De uma maneira ou de outra.









































 Por fazermos muitas vezes a mesma coisa, não quer dizer que a sintamos sempre da mesma maneira. Começamos pela toalha, que parece uma espécie de página, só que sem ser em branco angustiante. Como acontece com todas as páginas vazias que queremos (pre)encher. Com as toalhas é diferente. Não há aquilo da angústia, porque podemos retirar aquilo que não está bem. E ser como se nunca tivesse acontecido. Com as páginas brancas não dá para esse exercício. Dá para riscar. E ficar a marca da hesitação, da bifurcação que nos assaltou num dado momento. Ou dá para rasgar e atirar para longe. De uma maneira ou de outra, sempre aquele rasto.
De uma maneira ou de outra, as coisas vão sendo dispostas. Os pratos que assinalam os lugares à mesa. A seguir, os outros pratos. Os que vão sendo retirados à medida que tudo acontece. Os talheres. Os copos. Os guardanapos. Tudo a obedecer a uma ordem superior. De vez em quando, até dá para pensar que haverá um deus qualquer para estas coisas pequenas que as nossas mãos igualmente pequenas vão fazendo.
De uma maneira ou de outra, a vida precisa de seguir. De uma maneira ou de outra, a vida pede por mais uma página. Mais uma mesa. Sempre só mais uma mesa. Lugar onde nos sentamos. Depois da frase a dizer que está servido o jantar, a visão de coisas que ali estão porque nós existimos. Uma sopa consistente. Um bolo salgado de cebola e bacon a sair do forno. Água quieta em copos altos. Vinho que faz deuses os homens que o fizeram. De uma maneira ou de outra, música. Trevas, um mundo sem música.

10 comentários:

  1. Esta toalha é absolutamente magnífica! Já a tinha apreciado no post anterior, a contrastar com o laranja da sopa e o prateado dos talheres e do copo.
    Tão bem que as suas mãos fazem mesas!
    Um beijinho.
    Maria

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  2. Olá Maria:

    É muito linda, sim. Gostei dela de imediato. E sabe, com toalhas destas, é quase brincadeira de crianças fazer mesas:)Muito obrigada pelo seu comentário.

    Um beijo para os Açores.

    Mar

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  3. Lindas as tuas palavras sobre os gestos de todos os dias. E linda a tua toalha-azulejo. E concordo com a Maria quando diz que o contraste resulta muito bem. Mais uma mesa a que apetece sentar :)

    Um beijo,
    Ilídia

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  4. Os gestos de todos os dias até que são lindos, não é? Nós é que às vezes dizemos mal da vida de todos os dias e fazemos queixinhas:) Com todas as dificuldades, são bênçãos. Mesmo os dias maus.
    Também gostei de ver estes tons-azulejo conjugados com um laranja-avermelhado.

    Outro beijo a voar rápido até aos Açores.

    Mar

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  5. São estes gestos que ficam marcados nos nossos dias, para acrescentar coisas boas. A toalha é lindíssima e não precisa de muitos acessórios, porque ela própria preenche e dá vida à mesa!
    Continuação de boa semana,
    Graça

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  6. Olá Graça:

    Definitivamente. Tenho pensado (ainda mais) na importância dessa dimensão nos dias que vão passando. E sim, no tanto que estes gestos acrescentam. A minha vida não seria a mesma, estou certa.
    Esta toalha vale, realmente, por si. Parece quase redundância tentar acrescentar-lhe mais dados.

    Está a acabar a semana, felizmente. Bem complicada, por sinal.

    Muito obrigada pelo seu comentário. E um óptimo fim-de-semana.

    Mar

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  7. Mesas escritas em páginas de tecido!... que imagem deliciosa! E o texto, que beleza!!
    Continua a cultivar essa tua forma de escrita, e a outra também!!!
    Beijo,
    Isabel

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  8. Olá Isabel:

    No seguimento da tua mensagem de ontem, são mesmo páginas das nossas vidas, as mesas.
    Continuarei a cultivar o que me faz bem, podes estar certa. E abandono o que não. De vez em quando, levo tempo nesse processo, mas quando acontece, é de não voltar atrás.

    Um beijo. E uma óptima semana:)

    Mar

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  9. As mesas. Uma forma de assinalar os dias e de fazer com que as páginas sejam sempre diferentes. Como as de um livro. Vamos acrescentando páginas a esse Ensaio que é a vida.
    Um beijo
    Babette
    PS. Boa ida e melhor regresso ;)

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  10. Olá Babette:

    As nossas vidas-ensaio. Sim. Muito assim. E as páginas que vão sendo acrescentadas. Mudamos de página. Mudamos de página. Uma e outra vez. Até sermos livros inteiros. Sem páginas arrancadas.
    Já de volta. Com vontade dos dias a haver, que preciso de olhar para a frente.

    Um beijo grande.

    Mar

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