El Clandestino | Rua da Rosa.






















Sempre que me lembro deste lugar na minha rua preferida de Lisboa, é inevitável. A memória é imediata e do género de dar vontade de fazer quilómetros em minutos, para ir jantar ao El Clandestino. A comida ancestral e voluptuosa de duas geografias que me são muito especiais: o México e o Peru. Este sítio na Rua da Rosa cruza esses dois sítios lá longe. E é mesmo bom não ter de atravessar um oceano para poder comer ceviche naquele ponto delicioso de frescura e de acidez, beber um pisco sour irrepreensível e terminar com o sabor maravilhoso de churros com doce de leite, intercalados com mescal. A propósito desta sobremesa, é preciso uma espécie de advertência: não dá para não querer repetir:) Eu não sou dada a culpas de nenhum tipo, muito menos aplicadas à comida, mas se se desse o caso, queria lá bem saber das calorias e de mais não sei o quê. Por isso, repetir aquela taça morna de doce de leite e os churros estaladiços e delicados. Por isso, repetir (mesmo e muito) o El Clandestino. E sim, é um sítio que pede noite. Aquela meia luz boémia e a música pedem tanto que lá fora seja de noite e que o único compromisso seja estar ali sem pressas. Com o tempo que tudo o que é bom de viver nos pede.
A comida tem os seus efeitos. E a sensualidade mística da comida da América do Sul, ainda mais. Uma espécie de viagem, comida desta. Um apartar lento, que não pensa sequer em olhar para trás. Como no cinema, quando os planos são em travelling. Ou como quando estamos no meio das nuvens, dentro de um avião, a olhar para a abstracção retalhada que o mundo é afinal. Do El Clandestino trazemos memórias (muito) boas, como acontece com um destino pelo qual ansiámos e em que nos reconhecemos. E é tão bom quase não se precisar de talheres. Os códigos são ao contrário. É comida que quer a proximidade das mãos. Tortillas mergulhadas em guacamole. Tortillas para recolher os pedaços delicados de peixe branco e ligeiramente ácido. O único talher preciosamente necessário é a colher, mas só mesmo para o final da taça com doce de leite, para que não reste nada daquela delícia. 
É um dos meus lugares em Lisboa. E adoro que seja ligeiro e cheio de vida. É um bocadinho ruidoso, mas é o espírito do lugar. Adoro que as pessoas que ali trabalham sejam (muito) boa onda e que tragam para a mesa mais mescal e mais churros com um sorriso cúmplice. Adoro o painel cheio de casas com muitas luzes que não consegui fotografar como deve ser. E as paredes com versões random da Frida Kahlo. E aquela frase, no andar de cima. Donde no puedas amar, no te demores. Volta e meia, lembro-me dessa frase. Cada vez mais cheia daquele sentido maravilhosamente forte, vou reparando. Deixa lastro como um bom mescal. A propósito deste sítio deixo este programa do Anthony Bourdain. Uma visão complexa e muito completa do México e, para mim, um dos melhores da série Parts Unknown. Se Oaxaca não fosse desde há muito, um dos meus destinos míticos, passaria a ser, depois de assistir a este programa. A comida determina tanto do que somos, do que vivemos/queremos viver. 
E depois do El Clandestino, apetece o ar frio da cidade e ir caminhando. E ver as flores da República das Flores. Ir fazendo aquele caminho e saber que o faria de olhos fechados. E depois, só depois, entrar num táxi e ir para a minha casa em Lisboa. Tão bom que este lugar (e as pessoas deste lugar) tenham sobrevivido à queda do GES e a tudo o que já disse neste post. À espera, sempre um livro. O último do Ian McEwan. Há escritores que não implicam que se leia sinopses nem se vá ler críticas ou o que for. Vem connosco e lê-se e pronto. É o que acontece quando um dos nossos escritores escreve mais um livro. 
E sempre o dia seguinte, onde quer que se esteja. Café e torradas com manteiga no último andar, a ver a luz de Lisboa a acordar cedo como eu. E ir. No dia das imagens, em direcção a esta galeria, por causa da exposição deste fotógrafo. E o improvável de um cão amoroso numa galeria de arte contemporânea. Acabei por me distrair um bocadinho das fotografias que me tinham levado ali, para estar sentada no chão, a fazer carinhos naquela ternura:) Não foi tempo perdido e gostei muito do tal fotógrafo na mesma. 
Deixo o contacto do El Clandestino e a referência de que é (mesmo) necessária, a reserva. Especialmente se for sexta ou sábado. É este: 915035553

A música é do género de querer dançar. Muito. Mapei. Don't wait. 

