Muito provavelmente.











Creio que, muito provavelmente, esta será uma das receitas mais elementares que aqui fica. E mais modesta, acrescento. E eu gosto que assim seja. As cozinhas íntimas são feitas de muitas histórias destas. Comidas rápidas, acessíveis, fáceis de fazer e, o mais importante de tudo: que nos façam felizes. Esta é uma dessas coisas. E é uma das comidas preferidas do meu filho.
Olhar para isto, há-de fazer sempre com que evoque os reminders amorosos dele, a meio do dia, em forma de mensagens de texto no meu telefone. É sincopado nas comunicações, Vai ao ponto. E os pedidos dele são todos tão assim neste espírito. Tirando os livros de banda desenhada que colecciona como se se tratasse de alta relojoaria, os pedidos dele cingem-se a coisas destas. E nunca deixo de me surpreender interiormente com o facto de ser tão inteiro a juntar livros de super-heróis e tão intenso na admiração pelo homem que é, para ele, o verdadeiro herói. Desde que viu este filme, que o Stephen Hawking se transformou na personagem suprema. E então, ao mesmo tempo que me diz que quer ser físico quando for grande, vai fazendo pedidos destes. Salsichas frescas, neste caso. Adora-as, tal como diz a receita. Assadas. Com molho inglês, cenouras e aipo. Associadas a spaghetti. E é vê-lo feliz sem mais. 
Fica a tal receita humilde e elementar. Mas que dá tanto. A começar por aquele detalhe fundamental, especialmente nos dias de semana: tempo. Dá tempo para respirarmos um bocadinho, mesmo que cheguemos a casa no limite. É uma daquelas coisas de cortar, de colocar numa assadeira, de levar ao forno e de esperar uns minutos. Meia hora, neste caso. Serve-se e é alegria instantânea. Costumo associar a uma salada fria e variável, consoante o que apetece no momento e a alguns legumes mornos. E quase sempre, a spaguetti com molho de tomate, por ser assim que o meu filho mais quer. Merece esse e outros mimos, o meu filho único
Fica a mesa dessa comida. Mais a luz desse jantar. E o chá que apazigua os finais dos dias. Umas hastes do limonete ali do jardim, água bem quente. E está. Um chá tão humilde quanto a receita que fica hoje.  

Salsichas frescas assadas com molho inglês, aipo e cenouras

10 salsichas frescas + 2 colheres (de sopa) de molho inglês + 2 talos de aipo + 2 cenouras + 1 pitada de flor-de-sal + meio copo de água + azeite e pimenta preta q.b.

Parte-se as salsichas em três partes iguais e coloca-se numa assadeira. Corta-se o aipo e as cenouras e coloca-se por cima. A seguir, a flor-de-sal, o molho inglês, o azeite e a pimenta preta. Vai ao forno a 180ºc, durante meia hora. A meio do tempo, acrescenta-se o meio copo de água, mexe-se um bocadinho e leva-se ao forno até findar o tempo. 

E uma versão de uma daquelas músicas eternas. Twin Shadow. 

9 comentários:

  1. Bom dia, Mar.
    Como eu a compreendo nisso do filho único e na admiração que se sente por estes seres que nos preenchem a vida. E, então quando são meigos, cúmplices e amorosos, é uma felicidade. E como gostamos de os mimar. E quando os pedidos são fáceis, melhor ainda.
    Esta é uma receita que os meu filho único e o meu marido irão gostar de certeza. E, apesar de eu não comer, já a anotei para lhes fazer, porque sei que irão gostar das salsichas que a Mar faz para ver o seu filho único feliz. Acompanho-a no chá de limonete.
    A mesa, como sempre, lindíssima. Adorei o tabuleiro.
    Bom fim de semana.
    Bjs
    Ana

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  2. Bom dia, Mar.
    Como eu a compreendo nisso do filho único e na admiração que se sente por estes seres que nos preenchem a vida. E, então quando são meigos, cúmplices e amorosos, é uma felicidade. E como gostamos de os mimar. E quando os pedidos são fáceis, melhor ainda.
    Esta é uma receita que os meu filho único e o meu marido irão gostar de certeza. E, apesar de eu não comer, já a anotei para lhes fazer, porque sei que irão gostar das salsichas que a Mar faz para ver o seu filho único feliz. Acompanho-a no chá de limonete.
    A mesa, como sempre, lindíssima. Adorei o tabuleiro.
    Bom fim de semana.
    Bjs
    Ana

