Um pouco de dieta mediterrânica.





























Não quis adiar muito mais esta espécie de apologia. Li há dias que as crianças portuguesas são as mais obesas da Europa. Que pelo menos quatro vezes por semana consomem fast food. E bebem refrigerantes. E não comem sopa regularmente. E não comem legumes. A questão colocada no final era se estes números significavam o fim da dieta mediterrânica. Dos hábitos sem memória que nos definem enquanto povo. Coisas que sempre fizeram com que fôssemos conhecidos por consumir mais peixe do que carne. Que fôssemos um país de sopas. De legumes integrados em arroz carolino. E de consumir de acordo com a estação do ano. Não gosto de discursos virtuosos. Em nenhum domínio. Nem de exemplos mais ou menos edificantes ou pedantes. Mas é um dado que só possibilita perplexidade. Este de as nossas crianças consumirem tão regularmente coisas que deviam ser excepção. E então, uma entrada só para isto. Para três receitas aprovadas pelo meu filho. Que come sopa todos os dias. E as outras coisas que são postas à mesa. E saber que apesar desses esforços diários, devo rever algumas cedências. Sem radicalismos. Em todo o caso, a sensatez permite muitas possibilidades. Como fazer lasanha de legumes, por exemplo. Ou um bolo com vegetais integrados. E sopa. Sempre uma sopa.

Este bolo é uma possibilidade. Pelas possibilidades que oferece. É quase sempre uma entrada. Mas também pode ter honras de prato principal. E o melhor, pode resultar das combinações improváveis que apetecer. Neste dia foi assim.

Bolo salgado de legumes

6 ovos inteiros + 1 tigela (grande) de farinha + meio copo de leite + sal e pimenta preta + dois alhos franceses + metade de um pimento vermelho + um ramo de cebolinho + queijo parmesão ralado.

Antes, salteiam-se os legumes numa frigideira. Só com azeite, um pouco de sal e pimenta. Reserva-se. Entretanto, numa taça, estão os ovos, a farinha, o leite, o sal e a pimenta. Bate-se tudo muito bem até haver bolhinhas. Junta-se os legumes salteados, o queijo parmesão e mais um pouco de pimenta. Leva-se ao forno durante cerca de 25 minutos. Serve-se com mais legumes. E fica bom da maneira que quisermos: quente ou frio.

Sopa de cebolinho:

2 courgettes + 1 batata média + 6 cenouras + 1 cebola + cebolinho (o que quisermos) + sal e azeite.

Cebola e azeite, primeiro. Um bocadinho ao lume. Junta-se depois os outros legumes. Acrescenta-se água e sal. E deixa-se cozer durante uma meia hora. Depois de se passar muito bem, junta-se o cebolinho picado. Desliga-se. Se necessário, mais um pouco de sal e azeite.

Lasanha de legumes

Uma embalagem de massa fresca para lasanha (mais prática e rápida) + 1 cebola picada + cogumelos frescos cortados + bróculos + pimento vermelho cortado em cubos + 1 courgette cortada em cubos pequenos + cebolinho picado + leite (cerca de meio litro) + sal + farinha Maizena + uma colher de manteiga + pimenta preta + queijo mozzarella.

Primeiro, o refogado com os legumes. Num pouco de azeite. E, em vez de fazer o creme à parte, tudo junto. Para ser mais rápido. E para evitar mais loiça suja. Então, depois de os legumes estarem cozinhados, junta-se o leite e a manteiga. Deixa-se aquecer e mistura-se a farinha Maizena, até adquirir a consistência de creme. Tempera-se com sal e pimenta a gosto. Depois, pincela-se o tabuleiro de ir ao forno com um pouco de azeite. E junta-se orégãos. As folhas de lasanha a preencher o fundo. Mistura de legumes e creme e um pouco do queijo. Repete-se esta sequência até se acabarem os ingredientes. Finaliza-se com queijo mozzarella. E vai ao forno durante meia hora.

E ouve-se sempre aquele argumento. O de não se ter tempo. Para fazer uma sopa. Ou uma refeição que não seja de microondas. Não será só uma questão de tempo. Aí, qualquer mãe que trabalhe, sabe que nem sempre se está no auge da energia. No final de um dia cheio de coisas que cansam. Ainda assim, esta disciplina amorosa. A de fazer com que haja sempre uma sopa. E legumes de muitas cores. Que acabam por se transformar em coisas de que eles gostam muito. Vale a pena tudo, se sim.

