Por se saber interiormente que se sente a falta de coisas que já não podem ser vividas. Não com aquilo com que foram vividas. Aquilo de ser uma coisa muito inicial. Impossível de reinventar.
Foi muito bonito, o final de tarde ali. Foi muito bonito assistir ao declinar do dia nas vinhas já em cores de fogo. E a noite. Com risos de crianças. São tantas as crianças nas festas do João. E é a elas que cabe a anunciação dos parabéns. Numa corrida pelas mesas. Como se lembrassem aos adultos que agora é que é. A parte mágica da festa é a de cantar os parabéns. Pela luz. Por estarem todos a cantar só por causa de uma pessoa. Há alguns anos que o cenário deste aniversário não era aqui. E foi tão bom que tenha sido assim. Que este ano tenha sido na segunda casa de uma família em que todos os irmãos têm olhos azuis:) Já com bebés e crianças. Também de olhos azuis. Uma marca indelével da família que tem uma casa amorosa no Douro. Um lugar que só oferece felicidade. Que está ali. Fechado durante muitos dias. Para ser vivido indefinidamente. Pelos irmãos dos olhos azuis. E pelos amigos dos irmãos dos olhos azuis. Que também gostam muito de existir ali. Porque se sabe que há coisas muito bonitas que vão ficar registadas. Eu sei que sim. Que este aniversário do João significa a vida muito recente de uma bebé. Vestida com um capuchinho vermelho. Muito loirinha. De olhos muito cheios de água azul. Bagos de uvas, dourados pelo sol de Setembro. Apanhados das vinhas. Uma sensação de criança. Recuperada. Pensar que daqui a uns anos, o meu filho e as outras crianças que brincavam juntas iriam reunir-se ali, também. A pretexto de aniversários. Ou sem nenhum pretexto. Só para estarem todos juntos. Como estiveram num sábado de Setembro. Que soube a uns doces de côco e de chocolate que são de perdurar. A ver se a minha tentativa de recriação da receita que me foi dada, me sabe ao sábado que me fez bem.

6 comentários:

  1. Mar, um lugar lindo. E uma família linda, a julgar pela sua descrição. Gosto de olhos azuis, a cor dos do meu pai, herdada pelo meu filho :) Pareceu-me um excelente fim de semana, o seu. Um beijo para si e parabéns ao João.

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  2. Que lindo imaginar-te numa casa onde se regressa todos os anos e se vão multiplicando olhos da cor do mar. Tão bucólica, a imagem das cortinas com pintinhas e o canapé floral...
    Um beijo
    Babette

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  3. Olá Ilídia:

    As crianças desta família são muitas. E lindas. Todas com olhos claros. O meu amigo João tem sete irmãos, por isso já imagina a quantidade de crianças de olhos azuis a circular:) Este lugar parece fora do mundo. Como se tudo o que ali estava nos fosse doce. E uma sensação indizível de recuperar forças.
    Foi tranquilo, o meu primeiro sábado de Setembro. E doce, como as uvas no Douro.

    Um beijo para si. Com carinho.

    Mar

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  4. Aquela sala dos canapés é o sítio de que mais gosto. Dá vontade de pensar em Invernos ali. E não devo ser a única a gostar da salinha dos canapés florais. Cheia de crianças. Em interacção barulhenta e feliz:) Lembrei-me que irias gostar desta salinha. Quis que visses um fragmento.

    Um beijo.

    Mar

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  5. Olá!

    Aquela ideia de um dia os filhos se voltarem a encontrar ali é uma espécie de nostalgia do passado que se quer futuro. É uma tentativa de clonar momentos felizes que foram únicos. Mas, esses momentos foram únicos, singulares, logo irreptíveis. Querer tornar momentos únicos repetíveis é lutar contra os ensinamentos de Heraclito. É uma tarefa árdua que deve ser deixada ao cuidado da imaginação.

    F. Pinheiro

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  6. Olá,

    Tive de consultar o meu marido para lhe responder:) Por causa de Heraclito e dos ensinamentos. A única coisa que permanece é o devir. É por aí, não é? E sim, impossível repetir aquilo que já está integrado. Por isso é que não gosto da ideia de regressar a sítios que foram muito significativos ou que foram uma determinada rotina. Não dá para ser a mesma coisa. E a nostalgia não me é fácil. Nem as tentativas de reinventar o que não é possível. Mas sabe, no meu imaginário, consigo ouvir os risos daquelas crianças todas. E lá à frente, os risos dos filhos delas. Sabendo que serão os risos dos filhos das crianças deste sábado. Não os deste sábado. Um dia lá à frente. Igualmente irrepetível. Como este sábado numa casa no Douro.
    Obrigada pelo que acrescentou à minha descrição de um dia que quis guardar aqui.

    Mar

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