República das Flores.


















Todas as repúblicas do mundo deviam ser repúblicas das flores. E como nisto das utopias as coisas são à solta, as repúblicas das flores não deviam ser só metafóricas. Nas tais repúblicas-utopia, as palavras significariam mesmo. E então, haveria flores por todo o lado. Para onde quer que olhássemos, a lógica das flores.
Eu tenho um amor por Lisboa que não consigo dizer bem. Mas é assim como um amor. Porque quando amamos, o que quer que amemos ocupa um lugar à parte. É incomparável. E eu sinto assim em relação a Lisboa. Encanto-me muito com os outros lugares todos. Acho-os lindos e perco-me e ando muito e detenho-me em coisas extraordinariamente insignificantes e tudo aquilo que sempre nos encanta. Mas Lisboa tem um lugar em mim que mais nenhuma cidade ocupa. E sei disso desde a primeira vez que me perdi nela, por ir atrás de um gato pequenino que parecia que estava a chamar-me. Era muito pequena e achava que o mundo todo era uma espécie de país das maravilhas. Fui aprendendo umas coisas entretanto, mas a parte de mim que é uma espécie de Alice, está aqui, respira muito e muito bem:) Os gatos Cheshire das minhas Josefinas parecem ser sinal disso mesmo e fartam-se de andar comigo pelos sítios-maravilha. Um desses sítios é a República das Flores. E sinto a mesma coisa que sinto em relação a Lisboa: ocupa um lugar à parte. Há outras lojas lindas, há outros sítios com flores e com objectos misturados. Mas não são assim como a República das Flores. Não assim. 
Antes de tudo, as flores. O perfume sente-se na rua, ao passarmos. E não dá para passar pelas montras da República das Flores sem parar. Pode ser só um bocadinho, mas é um bocadinho que salva. Parece poesia. O lugar só por si, a objectologia muito particular, os tons terra e ocre do interior, o perfume a espalhar-se pela rua e a profusão de flores o tempo todo. E, além do mais, a loja das flores só fecha às dez da noite. E eu acho que essa hora é bem romântica, porque faz pensar em braçados de flores fora de horas, em coisas de momento, sem combinar ou sem estar a pensar muito (ou quase nada). 
Antes ou depois das flores, é difícil não deambular pelos objectos. Os copos, os pratos, os jarros e as jarras, as cerâmicas marroquinas, as velas, os tecidos e tantos outros objectos de que se gosta, mesmo que não se perceba logo para quê, para onde, porquê. Mas aquela coisa boa de sabermos de imediato que um objecto qualquer (nos) faz sentido. 
A República das Flores era na Rua do Alecrim e agora é na Rua da Misericórdia, no número 31. Lisboa não seria a mesma sem este endereço. Lisboa é linda, mas é ainda mais por nela existir este sítio. E então, no meio de muita gente, de muitos carros, de muita confusão, muitas muitas flores. Quando as flores nos acontecem assim, é uma espécie de poesia. E quando saímos da loja, as flores vêm connosco, a deixar lastro pela cidade, a ir connosco para onde formos. É que todos os sacos da República das Flores são perfumados. É um detalhe. Mais um dos muitos detalhes deste sítio. 
E mais uma coisa: já começou a magia violeta dos jacarandás nos céus de Lisboa. Junho é o mês auge dessa magia pela qual espero todos os anos como se fosse um acontecimento muito importante. E é. Até que é importante. Para mim, acrescento. Melhor assim. 

A música é esta. Ouvi-a pela primeira vez algures no Príncipe Real, numa noite bem especial. E ficou. Vaarwell, Branches. 


6 comentários:

  1. O encanto de um lugar tão bem revelado pelas suas palavras. Vou em breve a Lisbia e desta vez tenho mesmo que lá ir. Espero que os jacarandás ainda estejam em flor. Lisboa é mesmo especial. Na luz, nos sons, nos cheiros, na maneira como o sol nos bate na pele. Um beijo.

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    1. Olá Ana,

      Espero que sim, que haja o violeta dos jacarandás para si. Junho é o mês-auge dessa espécie de magia. Estive lá há uns dias e estava(m) no início. Por esta altura, devem estar lindos. Terei de ir a Lisboa daqui a uns dias e mal posso esperar por ver outra vez estas nuvens de flores.
      Este sítio tem um respirar muito particular. O encanto é a todo o momento. E claro, as flores. Tantas. Profusas e perfumadas e vibrantes. Um sítio que nos fica na pele. Assim como Lisboa.

      Um beijo para si. E dias lindos.

      Mar

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  2. Partilho contigo o amor por Lisboa. Adoro, adoro mesmo de coração. Já falei bastante de Lisboa lá no meu canto e nunca acho que é demais voltar a falar. Lisboa encanta, pela luz, pelo sol, pelas gentes, pelas ruas e edifícios antigos, por toda a história. Pelo rio que a emoldura, por tudo isto e muito mais. E pelo comércio, claro. Tem lojas lindas. Esta da república das flores, não conheço, mas adorei as fotografias. Gosto tanto deste tipo de lojas em que nos perdemos lá dentro, encantados... pelos objectos, pelas coisas bonitas e pelos cheiros. E que detalhe esse, dos sacos perfumados!

    Que sabrinas bonitas! ;)

    Gostei muito da música, que desconhecia. Deixo-te aqui, esta:
    https://www.youtube.com/watch?v=EoA1mCqdsVM&nofeather=True

    Que apesar de não ser (totalmente) portuguesa, acho tão bonita.


    Um beijinho grande para ti. E um bom fim de semana, cheio de sol, cheio de beleza. ♥

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    1. Olá Cláudia,

      Gosto (mesmo) muito de Lisboa. Desde pequena que é assim. Esse dado nunca me impediu de ficar encantada com outras geografias, mas sempre com a noção de que a luz de Lisboa é irrepetível e incomparável. Caminho imenso, volto a lugares, descubro outros tantos. E os rituais pequeninos. Cada um dos meus rituais.
      A República das Flores é um daqueles sítios que nos fica. Não te esqueces nunca. E sim, sempre a vontade de voltar. Há anos que é o que me acontece.
      Que bom que gostaste da música e das sabrinas dos gatos:) Obrigada pela música que fala francês, querida Cláudia.

      Um beijo. Muito sol e muitas coisas boas para ti.

      Mar

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    2. Gosto tanto desses rituais pequeninos. Tão especiais para nós, tão nossos. Lisboa é mesmo uma cidade maravilhosa. Gostei muito também, das tuas memórias. Tão bonito, o achar que o mundo é uma espécie de país das maravilhas :) Ainda bem que apesar de tudo, o que já viveste, de bom e de menos bom, essa Alice ainda respira, e bem ;)

      Gostei sim, as Josefinas são muito giras :)

      Outro beijo, Mar e desejo o mesmo para ti, de coração.


      Cláudia

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    3. Bom dia, linda Cláudia

      A Alice que há em mim está óptima:) Com ou sem as Josefinas dos gatos. Curioso que o Gato Cheshire seja uma das personagens mais encrípticas da história. Sempre me fascinou, especialmente durante a faculdade, nas aulas de literatura. As coisas nunca são (só) o que parecem.

      O meu coração também te deseja um mundo de coisas boas. Obrigada. Um beijo.

      Mar

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