Nuvem.











Este lugar é assim como uma nuvem. Flutua. Paira. Gosto dessa liberdade. E gosto tanto de deixar aqui a comida. De não a deixar sozinha. Gosto de saber ao que está ligada. A que pessoas. A que lugares. A que música que flutua. Tal e qual como uma nuvem. Paira, a música. Esta, muito especialmente. Faz um sentido enorme que seja esta a música associada à comida deste post. Um dos inícios mais bonitos, que tem. Não estou a falar das palavras. Da melodia. É da melodia. 
A primeira vez que ouvi esta música estava integrada num filme. Numa cena muito cheia. Uma mulher sozinha, depois de ter percebido que uma situação da biografia dela tinha chegado ao fim. Tinha estado a chorar a mágoa, mas depois lembrou-se que não precisava de estar sozinha, que queria ir ter com os amigos, a um bar de amigos. Bem naquele espírito americano, esse lugar. Não deixa de ser estranho, mas não faço a mínima ideia do nome do filme, do nome da actriz. Nada. Só essa cena e aquela melodia, a acompanhar-lhe os movimentos. Parecia tudo errado, nesses movimentos. Desastrosos, desajeitados, nervosos. Lembro-me que ela era muito bonita, mas parecia fazer tudo mal. Assim que essa personagem pára o carro em frente ao tal bar de amigos, o respirar dela e esta melodia. Depois disso, ela entra no tal lugar que lhe é amigo e um travelling final, a viajar pelo abraço que lhe deram, mal entrou nesse bar. Nunca mais me esqueci dessa cena, mesmo que me tenha esquecido de outras coordenadas. Mas guardei-a. E à música. 
Essas duas coisas ficam bem aqui. Perto de comida que fazia na faculdade. Frango com cerveja e funcho. Mais uma receita que acolhe, perfeita para fazer depois de dias mais ou menos complicados. Simples, rápida, sem grande sofisticação. Mas que parece ser comida que toma conta de nós, que nos conforta. 

Frango com cerveja e com rama de funcho

NB: Antes de aqui deixar esta versão, experimentei com cerveja branca e com preta. Ficou maravilhosa nas duas hipóteses. E o toque do funcho é imprescindível. Parece ter sido feito para esta comida. A sequência da receita também é para ter em atenção, que este é o género de comida que pode ficar insuportável e facilmente salgada. E nós não queremos nada disso:) 

4 peitos de frango do campo + 4 dentes de alho + 1 folha de louro + 1 cerveja + 1 pimento vermelho (doce e pequeno) + metade de uma malagueta vermelha + 1 colher (de sopa) de Maizena (uso Express) + sal, azeite, pimenta preta, bacon, água e rama de funcho q.b. 

Parte-se os peitos de frango em pedaços, depois de passados por água. Coloca-se numa taça e tempera-se. Assim: sal, um fio de azeite, metade da garrafa de cerveja, os alhos picados (com um pouco da casca), o pimento e a malagueta também picados, o bacon partido em cubos pequenos e o funcho. Mistura-se e deixa-se estar uns dez minutos. 
Decorrido este tempo, leva-se uma sertã ao lume, com um fio de azeite e deixa-se aquecer durante uns segundos. A seguir, coloca-se os pedaços de frango, reservando o tempero. Vai-se virando os pedaços de frango durante uns 5 minutos e, depois, acrescenta-se a marinada. Deixa-se cozinhar durante 10 minutos e acrescenta-se um pouco de água, porque o molho foi ficando mais forte e corre o risco de ficar com sabor a queimado e salgado. Depois de acrescentar a água, mexe-se e deixa-se estar mais 10 minutos. A seguir, junta-se a outra metade da cerveja e deixa-se apurar. Prova-se, para ver se está bem de sal e acrescenta-se mais água, se necessário. Junta-se a Maizena, mexe-se e retira-se do lume. Pouco antes de servir, mais um pouco de rama de funcho e serve-se bem quente. 

E está. Mais uma receita. Mais um bocadinho da minha mesa quotidiana a caminho do Natal. E mais uma música. Esta. 


12 comentários:

  1. Um blog, uma receita, uma música e quantas relações e conexões se estabelecem. Falar de comida já não é só dar uma receita. Cozinhar já não é só o cumprir de uma rotina para alimentar o corpo, alimenta, às vezes, mais a alma, com todas as conexões que permite.
    Ao ler esta receita de frango com cerveja, imediatamente me lembrei da alegria do meu filho quando, com nove anos, a professora lhes deu uma receita de frango com cerveja (muito diferente desta, mais simples). Quis experimentá-la. E experimentou-a uma e outras vezes. E ainda hoje, frango com cerveja é um pretexto para recordarmos os seus nove anos, a sua professora e outras histórias...
    Agora, um destes dias, vou fazer esta receita de frango (estou a descobrir o funcho) e, de certeza, que quando repetir a receita me irei recordar deste blog, desta música, deste belíssimo texto e dizer baixinho: "Obrigada, Mar".
    Continuação de uma boa semana, rumo ao Natal.
    Bjs
    Ana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Ana,

