Transição.







Eu sabia que seria assim. Interiormente, sabia que um alimento tão essencial como o pão, não deveria estar dependente da condição de ter ou não uma máquina qualquer. Por haver aí uma variável de negação que me fazia confusão, muito possivelmente. Além do mais, não gosto da ideia de sacrificar espaço na cozinha a favor de um electrodoméstico. E há a componente estética de não gostar desses objectos nas bancadas. De lhes adivinhar a parafernália de fios, os detalhes técnicos que me causam um tédio enorme. Prefiro a profusão das porcelanas e das cerâmicas nas prateleiras. A beleza e a eficiência das minhas panelas de ferro fundido. Os livros de cozinha num registo meio aleatório. As fotografias. As caixas de madeira com os temperos. 
Por isso, sabia que fazer pão seria assim como tem sido. Um gesto de todos os dias, com qualquer coisa de etéreo. A minha rotina de final de dia tem obedecido a uma sequência que me faz um bem enorme, de simples. Um pouco de farinha de milho nas mãos, para acolher pedaços de massa do tamanho de tangerinas. Bem perto, os orégãos que trago sempre do mercado de Lagos. E paio de porco preto ou bacon partidos em pedaços pequenos. Tão fácil e tão despretensioso. Bem no espírito da cozinha que eu amo tanto e tão quotidianamente. 
Como (quase) tudo o que nos faz bem, é libertador. Por dados tão simples como o facto de fazer pão no tamanho de que gosto, com os ingredientes que me apetecer, variados em cada ar de forno. Assim, à mesa, cada um escolhe o que quiser. Pãezinhos com orégãos. Pãezinhos com paio de porco preto. Pãezinhos com bacon. Ou pão. Também é uma hipótese, na mesa de todos os dias. 
E é isso. Fazer pão é assim fácil como vestir uma camisola confortável no final de um dia de Outono. Um ritual que nasceu num momento de transição e que ficará, que eu sei. 

Pãezinhos (com orégãos _ com paio de porco preto _ com bacon)

A receita da massa é a deste post. Quanto aos ingredientes, basta "embrulhá-los" na massa e fazer bolinhas que caibam na palma das nossas mãos. Vão ao forno durante 20 minutos exactos. 

NB: Costumo colocá-los num tabuleiro que uso para fazer as pizzas. Faz com que o pão fique irresistivelmente estaladiço, ao mesmo tempo que diminui o tempo de forno. 

Com o pão que é fácil como uma camisola confortável no final de um dia de Outono, uma voz de que gostei facilmente e que tem acompanhado estes e outros momentos. De transição ou não. 


8 comentários:

  1. Olá Mar,

    Tenho andado silenciosa, mais uma vez. Não ausente mas, submersa num mar de outras coisas.

    O Setembro é mês de recomeços e cá estou eu porque hoje não podia deixar de ser.

    Não que alguma vez tenha feito pão ou até tenha pensado fazer mas, porque subscrevo o post na íntegra.

    Pela desmistificação do uso de máquinas na cozinha.

    Se ajudam? Acredito que sim.

    Mas, na minha opinião, não é bem a mesma coisa. Partilhamos essa opinião!

    E depois deste post, em que ao lê-lo me senti como se estivesse em casa em frente à lareira, a beber um chá, acho que me vou atrever e experimentar a massa.

    Para pão ou para pizzas, porque o que interessa é o prazer que se retira do acto de cozinhar. Sem complicações.

    Obrigada por isso!

    Um beijo de bom fim - de - semana para S. Pedro do Sul!

    Sandra Martins

    PS - Deixo um beijinho para a Babette e para a Ilídia. Também não tenho deixado rasto nos "cantinhos" delas.





    .

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    1. Olá Sandra,

      Os silêncios são necessários, por vezes. Mas fico feliz por ver coisas suas aqui. De novo, naquele espírito de recomeço.
      Eu achava que dificilmente iria fazer pão, vê? Achava um tédio as descrições técnicas das máquinas e ficava à porta, a pensar que não era a minha onda. Gosto mesmo da simplicidade e da descontracção, nestas coisas de fazer comida e em muitas outras, de resto.
      E claro que sim, quando as máquinas ajudam. No caso do pão, não me parece. Especialmente depois de perceber que, graças a esta receita, tenho a possibilidade de pão e de pizza feitos num registo entre o poético e o pragmático. Sem ter de lavar peças de máquinas estranhas:)

      Se experimentar, que lhe saiba bem.

      Um beijo de bom fim-de-semana para si.

      Mar

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  2. Olá Mar, esta receita de pão cativou-me por parecer simples de fazer e saborosa. Já testei algumas receitas de pão, mas as que sujam as mãos, embora goste de amassar, não ficaram do meu agrado.
    Embora goste de eletrodomésticos e não prescindo de alguns, para fazer pão só conto com as mãos e/ou a colher de pau. Tem um sabor diferente e gosto do ritual.
    Esta receita é para testar em breve.
    Bom fim-de-sema,
    Graça

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    1. Olá Graça,

      Esta receita é mesmo desse género: cativante. Muito simples e com as possibilidades de sabor que nós entendermos. Partilhei aqui, por isso pode experimentar "à confiança", que não faço experiências culinárias para justificar posts. Quando as receitas aparecem aqui é porque já passaram pelo crivo da minha cozinha quotidiana.

      Quanto aos electrodomésticos, faço como no resto das dimensões da minha vida. Aproveito o que me for bom e fácil e passo a parte das maçadas. Em algumas coisas dá para esse exercício de escolha. Respeito outras opções e gosto que me deixem em paz com as minhas.


      Bom fim-de-semana para si.

      Mar

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  3. Gosto de ver a tua felicidade e as tuas experiências com o pão. Parece que é um hábito que veio para ficar :) Ainda bem. Costumo fazer esta receita muitas vezes. Mesmo com a minha máquina que faz pão pelo menos uma vez por semana ;)
    Gostei desta versão com bacon e orégãos. Perfeita para acompanhar um copo de bom vinho, tal como descreves no post de baixo :)

    Um beijo,

    Ilídia

    PS: Semana muito cheia. Demasiado. Ainda bem que é fim de semana e há tempo para respirar.

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    1. Olá Ilídia:

      Bem feliz por isto. Com a sensação de ter resolvido uma questão interior ou algo dentro do género. As versões são separadas. Essa é a parte mais bonita, que tenho feito pão de três variedades diferentes para cada refeição. Hoje experimentei com tomilho e ficou uma delícia:)
      Melhor não falar de semanas/dias. Mesmo. Apesar de tudo, tenho tido a tranquilidade de saber que fui por inteiro. Só acuso o cansaço com tudo já desligado, enquanto tudo dorme.

      Um beijo grande. Que seja menos complicada, a tua semana.

      Mar

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  4. O importante é haver pão feito por ti. Qualquer que fosse a circunstância ou o artefacto utilizado. Com as tuas mãos, melhor ainda. Ficam lindos e, imagino,. deliciosos.

    Um beijo
    Babette

    PS. Um beijo também para a Sandra. Senti a sua ausência .Os meus dias também me têm pedido silêncio...

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    1. Olá Babette:

      Pão feito por mim, no espírito descomplicado. Deliciosos, sim. O meu filho adora com bacon, especialmente. E o Vasco diz que gosta de todas as versões:)

      Um beijo.

      Mar

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