12 comentários:

  1. Gostei muito do seu post e das suas receitas! Apesar de não ter crianças em casa, a sopa faz parte das refeições diárias e opto muitas vezes por comida mais à base de legumes. Creio que a questão de ter ou não tempo prende-se com estabelecer prioridades e organizar o tempo!

    ResponderEliminar
  2. É, realmente, preocupante. Cá em casa, a dieta mediterrânica há de continuar. O Manel ainda ontem se deliciou com uma massa com pesto. No fim, pediu mais. Se calhar publico hoje a receita. E sopa, todos os dias. Tal como tomate, azeite e fruta. Gostei das receitas que o António aprovou, especialmente da sopa de cebolinho. Um beijo e continuação de boa semana.

    P.S.: Espero que as nuvens (e todas as outras coisas "mais ou menos cinzentas" que pairam por aí) desapareçam depressa.

    ResponderEliminar
  3. O meu pai(o meu filósofo) costumava dizer, com alguma graça, que o Amor passa pelo estômago. Sabe que à medida que vou trilhando o caminho da vida, o vou compreendendo cada vez melhor?
    Realmente darmos o melhor(nem sempre o que mais gostam,nem sempre o que é mais fácil)aos nossos é um acto de amor. Fazermos com as nossas mãos,como diz a Mar,não pressupõe muito tempo, muito dispêndio de dinheiro ou menus afastados do que as crianças vêem os outros gostar.Hamburguers feitos em casa com legumes ralados são uma opção saudável e saborosa.Mas isto é uma questão que nos pode levar muito longe!
    Uma das coisas que me impressiona é ver, em dias de sol maravilhoso,crianças metidas nos centros comerciais a "brincar" em pequenos espaços, enquanto os pais esperam sentados como se estivessem a praticar o acto mais civilizado do século!É esta atitude que está a transformar a sociedade , o falso modernismo que todos começamos já a pagar bem caro!
    Cultivemos o contrário!Nem sempre é fácil mostrarmos esta face aos nossos filhos, mas conseguimos, se quisermos!
    Parabéns pela lucidez da sua filosofia de vida!Já lhe disse uma vez, e repito, que há-de fazer uma boa colheita!Dá trabalho prepará-la, mas ver que valeu a pena é a melhor sensação que os pais podem viver!
    Beijinhos
    Emília Melo

    ResponderEliminar
  4. O título deste post devia ser "Muito de uma dieta mediterrânica". Também já falámos sobre isto. Do facilitismo, do tornar as excepções como regras, da falsa desculpa do tempo. Tanta coisa (e saudável!) que pode ser preparada em 20 minutos! Foi um belo desfile de receitas saborosas, e com legumes. Muito disciplinada e generosa, a minha Mar. A apresentar 3 receitas de uma vez só!
    Um beijo
    Babette

    ResponderEliminar
  5. Olá Graça:

    Obrigada. Por ter gostado do post. E das receitas de que o meu filho gosta muito. E sim, é uma questão independente do facto de se ter crianças ou não. Tempo ou não. Muito de prioridades. A minha prioridade é a de procurar aquilo que faz bem. O que se aplica a muitos domínios. A este em particular. O de fazer bem pela comida. Muito básico, este princípio, não é? Mas tem resultado.

    Um beijo para si. De obrigada pelo seu comentário. É a primeira vez que tenho a graça de ter uma Graça no meu blog:)

    Mar

    ResponderEliminar
  6. Olá Ilídia:

    A sopa é, seguramente, uma das melhores coisas que tenho feito pelo meu filho. Desde muito pequeno. Lembro-me das consultas no pediatra, em que dizia que ele não comia determinadas coisas. A resposta era sempre a mesma pergunta: se comia sopa todos os dias. Que estava tudo bem se sim. E para não falhar nisso. Em conversas, ia-me apercebendo que assim que as crianças começavam a comer outras coisas, a sopa deixava de haver. Fui e sou obstinada nisso. E acho que é bom preserverar nesta firmeza amorosa. Tem bom gosto, o seu menino. Massa com pesto é uma variação óptima! Massa verde, como diz o António:)

    Um beijo para si.

