A comida.














Não há grande história. Fiz aquilo que faço todos os anos. No fundo, face ao mundo e a tudo o que (me) acontece, é a única coisa que posso realmente fazer. Há uma série de coisas que não dependem de mim. Outras tantas que entreguei ao vento, por achar que já não vale a pena persistir. Há ainda os sonhos pequenos que vou tendo. As ilusões que me vou permitindo e que vou protegendo como posso, que eu acho que uma vida sem ilusões é uma vida bem triste. Seja como for, a minha devoção inteira pela comida está nestas imagens e em tudo o que aconteceu sem que houvesse outro registo que não o da memória. 
E o meu tempo deu para tanto. Para além das coisas habituais que fazem parte dos registos de Lagos, fiz dois bolos com ingredientes lá do Sul. Um de laranja com mel e erva-doce e outro de alfarroba com gengibre. O primeiro fiz duas vezes. O segundo fiz só uma vez. O que significa que ainda não posso deixar as receitas, por não ter feito as três vezes que me permitem partilhar aqui uma receita com a segurança que as "minhas" pessoas merecem. Mas registei tudo num dos meus cadernos, para não me esquecer e a partilha há-de acontecer, que eu sei. Enquanto não, as imagens. 
Mas isto já dá para deixar aqui. Estas duas coisas já posso. 

Tártaro de Atum Vermelho
(receita adaptada do livro Tartares au Couteau)

1 posta de atum vermelho + 1 cebola vermelha + sumo de meio limão + sal, azeite e coentros q.b.

Parte-se o atum em cubos pequenos. Depois, a cebola. Mistura-se numa taça e tempera-se com o resto das coisas. Envolve-se bem e deixa-se tomar o tempero durante uma meia-hora, no frio. É uma entrada daquelas de fazer com que as pessoas fiquem felizes. E com aquela tónica boa da simplicidade. 

Lulas refogadas com tomate e gengibre
(quantidade para quatro pessoas)

6 lulas (previamente arranjadas para refogar) + 1 cebola (média) + 3 dentes de alho + sumo de um limão + 1 folha de louro + metade de um pimento verde + 2 tomates coração-de-boi (grandes) + 1 copo de vinho branco + 1 colher (de sopa) de amido de milho + 1 colher (de sopa) de gengibre ralado + sal, azeite e coentros q.b. 

Muito simples: tudo no tacho onde vai ser cozinhado (excepto o amido de milho e o gengibre). Durante uma hora, sujeito a vigilância carinhosa e a alguns acrescentos de água. Cinco minutos antes de retirar do lume, a colher do amido de milho, o gengibre, mais sal (se necessário) e mais coentros picados. Deixa-se apurar e serve-se com arroz branco ou com estas batatas algarvias. 

A música é uma daquelas melodias simples como a comida a Sul. Fica-nos. 

4 comentários:

  1. Tanta coisa tão bonita ;) Os cenários a Sul, as cores, as flores numa caneca com flores, os ingredientes daí, os bolos que foram gestos de reciprocidade. O que escreveste no teu caderno por esses dias. Fico apaziguada ao olhar estes fragmentos do vosso Sul. Obrigada.
    Babette

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    1. Olá Babette:

      Coisas de comer misturadas:) Os bolos desaparecem ainda mais rápido, lá no Sul. Mas ficaram tão felizes, todos. Especialmente o Sr.José das especiarias. Fico feliz por essa pacificação. Uma boa consequência para estas coisas. De nada:)

      Um beijo.

      Mar

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  2. Que sequência de coisas boas. E não me refiro só à comida :) Gostei de ver os teus caderninhos, com os apontamentos da comida e de outras coisas, como estrelas cadentes :)
    Fico à espera das receitas dos bolos :)

    Um beijo,

    Ilídia

    PS: Como correu a viagem a Sintra?

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    1. Olá Ilídia:

      Os meus cadernos são uma grande confusão:) E eu até sou organizada e tudo. Mas tenho vários. Nenhum deles consumido até à última página. O Vasco acha piada a isso, sempre que descobre que comecei outro sem concluir o anterior.
      A viagem a Sintra foi linda e linda e linda:)

      Um beijo.

      Mar

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