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Num dia cabem muitas coisas. Podem ser bem pequenas e imperceptíveis. Mas há uma humanidade enorme em todas essas coisas pequenas. Porque, no fundo, somos todos muito iguais. Todos temos vontade de acolhimento, todos queremos sol e chuva e aquecermo-nos ou refrescarmo-nos, todos temos fome e sede. Todos sabemos que vamos morrer, um dia. E, por isso, todos gostamos disto: de ter tempo. Ter tempo é uma coisa muito grande. Tempo para nós e para os que amamos. Tempo para nos encantarmos com tudo o que acontece. Tempo para fazermos acontecer e tentarmos o encantamento por fazermos acontecer. 
Hoje foi dia de ir buscar quatro volumes que estavam em suspenso na minha vida. Nem quis acreditar, mas fiquei parada no primeiro volume da "Guerra e Paz" em 2007. A data estava lá registada, por isso, não dava para denial. Comecei a partir da página 1 e deixei a tarde passar, à medida que as páginas foram avançando. A literatura russa tem qualquer coisa. No início, parece que não estamos ali, ainda. Que a narrativa não é nossa. Mas depois, lê-se com aquela vontade febril de avançar nas páginas. Foi assim com a minha paixão por Dostoievski. Os volumes dos Irmãos Karamazov, os volumes de Crime e Castigo. Lembro-me de ficar a ler noite dentro, durante a faculdade, tal o tamanho da paixão. Claro que no dia seguinte, só me apetecia matar aulas, por não ter dormido o suficiente:) 
Deste dia, fica também mais uma das minhas camisolas largas com bolsos que guardam a música que anda sempre comigo. As minhas camisolas assim grandes significam casa. Por isso é que são tão importantes e por isso é que devem estar associadas à minha comida. A de hoje era em tons rosa e era como as que usava quando tinha vontade de matar aulas:) Achei que iria ficar mesmo bem, junto dos quatro volumes de Tolstoi e das peónias rosa numa jarra turquesa. 
Quando larguei o meu livro, esta salada tropical. Um vestígio do tempo feliz que vivi no Brasil. Vi fazer e não me esqueci mais. Era muito simples, por isso não foi difícil guardar na memória.  

Salada de tomate com manga e manjericão

10 tomates berry + metade de uma manga + 1 cebola roxa + 2 folhas de manjericão + flor de sal, azeite e vinagre de sidra q.b. 

Parte-se os tomates ao meio e coloca-se metade numa taça. Depois, a cebola, em rodelas muito finas. Mais uma camada de tomate e depois a manga, cortada em cubos. Depois, as folhas de manjericão (picadas na hora de servir). Por último, os temperos. Antes de ir à mesa, envolve-se tudo muito bem. Fica perfeita com queijo cheddar e vai muito bem com esta música:)

6 comentários:

  1. Tenho uns quantos livros assim, em suspenso, à espera de tempo. Ainda há dias olhei para o Ulisses, do James Joyce, que tentei ler ainda antes da Universidade. Nunca mais voltei a ele. Tenho de arranjar tempo.
    Gosto de te ver nessa versão caseira, rodeada de livros e de flores :)

    Um beijo,

    Ilídia

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  2. Olá Ilídia:

    Também tenho umas contas a acertar com esse senhor do Ulisses:) Mas sabes, não tenho assim muita vontade. A verdade é que não me senti ali minimamente. Vou resolver as minhas questões pendentes com estes quatro volumes e depois logo se vê.
    É casa. Registo de casa. É bom andar por aqui, é o que é. E foi bom falar contigo ao final da tarde:)

    Um beijo.

    Mar

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  3. Tempo. Apreciar as pequenas grandes coisas da vida como uma camisola confortável, um livro para ler, flores numa jarra ou uma salada que traz memórias felizes... E sim, cabe tanto disto num dia. E há quem desperdice tantas horas com coisas sem interesse... Bom, este registo!
    Babette
    Ps. Adorei o filme. Ficamos com vontade de comer carne. E de dançar ;)

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    1. Olá Babette:

      Acho que cometemos todos esse erro. Temos a mania de tomar por certas coisas que são incertas. Como as horas de um dia, por exemplo. Mas eu acho que sou irremediavelmente viciada na ideia de felicidade:)
      Eu disse que ias gostar. É do género de dar (mais) vontade de viver. amanhã falamos sobre isso e sobre as outras coisas todas:)

      Um beijo.

      Mar

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  4. Olá Mar,

    Tenho andado "calada" mas, sempre por aqui.

    O silêncio tem sido devido (não só mas também) a falta de tempo.

    Os posts da Mar fazem-me reflectir e resolvi que tinha que resolver esse problema: ter tempo para o que gosto e de quem gosto.

    A salada parece-me excelente, até porque por aqui parece que o Verão se instalou de vez!

    Aliás, tem havido muitas vezes a "Mar à mesa", apesar do silêncio. "Mea culpa".

    Um beijo do Algarve muito quente e votos de um excelente fim - de - semana!

    Sandra Martins





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    1. Olá Sandra:

      Os nossos tempos devem ser assim mesmo: nossos, de quem gostamos. Se pensarmos a sério no assunto, há condicionantes/impedimentos a todo o momento. Parece que temos de traçar fronteiras e dizer que para lá daquele traço, não. Faço esse exercício muitas vezes. Exactamente para não perder o meu centro, as minhas pessoas, eu.
      Esqueça o "mea culpa":) Nada dessa componente. Se sim, escreve. Se não, não escreve.
      Estou feliz porque já é Verão a sério. Aí no Algarve ainda mais, imagino.

      Dias felizes para si. Um beijo.

      Mar

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