24.03.18 ♡
















No próximo sábado, terei a alegria enorme de estar junto da Sofia, do lugar cheio de sol que é o Às 9 no meu blog, a apresentar o segundo livro dela. Guardei a data, quando recebi as palavras, a perguntar se sim. E sim, claro que sim. Com todos os óbvios, a começar pelo mais óbvio de tudo: eu não ser assim importante, numa formulação simples e imediata. Reconhecível e reconhecida o suficiente para isso de ir apresentar o livro de alguém que é reconhecível e reconhecido. Mas fiquei (muito) feliz. E, às vezes, é só mesmo disso que se trata: ficar feliz ao ponto de as palavras não serem as suficientes para o dizer. Em todo o caso, os ingleses têm uma palavra que até tenta dizer essa alegria imediata. Embrace. Aquilo de nos decidirmos a ir, a fazer, a viver qualquer coisa sem ma(i)s. Creio que se trata, acima de tudo, de acreditar. Nós acreditarmos, em primeiro lugar. E, muito importante: que alguém acredite em nós. Há sempre a tónica em nós acreditarmos em nós. E, claro que sim. Mas é tão bonito e tão grato que alguém nos diga que acredita em nós. Essa é uma dimensão muito esquecida, mas eu gosto de a lembrar. É bom sentirmos que há momentos em que é só para sentir gratidão. Momentos em que nos sentimos abraçados, envolvidos por esse dom imenso. Por isso, no sábado, às quatro da tarde, sei que estarei envolvida por essa noção, por essa alegria. E que darei o meu melhor pelo livro cheio de esperança que é o livro da Sofia. O livro que recebi aqui, com as palavras dela dentro. Num dia de muita chuva, lembro-me. E, de repente, não. Só havia sol. Guardo as palavras para o dia. Bom assim. Mas esta alegria. Agora aqui. E no sábado, na Bertrand de Viseu.   
Esse é o fio destas páginas, bem vistas as coisas. O fio invisível da gratidão que procuro tornar visível. As imagens, as palavras, os sítios. Tudo a obedecer a uma lógica interior e silenciosa que conta essa história contínua de como tanto das nossas vidas é afinal tão grato. A começar pelo mais essencial de tudo, aqui: a comida. O lugar onde tudo começa, onde tudo encontra resposta não sei como. 
Como esta receita. Olho para as imagens e sei que é uma daquelas minhas coisas de fazer no fim-de-semana. Mais no Domingo. Mais no jantar de Domingo, para ir ainda mais ao encontro do que é. Porque é o tipo de comida para ser feita com aquela coisa boa de quem aproveita tudo até ao limite. O tempo bom de calma e de respiração que é tão dos Domingos. Tudo bem que nunca se sabe o que vem depois dessa calma e dessa respiração. Tudo bem que não é fórmula infalível para lidar com todos os imponderáveis que são, por definição, impossíveis ou difíceis de antecipar. Mas há sempre tanto a fazer com o que está a acontecer no momento. Decidir fazer este polvo em vinho tinto num Domingo de chuva é uma dessas coisas que é tanto. E tão bom:) Porque é para se fazer com cebola vermelha. Com todas as outras variantes não há aquela densidade, aquelas tonalidades quentes, aquela espécie de caramelização que sempre acontece quando as cebolas vermelhas vão ao forno com uns quantos ingredientes mágicos. 
Fica uma das receitas possíveis para os jantares de Domingo. Uma hipótese de nos concentrarmos, inteiros, no caminho até chegar à densidade quente deste polvo com cebolas vermelhas e (muito) vinho tinto. Com imagens soltas do tal caminho e desta Primavera a começar. Mais uma das minhas plantas suculentas, plantada no dia do Equinócio da Primavera. E as flores a abrir caminho, no lugar improvável que é o parque de estacionamento de um supermercado. Tinha de parar e guardar, quando saí do carro e vi aquelas flores. Ficam aqui, que são metáfora da força invencível que são as estações a seguir em frente. Sempre. 

Polvo em vinho tinto com cebolas vermelhas

2 polvos médios (congelados, com cerca de 1,5kg cada) + 4 cebolas vermelhas + meio litro de vinho tinto + 5 dentes de alho (inteiros, esmagados com um pouco da casca) + sal, azeite, salsa picada q.b. 

Primeiro, deixa-se descongelar os polvos, mas não completamente, para ser mais fácil partir em pedaços. Depois, parte-se e leva-se ao lume com um fio de azeite e nada de sal. Depois de levantar fervura, reduz-se o lume e deixa-se estar durante cerca de meia hora (convém testar com um garfo, para ver se oferece resistência). Decorrido este tempo, usa-se uma escumadeira e transfere-se para um escorredor e passa-se de imediato por água fria, para suspender a cozedura. Reserva-se a água de cozer e acrescenta-se água, até que deixe de estar salgada, que é o que acontece quando cozemos polvo desta maneira. Depois, as cebolas cortadas em quartos, os alhos esmagados, um pouco de sal, o vinho tinto e um fio generoso de azeite. Vai ao forno durante cerca de meia hora, mexendo-se uma ou duas vezes durante o tempo de forno. Quando faltarem uns dez minutos, pode acrescentar-se tomate-cereja em rama (mantendo a rama, por causa do sabor). Entretanto, faz-se o arroz. Um fio de azeite numa panela, o arroz bem envolvido e "frito" durante uns segundos, bem envolvido no azeite com uma colher de pau. Depois, a água de cozer o polvo, previamente fervida. Mexe-se uma vez e deixa-se evaporar a água. Quando sim, salsa picada no momento. Serve-se de imediato. E sim, com vinho tinto. 

A música é esta. Para a Sofia. Porque (sei que) sim. 

4 comentários:

  1. E como eu queria estar em Viseu no sábado para vos ver e ouvir. Duas pessoas luz que admiro tanto ��

    Um abraço forte querida Mar!

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    1. Tão linda, querida Vera. Obrigada. Muito. Iria gostar muito. Sei que sim.

      Um abraço forte para ti*

      Mar

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  2. Lindo post.
    As cores do polvo e do estrear da Primavera, que tu apanhas sempre assim de uns lugares improváveis :)
    E lindo que foi ver-te com a Sofia e o seu livro, na Bertrand. Foi tudo muito fluído, como eu acho que só poderia ser. As tuas palavras foram super carinhosas, como só tu consegues. Foi muito feliz aquele encontro de gente luz, como diz a Vera.
    E o teu cabelo estava fixe, e eu gostei de ter dado a dica.
    Desculpa só hoje dar noticias, já to devia ter dito, como foi bonito, o sábado à tarde.

    Um beijo,

    da Pipinha

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    1. As coisas estão por todo o lado. Acontecem, improváveis, onde menos se espera. As boas. E as más, também. Mas estou mais atenta às boas, creio. E tu, mais do que eu, nisso da beleza em sítios onde parece que não há nada.
      Foi muito lindo, sim. E a Sofia volta no final de Abril. A Viseu e aos nossos sítios:) O meu cabelo está sempre uma indisciplina só:( Só a (nossa) Jane é que compreende o espírito. Falamos logo:)

      Beijinhos*

      Isa

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