Mudanças de planos e Matthieu Ricard.






De um momento para o outro, a entrada que estava planeada para a refeição deste dia, passou a ser um caldo de camarão com gengibre. Estes caldos bem filtrados são uma espécie de benção. A sensação imediata que se tem é a de estarmos em processo de reconciliação com a vida e com as suas coisas. O facto de serem servidos num bule acentua ainda mais essa noção. E torna tudo ainda mais especial do que já é. Qualquer coisa de cerimonial, quando se serve. Bem quente e com os aromas a serem libertados só no momento de servir, depois de contidos durante uns minutos no bule. Exactamente como fazemos com o chá. Vale a pena viver, para viver esta experiência. Com este caldo tão especial, este vinho igualmente especial. Um branco inesquecível, feito no Dão.

Caldo de camarão com gengibre

Quantidades para 4 pessoas

8 camarões (grandes) + 1 rodela de limão + 1 litro de água + 2 dentes de alho (esmagados) + metade de uma folha de louro + metade de uma malagueta vermelha + 2 colheres (de chá) de gengibre ralado + umas gotas de sumo de lima + sal, azeite e coentros picados q.b.

Primeiro, coze-se os camarões na água com sal e uma rodela de limão.
Assim: coloca-se os camarões só depois de a água começar a ferver e deixa-se estar durante cerca de 3 minutos, com o tacho sem a tampa. Retira-se, passa-se por água fria e descasca-se, reservando as cabeças do camarão. Entretanto, coloca-se as cabeças do camarão na água onde foi cozido (depois de eliminar a rodela de limão) e passa-se com a varinha mágica em ritmo intermitente. Filtra-se e reserva-se. Numa panela, coloca-se os alhos esmagados, a malagueta vermelha e a folha de louro, num pouco de azeite. Faz-se um refogado muito breve (3/4 minutos) e junta-se o caldo de camarão, acrescentando um pouco de água, se necessário. Quando começar a ferver, tempera-se de sal, mais um fio de azeite, reduz-se o lume e deixa-se estar durante 5 minutos. Depois, elimina-se o pedaço de folha de louro e os alhos. Acrescenta-se os coentros picados, o gengibre, umas gotas de sumo de lima e retira-se do lume. Transfere-se para um bule, deixa-se estar durante três minutos e serve-se em tigelas onde já estão à espera os camarões.
Delicioso e inesquecível:)

Bem no espírito de uma receita pacificadora, a referência a duas conferências com Matthieu Ricard.
Em Lisboa, na Aula Magna: "Altruísmo e Felicidade" (4 de Maio). E no Porto, no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett: "Meditação e Ciência" (5 de Maio). Uma das minhas referências, este homem de sorriso fácil. Que passou do universo da Biologia Molecular para o Budismo. Deixo o blog dele.
E o site da Fundação para a Preservação da Cultura Tibetana, para informações sobre estas duas conferências imperdíveis.

E música: Disclosure + London Grammar.

13 comentários:

  1. Olá Mar
    Tudo propostas tentadoras e irresistíveis. As conferências estão "longe" do meu alcance, mas o caldo já me parece realizável! Acho que vou conseguir. Depois te conto.
    Um abraço,
    Guida

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  2. Fui até ao Japão outra vez. Pela descrição depurada, cuidada e ritualizada. Um prazer simples servido como um chá. Onde se adivinham muitos aromas. Vale sempre a pena viver. Assim, um pouco mais ;)
    Beijo
    Babette

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  3. Olá Mar,

    Que posso eu dizer?

    Jamais me passaria pela cabeça servir um caldo num bule!

    Definitivamente, tenho mesmo muito que aprender!

    E nem de propósito, a referência a alguém que teve a coragem de mudar de vida. Radicalmente!

    Por estes dias conclui, "again", que há que levantar de manhã com a disposição de encarar a Vida de peito aberto, com coragem!

    Na volta, hão-de vir coisas boas!

    Obrigada Mar por aquilo que ensina e pelo que recorda constantemente!

    Um beijo de um Sul ensolarado, em véspera de feriado!

    Sandra Martins

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  4. Boa tarde, Mar.
    É a primeira vez que comento no seu blog, apesar de o visitar frequentemente.
    Com efeito, seduz-me a sua forma de escrever, a poesia, a filosofia e a profundidade que transparecem no que escreve.
    E sobretudo, a forma como articula a cozinha com a música.
    Sem a conhecer, identifico-me muito consigo.
    E hoje, especialmente, com a referência que fez a Matthieu Ricard.
    Infelizmente, pouco conhecido (pelo menos pelas pessoas com quem me relaciono), marcou-me bastante o livro "O Monge e o Filósofo" (Edições Asa), um diálogo fabuloso entre Matthieu Ricard e seu pai, Jean-François Revel (de que conhecia a obra "A Tentação Totalitária"), entre o Oriente e o Ocidente, entre um monge budista e um filósofo agnóstico a pouco virado para a metafísica.
    Tive a sorte de o adquirir há uns anos e precisei de muito tempo para me "preparar" para a sua leitura.
    Recomendo-lhe o livro (caso não o conheça).
    E ...bem haja por ser quem é, por me inspirar com o seu blog.
    Um abraço.

