Outra vez outro início. Com aquele respirar profundo e renovado dos inícios todos. E creio que isto é assim e pronto. Mesmo que até não sejamos ligados às datas, ao cruzar dos dias, aos significados, aos símbolos, aos rituais. Ainda assim, aquela nitidez de que os dias todos de um ano inteiro afinal correm vertiginosa e inapelavelmente em direcção àquele 31 de Dezembro. E muito, aqueles últimos segundos. Contados ao sabor de desejos e intenções e esperanças e vontades. Trata-se tanto de esperarmos pelo melhor. A esperança, cruzada com a energia poderosa e concentrada de um final-início que só naquela noite é possível. O passado a interceptar-se com o futuro e todas as promessas do mundo, nessa noite. Que e reticências. Que e reticências. Dizem as mensagens. Dizem as pessoas. Dizem os anúncios e os cartazes e as pessoas que falam na televisão. E isso é lindo, mesmo que repetido. Cada um desses que e cada vontade/intenção depois dessa introdução. Não há mal em querer bem. Não há mal em esperar pelo melhor. Para si. Para os outros. A tal energia poderosa, mesmo que sejamos cépticos e/ou pessimistas.
Esperar pelo melhor pode passar por procurar todos os vislumbres de extraordinário. Por mais breves e ínfimos que possam parecer/ser. Quando é assim, o extraordinário pode habitar tudo. A madeira de uma mesa marcada pelo tempo. Uns pratos largos e irregulares de que só eu é que pareço gostar muito. Os brilhos das velas na tal madeira marcada pelo tempo. Rebentos de eucalipto em copos de água. O sol do último dia do ano, fotografado a meio de um regresso que queria muito chegar a casa a tempo da luz última do ano. Letras de madeira a desenhar possibilidades de palavras na porta do frigorífico. Uma frase breve e certeira numa primeira página e como eu sou pelo pensamento anglo-saxónico e por cada um dos seus how to que desenriçam a vida um bocadinho:) A primeira refeição do ano, já de madrugada. Um brinde com chocolate quente, pãezinhos de leite com manteiga e sentir que era mesmo assim que queria começar. E as pedras que trago de chãos aleatórios. Umas vezes longe. Outras vezes perto. Os chãos podem ser todos sagrados, assim queiramos. Não têm necessariamente de ser longe ou de pressupor uma viagem exterior. Às vezes, são pedras daqui, do meu chão sagrado de cada um dos meus dias sagrados. Há aquele ditado das pedras que vamos encontrando nos caminhos. Aquilo de construir castelos com essas pedras. Eu passo a parte dos castelos. Fico-me por amar cada uma das pedras pequeninas que vou trazendo para perto de mim. Juntei-as num coração cartográfico. Um mapa interior, pessoal e muitas vezes silencioso. As pedras são a memória mais perto do chão dos sítios. Têm vida dentro, como se um coração pulsasse nelas. E isso também tem qualquer coisa de extraordinário, como cada um dos nossos dias sagrados.
A primeira receita do ano é assim simples e parece que não tem nada que saber. Mas especial. E vivida. Muito. Com aquela marca da vida de todos os dias. Comida que faz com que os dias normais sejam afinal sagrados. Porque um arroz pode ser especial e brilhar como se fosse comida principal e não acompanhamento. Porque o arroz é símbolo de muitas coisas boas. E assim, é como se aquela energia da noite em que o final e o início se confundem, se multiplicasse indefinidamente, feita arroz em água quente. Assim seja.
Arroz de molho inglês com bacon, cogumelos e ervas frescas
NB: Para que este arroz fique mesmo bem, há alguns detalhes a ter em conta. O arroz tem de ser carolino. O molho inglês deve ser "à séria". Já experimentei várias versões e cheguei à conclusão que nenhuma é tão boa como a original, esta. E este bacon delicioso.
1 cebola vermelha (pequena e picada) + 8 cogumelos marron (cortados em pedaços pequenos e não laminados) + 6 fatias de bacon (cortadas em cubos) + 2 colheres (de sopa) de molho inglês + 1 tigela de arroz carolino + duas vezes a medida do arroz de água quente + sal, azeite e as ervas frescas que quisermos (costumo usar coentros e salsa)
Leva-se ao lume um tacho com a cebola e o bacon, num fio de azeite. Deixa-se estar assim uns dois minutos, tendo o cuidado de mexer. Quando o bacon começar a "estalar", junta-se o arroz, envolve-se bem com uma colher de pau e deixa-se "fritar" uns segundos, sem deixar de mexer. A seguir, o molho inglês e envolve-se uma vez mais, durante uns segundos. Depois a água a ferver, um pouco de sal (menos do que a nossa medida habitual para arroz, por causa do bacon) e os cogumelos partidos. Mexe-se só uma vez, para que tudo fique integrado e deixa-se estar assim, até que a água evapore por completo. Uns segundos antes de desligar o lume, as ervas picadas por cima do arroz. Na altura de servir, mexe-se com uma colher de pau, para que as ervas se integrem no resto. É importante que este passo se faça pouco antes de servir, para que o verde vibrante das ervas não se transforme em verde-escuro-triste.