    PS: As nuvens negras dissiparam-se ao final da tarde. Literalmente. E interiormente também. Um dia com exames médicos. Desgastante. E com demasiadas restrições pelo meio. Mas estou bem, agora. Obrigada pelo carinho preocupado:)

    ResponderEliminar
  7. Olá Emília:

    O seu comentário introduz muitas questões. A de o amor passar pela comida. Muito. O subjacente a cada um dos meus gestos na cozinha. Mesmo que esteja cansada. E estou muitas vezes. Não sou de mascarar a realidade. É difícil, por vezes. Era mais prático ir buscar comida fora. Feita por outras mãos. Ou dar instruções a uma empregada. Ou ter embalagens de comida com venenos incompreensíveis no congelador. Não a isso. Um não quotidiano a isso. Ainda que me canse. E não é assim tanto. Não custa assim muito partir vegetais. É uma tarefa que se cumpre com prazer, de tão terapêutica. E fazer uma sopa. Juntá-los a uma massa fresca. Ou fazer uma tarte. Ou muitas outras coisas.
    E isso dos divertimentos bovinos, falsamente modernos. O António não gosta de centros comerciais. Desde cedo. Eu e o meu marido vamos por motivos muito concretos: Fnac, Area. Pouco mais. Procuro fazer as compras de legumes em mercados pequenos aqui perto. Ocorreu-me agora o Mercadinho da Cerca, da minha Dª Alice. Com legumes de produtores locais. Alguns cultivados por ela. Aos sábados há pão feito pelas mãos da Dª Alice. E isso faz-me bem. Pão escuro feito por ela. Ainda quente, às vezes.
    Escrevi que não gosto de discursos virtuosos. E não. Falho inevitavelmente. De vez em quando permito sumo. E doces. Talvez por também não apreciar extremos. Podem virar-se contra nós, os extremos. Ou pior, contra eles. Contra os nossos filhos. Porque às vezes não dão margem a que se aprenda de uma maneira consistente.
    Aprendo muito consigo, sabia? E gosto muito de a ler. Espero que sim, que o meu filho seja fruto de coisas aprendidas com amor.

    Um beijo.

    Mar

    ResponderEliminar
  8. Uma boa margem, essa dos 20 minutos. Porque acaba por ser o tempo médio de preparação de qualquer uma destas receitas. Menos, em alguns casos. Como nas tuas saladas desta semana. Num ápice, coisas boas feitas pelas nossas mãos. Apeteceu-me dar três maneiras de contrariar os números que me causaram uma perplexidade enorme. Porque dá para contrariar. Resulta é de um exercício de vontade. E de alguma disciplina. Nem sempre fácil.

    Um beijo para ti. Que fiquei um bocadinho mais tranquila, depois dos exames que me fizeram passar fome:) Vinguei-me com um jantar mediterrânico.

    Mar

    ResponderEliminar
  9. Só a Mar para me fazer estoirar de rir no fim de um dia de trbalho tão intenso! Adorei essa dos divertimentos bovinos!!!
    Beijinhos
    Emília Melo (sempre a enriquecer-se com a competência expressiva e discursiva da minha Mar).

    ResponderEliminar
  10. Olá outra vez:)

    Ainda bem que a fiz rir. Depois de publicado, pareceu-me que o meu lado cáustico tinha exagerado:)Mas mantenho-o. Divertimentos bovinos. Passivos. Mesmo de passar o tempo. Com um quê de ruminação angustiante.

    Outro beijo para si. Da sua Mar:)

    ResponderEliminar
  11. Ola Mar,

    Mais uma vez mesas lindas. Com louça linda. Os pratos azuis da côr do Mar. Em que loja os comprou? são Bordalo Pinheiro?

    Beijinhos para a Mar

    Maria José Duarte

    ResponderEliminar
  12. A minha Maria José:)

    Já me tinha lembrado tantas vezes de si. Muito a propósito das mesas. Já viu como são as coisas? Afeiçoamo-nos a pessoas sem rosto.
    Os pratos azuis são Bordallo Pinheiro. Trouxe-os das Caldas da Rainha, da loja da fábrica. Por ter achado linda a cor que é de mar:)Obrigada por continuar a gostar das mesas.

    Um beijo da Mar. Para a Maria José.

    ResponderEliminar

AddThis