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  5. Um post muito zen, este teu. Daqueles que apaziguam do lado de cá. Apeteceu-me este caldo reconfortante, servido num bule.

    Um beijo,

    Ilídia

    PS: Vou procurar conhecer melhor este senhor de que falas. Vou começar por uma voltinha pelo blogue :)

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  6. Boa noite, Guida

    Imagino-te a gostar de um caldo destes. A fazer-te bem. Espero mesmo que sim, que seja de concretizar.
    E sim, estas coisas de conferências nem sempre acontecem nos tempos e nos espaços ao alcance. Se puderes/quiseres, lê os textos dele. No blog. Nos livros.

    Um abraço para ti. Espero que estejas a recuperar bem.

    Mar

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  7. Que bom que voltaste ao Japão assim de repente, Babette:)
    Estes caldos são um daqueles recursos. E a acrescentar, este tom de ritual faz com que tudo seja ainda mais especial. E sim, irremediavelmente pela vida, que sou:)

    Um beijo.

    Mar

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  8. Boa noite, Sandra:

    Vi uma imagem de um caldo servido desta maneira, num livro. Confesso que nem olhei para a receita, porque era um caldo de cogumelos e não gosto assim muito de cogumelos em versão sopa. Mas ficou a imagem:) Tanto que a reproduzi neste caldo de camarão bem subtil. Por isso, como vê, a originalidade não me pertence.

    Bem lindo, esse seu agradecimento. Vou recordar isso, quando estiver naqueles momentos de quebra em que apetece entregar os pontos e deixar ir.

    Um beijo para si. E dias de sol.

    Mar

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  9. Boa noite, Milena

    Em primeiro lugar, fico muito feliz por ter escrito. Ainda mais por esse gesto estar associado a um homem tão grande como o Matthieu Ricard.
    Esse livro de que falou vive numa das estantes aqui de casa desde 1991. Antes de eu andar por aqui, agora que penso. O meu marido e a paixão infinita pelos livros. Foi dele que me veio a referência deste homem tão especial. E muitas outras referências, de resto. A começar por essa longa conversa entre Matthieu Ricard e o pai dele. Uma conversa fundadora, com todas as divergências que o amor e o afecto pressupõem.

    Não consigo imaginar a minha vida sem essa articulação que mencionou. Os dias e as suas bandas sonoras. E como isso faz uma diferença enorme. Muitos dos meus dias foram salvos graças a uma melodia e a uma comida.

    Se não leu, leia "O infinito na palma da mão". Sugestão do meu marido, que leu o que escreveu mesmo agora.

    Um abraço grande. Obrigada.

    Mar

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  10. Acho que vais gostar de o ler. Inspirador e com uma profundidade tocante. Nada distante, nada de "iluminado" que vê coisas que os outros não vêem.

    Como este caldo cheio de aromas e tão leve. Faz-nos bem. Acredita. Eu estava tão feliz, ao fazer isto. Tão a viver o momento.

    Um beijo.

    Mar

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  11. Milena,

    Para corrigir a data: 98 em vez de 91. Enganei-me, ao escrever:)

    Outro abraço.

    Mar

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  12. Bom dia, Mar.
    Um dia ensolarado, por aqui ao som do Officium de Jan Garbarek and The Hilliard Ensemble...
    Apenas para lhe agradecer as suas palavras inspiradoras (como tudo o que vem de si, aliás) e a sugestão de leitura. Será, sem dúvida, a minha próxima aquisição.
    Também irei experimentar a receita do caldo, que desde logo me atraiu, como tudo o que leva a mistura de especiarias gengibre+ malagueta+coentros+lima, de inspiração tailandesa, parece-me.
    Tenho ascendência goesa, nasci em Timor e a utilização de especiarias está-me do ADN, por assim dizer.
    Já agora, se puder, não perca Rabindranath Tagore (entre outras obras,autor de "A Casa e o Mundo", adaptado para o cinema pela mão de Satyajit Ray).
    Antigamente, as suas obras eram traduzidas pelo Prof. Paulo Quintela. Tanto quanto sei, deixaram de ser vendidas em Portugal. Com muita pena minha.
    Mais uma vez, um grande abraço, Mar.
    E o meu obrigada pelas suas sugestões e por esta partilha tão enriquecedora para mim.

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  13. Olá Milena:

    Com essa ascendência tão exótica, imagino que o uso das especiarias seja do domínio do imediato, de intuitivo. Uma pessoa de família esteve bastantes anos em Goa. Falou-me sempre com um encantamento comovido, dos anos que passou lá. Muito especialmente dos cheiros, dos sabores, de como as cores são diferentes, naquela geografia. Hei-de tentar reproduzir uma receita que me passou, um destes dias. Se correr bem, será uma destas páginas e estará associada também a si:)

    Muito obrigada pelas suas referências. A música, a escrita, um filme. Agradeço essa generosidade. E o seu registo aqui.

    Um abraço grande para si. E muitos dias de sol.

    Mar

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