A música tinha mesmo de ser esta. The Cure. In between days. E dias bons. Muito disso de dias bons.
como gosto desta tua energia extraordinária, de como me transportas sempre para um lugar tão quente em mim, de como me identifico tanto com esse sentimento das pequenas coisas que trazemos para dentro de nós, para perto de nós, como as tuas pedras com coração. também gosto de pratos irregulares, tal como das vidas. adoro a tua pessoa e as coisas que amas. mil beijos e que sejam inícios de, se não de coisas, de promessas boas!
ResponderEliminarQue lindo, Vanessa. Mesmo lindo, isto que deixaste aqui. Obrigada. Fico feliz por esse(s) sentido(s) próximo(s). É recíproco, por aquilo que leio e vejo de ti, com esse dado bom de também gostares de pratos irregulares:) As coisas pequenas são muito. E estão por todo o lado. A história das nossas vidas é mais feita dessas coisas ínfimas que nos fazem bem sem data marcada ou reserva prévia.
EliminarAs pedras com coração são muito especiais. Mesmo muito. O respirar dos sítios de onde vieram. Escrevo o lugar e a data, mas creio que nem seria preciso, porque consigo olhar para elas e saber de onde as trouxe.
Um mundo de coisas e de promessas boas para ti, linda Vanessa!
Um beijo assim grande. Bom ano.
Mar
Também desejo o melhor para ti e é tão bom isso. Desejar bem a uma pessoa que não conhecemos de carne e osso, nem sequer a tonalidade da voz, mas esse facto ser totalmente irrelevante. Desejo-te o melhor com o meu melhor carinho.. e é tão bom isso.
ResponderEliminarA ti também, Mafalda. Muito, muito bem. Com o meu melhor carinho. Não sei como nem porquê. Mas é assim e pronto. E sim. É mesmo muito bom que seja assim. De acordo com esse espírito, eu.
EliminarUm 2016 muito bom para ti, minha querida! Cheio de momentos de felicidade. Que continuemos a ver beleza nas nossas pequenas grandes coisas do dia a dia. Acredito que a nossa felicidade depende muito disso.
ResponderEliminarE que continues a brindar-nos com posts bonitos como este :)
Um beijo grande,
Ilídia
Para ti também, minha linda:) O mundo precisa é de pequenas grandes coisas. O nosso próximo e o outro também.
EliminarO mesmo para ti, disso dos posts. O mais possível de coisas boas e de beleza e de encantamento.
Obrigada a ti. Um beijo.
Mar
Boa tarde, Mar.
ResponderEliminarÉ sempre tão apaziguador chegar aqui. Agradeço-~lhe, do fundo do meu coração, a paz, a harmonia e a esperança que me transmite. sempre. Hoje, em particular, este texto tocou-me muito. Bem haja.
Um Ano de 2016 com tudo de bom, com todo o bem que a Mar merece.
Bjs.
Ana
Boa tarde, Mar.
ResponderEliminarÉ sempre tão apaziguador chegar aqui. Agradeço-~lhe, do fundo do meu coração, a paz, a harmonia e a esperança que me transmite. sempre. Hoje, em particular, este texto tocou-me muito. Bem haja.
Um Ano de 2016 com tudo de bom, com todo o bem que a Mar merece.
Bjs.
Ana
Querida Ana,
EliminarE eu agradeço de coração esse bem todo e a maneira linda como aqui chega. A esperança salva-nos. Cuida do que em nós acredita que há por aí muita alegria e muita beleza. Fico feliz por também ler essa esperança aqui. É-me importante.
Um ano maravilhoso, Ana. Com todo o bem que lhe pertence.
Um beijo.
Mar
Muito cheio de coisas boas este teu post primeiro do ano. Cheio de palavras que dizem muito, de símbolos e de objetos. Palávras sábias as tuas.
ResponderEliminarFeliz ano, pelos teus caminhos. Que o meu e eu teu se cruzem sempre.
Beijos !
da Pipinha
E ainda bem que assim é. Muitas coisas boas, que é disso que se precisa.
EliminarPara ti também, minha linda. Um ano muito feliz. Que se cruzem sempre e muito, os nossos caminhos.
Um beijo grande.
Isa