Voltar.














A palavra voltar tem um duplo sentido, neste caso. Primeiro, significou voltar a este lugar especial. E depois, voltar ao lugar de todos os regressos. A casa. Com tudo o que os sítios nos deixam na pele. Este sítio, muito especialmente. Tem que ver com aquele verde silencioso, antes de tudo o mais. E com a comida. Tanto, com a comida. Já tinha falado nisso, neste post. De como obedecia às ressonâncias próprias das estações do ano. De como era delicada e aromática. Continua assim, um ano depois desse jantar. E é sempre bom confirmar que aquilo que nos soube bem permanece nesse espírito.
Voltar a esse lugar que será sempre lindo na minha memória, significa também a estrada. O caminho até lá. Como é inteira, a liberdade que se sente a conduzir. Imediata. Síntese da auto-determinação que pressupõe. Conduzir a nossa vida. Escolher uma estrada. Gostar muito de a sulcar. Chegar a um destino. Vivê-lo. Voltar aos lugares de sempre. Ou então, não. Outra possibilidade, essa. No meu caso, o que acontece sempre é não sentir a nostalgia do regresso. É antes uma alegria serena. Aquela ânsia que parece renovada a cada voltar. É assim que eu sei mesmo que voltei a casa. A partir do momento em que começo a fazer a minha comida. É aí. E aos livros. Que são tão liberdade quanto conduzir ou quanto fazer a nossa comida. Hoje, este. Do género de ler daquela maneira: com paixão. Para celebrar esse(s) regresso(s), a minha versão de cogumelos assados, com inspiração no restaurante do Palace do Bussaco. Servidos com batatas novas, ervilhas de quebrar e um ovo escalfado. A dar aquele tom supremo a mais uma receita muito elementar, mas que sabe bem como se fosse uma espécie de banquete íntimo.  

Cogumelos assados com batatas novas, ervilhas de quebrar e ovos escalfados

4 cogumelos portobello (grandes, que encham a mão) + 6 batatas novas (médias, cortadas em quartos) + 12 ervilhas de quebrar + 6 pedaços de bacon (uso sempre este) + 8 tomates de rama (pequenos) + 1 cebola nova (pequena) + 2 ovos + flor-de-sal, coentros, azeite e pimenta preta q.b. 

Corta-se o fundo dos cogumelos, coloca-se num tabuleiro, rega-se com um fio de azeite e salpica-se com flor-de-sal e com pimenta preta. Leva-se ao forno a 180ºc, durante 15 minutos. Entretanto, coze-se as batatas, cortadas em quartos. Enquanto as duas coisas estão a cozinhar, leva-se ao lume numa sertã a cebola, o bacon e um pouco de coentros, com um fio de azeite. Assim que a cebola ficar translúcida, retira-se e reserva-se. Quando as batatas estiverem quase cozidas, acrescenta-se as ervilhas, que devem cozer durante três minutos, para não arruinarmos aquele verde delicioso e crocante. Assim que estiverem prontas, escoa-se e tempera-se com flor-de-sal, um fio de azeite, coentros e um pouco de vinagre. Mistura-se os temperos e reserva-se. Decorridos os 15 minutos, retira-se os cogumelos do forno, cobre-se com a cebola,  com o bacon e com os coentros e coloca-se no tabuleiro os tomates, cortados em quartos. Vai ao forno durante mais 10 minutos. Retira-se do forno e coloca-se os cogumelos por cima das batatas e das ervilhas. A seguir, com uma colher, cobre-se com os tomates e parte dos sucos que estão na assadeira. No final, o ovo escalfado e um polvilhar ligeiro de pimenta preta. 

A banda sonora é electrónica. Xinobi. Real Fake. 


9 comentários:

  1. Bom dia Mar,

    Uma coincidência daquelas este post! Não tenho muito o hábito de preparar nada para entrada mas, ontem deu-me para "inventar" uns cogumelos salteados.

    E o livro que apresenta foi o último que li. Não conhecia o autor e gostei muito.

    No entretanto e na sequência do post anterior, fiz uma salada de tomate com queijo inspirada na sua. Desconfiei que fosse feta mas, usei requeijão. O feta fica infinitamente melhor, sem dúvida. E coloquei manjericão.

    Ando cá com umas ideias para experimentar as salsichas frescas assadas no forno. Depois dou conta do resultado.

