Sílvia.









Um ano é muito. Mesmo que isto seja só uma coisa de calendário e que até baste mudarmos de hemisfério para que o tal calendário seja diferente (ainda que infimamente), eu creio que não dá para não assinalar o facto de ser o último dia de um ano inteiro.
Eu estive a pensar nas coisas deste ano. Algumas fizeram com que eu quisesse desviar o meu pensamento delas, para não ficar triste. Outras foram registos mais ou menos indiferentes. E outras fizeram-me bem só de pensar. É assim mesmo. Por todo o mundo, haverá milhões de pessoas a fazer o mesmo exercício de reconhecimento ao contrário, por recuarem com a memória. E isto não é algo que me faça suspender a vida ou o que for. Estou a fazer as coisas de todos os dias e vou pensando. O registo é esse.
A meio desses pensamentos, este lugar que me é tão especial. Onde chego sempre com uma alegria renovada. Foi sempre assim. Mas mais este ano. E isso foi assim, graças ao trabalho de bastidores da Sílvia. E então, se eu já gostava de estar aqui, a partir do momento em que ela o renovou, passei a gostar mais. Numa analogia possível, foi como se uma casa onde eu gostava muito de viver, tivesse sido melhorada, renovada. Ela entendeu-me bem. Percebeu que era importante que me sentisse confortável, que isto fosse assim como uma casa. A minha casa. E o meu ponto é este: perceber coisas dessas não é para toda a gente. Sensibilidade, capacidade para ler os outros e traduzir isso tudo. Neste caso, num blog.
Quando pensei em mudar isto um bocadinho, quis que fosse alguém com quem eu não tivesse nenhum tipo de relação afectiva, que não conhecesse de lado nenhum. Não queria dados prévios. Quando me falaram do trabalho dela, fui logo ver e, a verdade é que me dispersei, a ler os posts dela. Sínteses muito felizes da tal sensibilidade de que falei há pouco, uma leveza discursiva que nos guia e que nos faz procurar ler mais, ficar mais um bocadinho. E sentido de humor. E atenção ao mundo. E uma verdade que é só dela, que lhe pertence por inteiro, como irrepetível que é.
Por isso, esta pessoa com um nome sibilante, é especial ao ponto de ser um texto inteiro, aqui. O último deste ano. Porque mudou este lugar. Há pessoas assim. As coisas são de uma certa maneira e, a partir do momento em que elas surgem, essas mesmas coisas passam a ser diferentes. E sim, melhores. Infinitamente melhores.
Para ela, o tal texto inteiro. E comida. Uma das minhas comidas de Inverno. E um vinho mineral. E música. E a minha vontade de que o próximo ano e todos os anos a haver, sejam aquilo que ela sonha e espera e desenha. Com aquelas cores muito Sílvia.
Deixo um dos textos dela. Este. A partir de uma frase escrita pela filha mais pequenina. E deixo o sítio onde estão os sítios todos que ela mudou.

E escrever sobre a Sílvia é escrever sobre todas as pessoas boas que acontecem aqui. Mais um ano. E isso é tanto. Por isso, mesmo que eu termine este ano com a sensação estranha de não conseguir pensar naquelas coisas de propósitos e de ambições, isso não me impede de querer muito que à minha volta, todos os sonhos de todas as pessoas possam acontecer todos os dias. É isso que eu quero. 

A receita da comida de Inverno que me faz feliz num instante, é esta. E é a última deste ano. 

Macarrão que junta o melhor de dois mundos

NB: A ideia desta comida é juntar o melhor de uma sopa ao traço reconfortante de uma massa (os tais dois mundos). Por isso, deve ficar caldoso e servir-se numa tigela ou num prato fundo. E sim, ideal para aqueles dias em que chegamos a casa e não há tempo para fazer sopa e prato principal. Bastam 15 minutos e há um jantar delicioso na mesa:) 

4 dentes de alho + 1 folha de louro + metade de um pimento vermelho + 1 cenoura + meio copo de vinho branco + 2 colheres de sopa de concentrado de tomate + metade de uma lata de feijão manteiga + 1 tigela de macarrão + couve portuguesa ou bróculos q.b. + bacon q.b. + 1 litro de água + 1 colher (de sopa) de Maizena (Express) + azeite, sal, coentros e pimenta preta q.b.