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    1. Olá Ana,

      Essa referência explícita ao "filho único" tem que ver com o facto de considerar rasteiras e extremamente cruéis as alusões aos filhos únicos e aos pais dos filhos únicos. Como se esse dado definisse de imediato aquilo que a pessoa é. No fundo, é tão injusto como julgar alguém pela condição social ou pela compleição física, por exemplo. Só que passa melhor socialmente dizer que as pessoas devem ter mais do que um filho. Já ouvi as argumentações mais hilariantes, a esse propósito. Chamo-lhes as teorias do segundo filho. O filho-brinquedo para o mais velho. O filho-substituto, para o caso de acontecer alguma tragédia. Já ouvi coisas destas e rebato-as sempre, obviamente. Na mesma medida, creio que é só terrível dizer a uma mulher que tem de ter filhos. Há mulheres que não querem ter filhos. E há mulheres que querem ter filhos e que não podem. Tenho um respeito enorme pelas duas circunstâncias. Alarguei-me um bocadinho nisto, mas é para dar mais densidade à expressão que usei no post. Que tem um duplo sentido, de resto. Mesmo que tivesse quatro ou cinco filhos, cada um deles seria meu "filho único".
      O meu filho gosta muito desta comida. Seria artificial falar disto sem falar dele. Com a sobriedade de que ele gosta. Esteve a ler o texto, ontem e veio ter comigo com aquele jeito muito dele de dizer e de fazer as coisas.
      Obrigada pela sua maneira de gostar. Creio que nunca agradeço o suficiente. Um bom fim-de-semana para si.

      Um beijo.

      Mar

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  3. Não sei se é assim tão elementar a receita que aqui deixas. É que vem com palavras ternas e imagens muito bonitas. Tudo isso era para ficar aqui...
    O prato amarelo com flores é lindo!
    Babette

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    1. Olá Babette,

      É tudo uma questão de tempero. E sim. Um amor sem medida. É disso que se trata. Ontem à noite saímos só os dois e foi tão bonito. Vinha a pensar nisso, enquanto conduzia e enquanto ele dormia.
      Ficam muito bem, estes pratos. Gostei deles mal os vi. Vieram da Area. Também há em verde.

      Um beijo de bom fim-de-semana!

      Mar

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  4. Olá Mar,

    Sabe o que me fez lembrar o seu post? A mim que não tenho filhos?

    Aquelas conversas entre mãe e filho, quando eles já estão na cama, naqueles instantes antes de adormecerem.

    Todo o post é dedicado ao seu filho, numa "conversa" vossa, que só vocês compreendem. Ou que ele compreenderá, daqui a uns tempos. Foi o que senti.

    Entro então de mansinho, para agradecer a partilha da receita. Andava há tempos á procura de uma receita de salsichas frescas assadas no forno. Cá está ela!

    Posso perguntar que idade tem o seu filho? Fiquei admirada por ele ter maturidade para ver e apreciar um filme como o "Teoria de Tudo". E sensibilidade para compreender.

    Para finalizar, queria perguntar se o queijo da salada é fresco. Com manjericão?

    E não posso deixar de mencionar os pratos, achei muito bonitos e pela resposta que deu á Babette, já sei que há em verde, a minha côr favorita na cozinha.

    Um beijo do Algarve, com muito calor

    Sandra Martins

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    1. Olá Sandra,

      Ele leu. E gostou. E essas conversas de que fala são mesmo íntimas. Tanto, que há coisas que só me conta a mim e que eu guardo comigo.
      Tem dez anos, o meu filho. E é um miúdo normal, apesar de ser um bocadinho alto. Gosta tanto de basket como de xadrez e sim, muito de filmes. Vai ao cinema connosco, ver o que nós vamos ver. Está a construir-se. Seja o que for que venha por aí, tem um património com ele que ninguém lhe pode tirar: muito amor desde o início de tudo.
      Esta comida é bem simples, mas é do género de dar aquela alegria quase de criança:) A ver se sente o mesmo.
      O queijo da salada é feta e o verde é de orégãos frescos. Tenho um vaso lindo cheio deles, ali no jardim.
      Estes pratos foram uma paixão imediata. Trouxe os amarelos por causa desta toalha. Tinha-a há imenso tempo e parecia que ainda não tinham acontecido os pratos certos. Eram estes. Assim que os vi, percebi isso.

      Um beijo para si. Aqui também. Muito calor.

      Mar

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  5. Impossível ser uma receita humilde dado o amor que transborda da mesma...
    É tão bom ler coisas assim :)

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    1. É comida humilde. Mas com esse ingrediente que não tem medida. Obrigada. Sempre bom saber de coisas boas:)

      Mar

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