    Em relação ao seu filho, continuo impressionada com a maturidade dele aos 10 anos. Os meus sobrinhos/afilhados têm 9 e não os imagino a apreciar esse tipo de filmes. Suponho que, tal como na comida, por exemplo, tenha a ver com o que é lhes transmitido. Eu nunca pensei em leva-los ao cinema para ver um filme de adultos, só de animação.

    Recentemente fomos ver "O Coro". Tinha sido uma boa aposta, creio.

    As suas fotografias fizeram refrescar o ambiente, com tanto verde!

    Um beijo do Algarve, quase no fim da semana,

    Sandra Martins

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    1. Boa noite, Sandra

      Cogumelos destes são um recurso infalível e cheio de possibilidades. Tenho sempre a jeito, no frio. A verdade é que podemos fazer uma espécie de festa, com coisas destas. E sim, salteados é o mais frequente, no meu caso.
      Este é um dos meus escritores de eleição. Do género de nem olhar para a sinopse. As duas palavras do nome dele são o suficiente.
      E a ver se experimenta as salsichas frescas de que o meu filho gosta tanto. Agradeço isso de dizer. Eu gosto de saber.
      Não sei bem, nisso do meu filho. Claro que o meio influencia, mas parece-me que o caminho é mais de cada um. Os pais podem fazer o melhor e ainda assim, não corre bem. É uma espécie de lotaria. É um miúdo normalíssimo, acredite. Embora para mim, seja o que imaginará de amor.

      Quase no fim-de-semana:) Um beijo para si.

      Mar

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  2. A tal coincidência que ficou por ver, não sei como...
    Falaste - me do restaurante com o mesmo entusiasmo da primeira vez. E inspirou - te igualmente. Que bom. Ainda não tenho este livro do Ian McEwan. Comecei a ler este autor por ti ;) E gosto muito.
    Bj
    Babette

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    1. Achei piada, quando vi o teu post:) Este restaurante é mesmo de comer e de querer mais. E a ementa deve ser um paraíso para os vegetarianos. Comida com alma e sem lastro daqueles ingredientes cheios de manias.
      É muito bom, este livro. Li com sofreguidão que não quer dormir, para não suspender a leitura.

      Um beijo.

      Mar

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  3. Boa tarde, Mar.
    Tão bonitos e verdejantes os caminhos das idas e dos regressos. A zona do Bussaco lembra-me a minha mãe. Era um dos seus destinos favoritos.
    Gostei muito da receita, também não é de admirar, adoro cogumelos e ovos nem se fala! A experimentar nesta versão. Por falar em coincidências, o meu almoço de ontem foram cogumelos estufados, em cima de fatias de pão torrado. Modéstia à parte, estavam ótimos.
    Bjs
    Ana

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    1. Boa noite, Ana.

      Esta estrada é uma das mais bonitas que já fiz. Tão fresca. Com aquela mística das estradas nacionais. Quando se gosta tanto de conduzir, como acontece comigo, mais ainda.
      É comida maternal. E com a magia dos ovos escalfados, que fazem com que o prato mais humilde brilhe. Fiquei a pensar nisso de cogumelos estufados. Só faço nessa versão na altura dos míscaros. Mas acho que fiquei com umas ideias, graças a si:) Obrigada. Feliz, por esse seu almoço óptimo. Haja coisas boas, que é o que é preciso.

      Beijos.

      Mar

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  4. Boa tarde, Mar.
    Tão bonitos e verdejantes os caminhos das idas e dos regressos. A zona do Bussaco lembra-me a minha mãe. Era um dos seus destinos favoritos.
    Gostei muito da receita, também não é de admirar, adoro cogumelos e ovos nem se fala! A experimentar nesta versão. Por falar em coincidências, o meu almoço de ontem foram cogumelos estufados, em cima de fatias de pão torrado. Modéstia à parte, estavam ótimos.
    Bjs
    Ana

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  5. Por falar em livros e em regressos ... para quando um livro de receitas escritas com este tempero que só tu sabes dar às palavras? :)
    Dulce

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    1. Olá Dulce,

      És uma querida:) Gostava muito. Mas o mundo não é feito daquilo que nós "gostávamos" muito, pois não? Ganhei uma série de medos. Tinha de os ultrapassar e de me submeter outra vez aos processos penosos associados. Obrigada. Vou guardar isto que escreveste. A ver se deixo de ter medo de editoras e assim.

      Mar

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