Leva-se ao lume os dentes de alho, o bacon, o pimento e a folha de louro (sem a nervura do meio), num fio de azeite. Deixa-se estar durante três minutos e acrescenta-se o vinho. Deixa-se evaporar ligeiramente e junta-se o concentrado de tomate. Mexe-se e deixa-se cozinhar durante dois minutos. A seguir, acrescenta-se água quente e deixa-se ferver. Quando começar esse processo, junta-se a massa e os bróculos ou a couve. Tempera-se de sal e deixa-se cozinhar durante uns cinco minutos. Depois, acrescenta-se as cenouras (cortadas em rodelas bem finas), o feijão e os coentros picados. Deixa-se estar durante mais uns cinco minutos e acrescenta-se água e sal, se necessário. Desliga-se o lume e acrescenta-se a Maizena, mais coentros e pimenta preta, quando for servido. 

E está. A última receita deste ano. Até às outras receitas todas do ano novo. Um mundo de coisas boas. E esta música. Fala de sonhos pequenos. Parece-me bem, falar de sonhos pequenos. 



12 comentários:

  1. Não sei bem o que dizer de um post destes, tão cheio de palavras, de sentimentos, de calor e afectividade. Não sei bem como se cozinha como tu, ou como se escreve de forma honesta e sentida, sem erros e com a pontuação sempre certa. Mas acho que sei como se sente as pessoas através dos ecrãs dos computadores. E neste caso sente-se. Deste lado sente-se bem a tua pessoa e o cheiro da tua comida. Obrigada Mar.

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    1. Linda Sílvia,

      Conseguiste dizer tudo o que é importante. Fico muito feliz pela maneira como recebeste isto. Estive para te enviar uma mensagem a pedir benção, antes de publicar. Mas depois pensei que era uma coisa boa, que queria dizer coisas boas a propósito de alguém bem especial. E as pessoas especiais são raras. Não queria que o ano terminasse sem este gesto modesto, que tu mereces bem mais. É o que eu posso. O que quis muito.
      E sim, tudo sentido. Não faz sentido que seja de outra forma. A vida já é tão cheia de dissimulações e de contingências. Nos afectos, devemos só ser livres. E dar liberdade.

      Um ano lindo. Cheio de tudo aquilo que tu mereces. Eu ficarei feliz por ti, a cada boa notícia.

      Obrigada a ti, Sílvia.

      Mar

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  2. Olá, Mar.

    Que homenagem tão bonita a uma pessoa que tornou o teu ano melhor. Muito bonito o teu espaço e o espaço da Sílvia, que já fui conhecer. Gostei de a ler e já guardei o endereço, para não me perder :)
    Que 2015 seja um ano feliz. Que continuemos a apreciar as coisas de todos os dias. Que continuemos a ser felizes.

    Um beijo,

    Ilídia

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    1. Olá Ilídia,

      A Sílvia é uma daquelas pessoas. Não nos conhecemos nem nada. Nunca estivemos. Mas há coisas que fazem o seu caminho, mesmo que seja um caminho diferente. Guarda bem esse endereço. Serão muitas as vezes em que te sentirás inspirada pelas coisas boas e lindas que ela partilha.
      E sim, que o caminho continue a ser o da felicidade. Com todas as declinações que ela permite.
      Um ano feliz, então. Que continuemos sempre a poder fazer comida.

      Um beijo.

      Mar

      PS: A tua encomenda express deve chegar não sei quando. Estou a ganhar raiva aos senhores dos Correios pós-privatização.

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  3. Terminar mais um ano a assinalar uma pessoa é muito lindo. Que bom que o fizeste. Sobre alguém que tornou esta nuvem ainda mais bonita. Já acompanho o blog da Sílvia há algum tempo. Sempre de forma silenciosa mas presente. Um bj às duas. E um ano muito feliz!
    Babette

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    1. Eu queria agradecer à Sílvia. É isso. Demorei tanto tempo até tomar a decisão de mudar isto. E gostei tanto do trabalho dela. Da maneira como entendeu o meu registo. Por isso, sim. Todo o sentido em assinalar, agradecer.
      E fazes bem em acompanhar as coisas que ela vai deixando lá no blog dela. Bem especial, aquele sítio.