      Realmente, a comida não é só combustível. Não cumpre só uma determinada função/objectivo. Como tantas outras das nossas dimensões, de resto. Creio que acontecerá com toda a gente. A comida estar ligada a memórias muito imediatas. A pessoas, como no caso dessa receita significativa para o seu filho e para si.
      E sim, o funcho é uma daquelas coisas que carece de descoberta. Mas fica tão bem com os outros sabores desta receita. Mesmo bem. Ficam felizes, todos juntos:)
      É sempre de um carinho muito grande, Ana. Mesmo muito grande. Obrigada por isso.

      Uma boa semana para si. Até ao Natal. Está quase a acontecer outra vez. E é sempre tão diferente.

      Beijos.

      Mar

      Eliminar
  2. Olá Mar,

    Chamou-me a atenção a receita levar rama de funcho.

    É que eu gosto muito do sabor do funcho mas, tenho sofrido umas desilusões porque utilizo o bolbo e depois não sabe a nada.

    Enquanto estou a cortar, solta-se aquele cheirinho anisado mas, depois de cozido perde o sabor.

    Hei-de experimentar, não só por esse pormenor, toda a receita me agrada.

    Comida que abraça faz falta sempre e nestes dias tem feito mais ainda. Tenho sempre muito trabalho nesta época, por causa do fim do ano.

    Um beijo do Algarve e votos de bom fim - de - semana ( parece que com sol!),

    Sandra Martins

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Sandra,

      Esse aroma bom de que fala vive mais na rama do funcho. Curioso que não é intrusivo, nesta comida. Nós sabemos que há ali qualquer coisa de especial e que tem um verde lindo:)
      Fico feliz por dizer que há-de experimentar. Fico sempre. E sim, comida que é um abraço faz muita falta. E é melhor não falar de trabalho, que estou particularmente cansada. Mas o mundo está a uns dias de abrandar. O mundo acalma sempre, na noite de Natal. Deve ser a mais silenciosa de todas, creio.

      Um beijo para si. Com sol, sim. E frio. Mas sabe bem. Também gosto assim.

      Mar

      Eliminar
  3. Gosto tanto da relação que tens com este espaço. Nuvem. É isso mesmo. Faz-me sempre bem vir aqui, à tua nuvem... A receita é mesmo de experimentar... E as fotos todas, sem excepção, são mesmo de ver com atenção. Adorei a mesa posta com as velas acesas, as garrafas já vestidas para o Natal, o cuidado que se adivinha em tudo o que fazes...
    Beijo
    Babette

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Babette,

      É assim um registo de nuvem. Feito de coisas que eu faço existir num determinado momento e que depois desaparecem. Mas ficam aqui um bocadinho, feitas memória. Como as coisas que antecipam o Natal deste ano. Já mudei tudo outra vez. Só mantive as luzes e as velas. Parece que quero que sejam todos os Natais a haver. Não sei bem. Mas é assim que sinto.
      Obrigada pela atenção. Pelas tuas palavras.

      Um beijo.

      Mar

      Eliminar
  4. Um beijinhos muito grande com votos de Feliz Natal e um ano de 2015 maravilhoso!!

    Ah! É verdade, os desmoldante é ótimo. Comprei no Recheio em Viseu!!!
    Maria Jorge

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Maria Jorge:

      Um mundo de coisas maravilhosas para si também. E sim, o desmoldante foi uma bela invenção para as pessoas que gostam de fazer bolos.

      Um beijo muito grande. Um Natal bem feliz.

      Mar

      Eliminar
  5. É indiscutível. Há receitas que marcam momentos. Ao repeti-las fazemos uma viagem no tempo. Com as músicas o mesmo acontece. E, assim, com pratos e músicas transportamo-nos como que sem bilhete de regresso, ou melhor, sentimos flash-backs sempre sem ilusão de fim eminente. E disto são feitas as memórias.
    Que o espírito natalício seja como uma nuvem e que paire sobre todos nós, não apenas nesta quadra mas durante todos os dias do ano que se avizinha.
    Votos de Festas Felizes repletas de comidas reconfortantes e união.
    Beijinhos deste extremo português.
    Patrícia (foodwithameaning)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Patrícia,

      A comida e as suas analepses. Muito assim. Esta era comida que fazia na faculdade. Para o meu grupo de amigos. A maior parte das vezes, no epicentro de um caos de que gostava muito.
      Coisas lindas de Natal para ti também. Para os que estão aí contigo, nesse extremo português.

      Um abraço muito grande.

      Mar

      Eliminar

AddThis