10 comentários:

  1. Olá Mar! Como estás?
    Recentemente fui ao El Clandestino e também fiquei fã :)
    Adorei a Favela dos irmãos Marques e também fiquei com vontade de repetir, não a sobremesa dos churros mas La bomba!Deliciosa!!
    Também vi esse episódio do Bourdain (cujo programa seguia religiosamente); já leste o livro "Viva México" da Alexandra Lucas Coelho? Gostei imenso!
    Beijinhos Mar e umas Boas festas :*

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    1. Olá Dulce,

      Estou bem, sim. Espero que tu também. Bom saber que gostas deste sítio e do programa do Anthony Bourdain. Este sobre o México é particularmente bom. A crueza contemporânea, aquela comida voluptuosa e muito antiga e uma entrevista excepcional a uma mulher excepcional.

      A ver se repetes essa sobremesa:) E eu vou ver se resisto ao doce de leite e se experimento essa.

      Ainda não li esse livro, mas vou ler. Obrigada por lembrares.

      Beijinhos para ti. E boas festas. Obrigada pelos bons desejos.

      Mar

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  2. Ai esses maravilhosos sabores... e essa frase! tão especial também para mim. :)
    Um beijinho minha querida *

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    1. Estás perto destes sabores, ai longe:) Pelo que vi, ainda estás no Brasil. Cuida de ti e vive muito isso tudo. Rumo à Patagónia:)
      A frase da Frida Kahlo é bem especial, sim. E certeira.

      Um beijinho para ti também, querida Ana.

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  3. Minha querida Mar,
    So para te deixar um abraço apertado e dizer-te que ao ler as tuas palavras ESTIVE mesmo a saborear um ceviche, bebi pisco sour e comi churros. Tens o dom da palavra, sente-se tudo cá dentro!
    Beijinhos grandes
    Elisabete

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    1. Tão lindo, isso. Tão bom de ler/de saber. Obrigada, querida Beta. Muito.

      Um Natal maravilhoso para ti! Beijinhos.

      Mar

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  4. Querida Mar,

    Apesar de andar ausente do meu cantinho, por falta de inspiração e agora também, por uma avaria do meu computador. Não podia deixar de aqui passar. Quero-te desejar um Natal doce, junto dos teus, de quem mais amas e repleto de momentos felizes. Porque é o que interessa, sermos felizes e estarmos com quem mais amamos.

    Que seja uma noite bonita e cheia de luz. Cheia de paz.

    Um beijinho muito grande para ti, daqui de longe. ❤

    Cláudia

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    1. Minha querida, um mundo de coisas boas para ti. No Natal. Nos dias todos a haver. E volta, que sinto a tua falta, lá no teu lugar cheio de coisas bonitas e tuas.

      Feliz Natal, linda Cláudia!

      Um abraço quentinho*

      Mar

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  5. Bom dia, Mar.
    Apesar de não ser tão assídua como gostaria, não podia deixar de passar por aqui para lhe desejar um Feliz e Santo Natal na companhia de todos os que lhe são queridos. Faço votos para que 2017 seja um ano repleto de Paz, Alegria, e Saúde e que possa continuar a dedicar-se ao prazer de cozinhar, ler fotografar e amar.
    Mais uma vez, bem haja por partilhar tanta beleza.
    Bjs
    Ana

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    1. Olá Ana,

      Obrigada pelo seu carinho. Pela lembrança. Pelos bons desejos. Pelas palavras que deixam lastro de coisas boas. Um Natal sereno e quentinho para si. E o melhor de tudo, nos outros dias todos.

      Um abraço muito grande!

      Mar

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