      Um ano feliz. Muito. Mesmo que o meu espírito seja mais do género "a ver se sim". Tenho medo de pensar na possibilidade de coisas boas. E tenho pena que seja assim, que eu era tão diferente.

      Mar

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  4. Obrigada Mar. Obrigada Sílvia. Pelos textos que acabei de ler. Pela imensa emoção que me fizeram sentir.
    Que 2015 lhe traga saúde, paz, alegria, amor e inspiração para os textos tão bonitos, tão sentidos (desculpe o egoísmo, mas fazem-me tão bem as suas palavras...) e a realização dos seus sonhos grandes ou pequenos.
    Que a última noite de 2014 seja feliz e o amanhecer de 2015 sorridente.
    Bjs
    Ana
    P.s. Ontem não consegui inserir o comentário (azelhice pura), só gostaria de lhe dizer que me encantei com a procura da sua aluna, que bom que é quando os ex alunos procuram os professores, é sinal da marca que ficou. Gostei de saber que o seu filho já segue as pisadas da mãe, já faz as suas anotações. Lindo. E, finalmente, gostei da ideia do caderno novo. Faço votos que o preencha com coisas boas, porque as palavras serão sempre belas.
    Bjs
    Ana

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    1. Olá Ana,

      Obrigada a si. Fico feliz por sentir esse afecto. Muito. Devo dar graças por isso.
      Eu não tenho sonhos, Ana. Lamento. Fui sempre tão onírica, tão luminosa. Muitas desilusões que fizeram caminho. Quero que à minha volta estejam todos bem, com saúde, que ninguém me morra. E quero poder fazer a minha comida. É isso. Que os outros sonhem tudo aquilo que eu não consigo.
      Uma aluna especial. São sempre especiais, os alunos. E há alguns capazes de uma generosidade assim: especial.
      O meu filho gosta muito de escrever. Tem imensos cadernos e diz que quer ser escritor de histórias para crianças. E este mês foi publicado um livro com uma das histórias dele. Disse-me isso quando estávamos a entrar num supermercado, naquele tom boa onda muito dele. Por isso, ele está mais à frente da mãe:) Bom assim. Que a vida dele avance e que tome conta da alma dele.

      Coisas lindas para si, Ana. Um abraço grande.

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  5. Olá Mar,

    Quero deixar também os meus votos de que o ano que irá começar sirva para: dar continuidade a todas as coisas maravilhosas que faz, a surpreender, alegrar e tudo o mais que a faça feliz!

    Quanto ao post, a mim parece-me apropriado. Destacar a remodelação do blogue, pela importância que isso teve para si no ano de 2014.
    Homenagear a pessoa que a ajudou a conseguir isso é muito bonito! Mas, outra coisa não seria de esperar da Mar.

    Pelo que espreitei no blogue e pelo comentário que ela aqui deixou, também me parece que os elogios são merecidos.

    Um beijo do Algarve,

    Sandra Martins

    PS - A receita é daquelas "a fazer". Parece-me bem reconfortante!

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    1. Olá Sandra,

      Fazia todo o sentido ser este o post último de um ano que ficou marcado por essa mudança. E a mudança aconteceu graças ao trabalho e à sensibilidade de uma pessoa, a Sílvia.
      E sim, o lugar dela é um lugar onde queremos demorar-nos.
      Esta comida lembra-me a minha mãe. Quando começa o tempo frio, peço-lhe para me fazer destas massinhas na tigela. A versão dela é diferente. E sabe-me sempre tão bem.

      Um beijo para si. Um ano bom, Sandra.

      Mar

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  6. Olá! Acompanho o trabalho da Sílvia à distância e estou totalmente de acordo com o que dizes. Parabéns pelo post. É muito bonito.

    Bom ano!

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    1. O trabalho dela merece. Isto e muito mais. Competente, sensível, dedicada. Dava para continuar a enumeração. Que bom que gostaste de ler. É recíproco. Gostei imenso do teu blog e perdi-me a ler posts.

      Bom ano para ti também!

      Mar

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