Paixão.






























Dizem que é assim que deve ser: com paixão. Um homem. Muita paciência. Muito dinheiro. Muitos leilões de arte. Muitas viagens. Muitos nomes. Damien Hirst. Andy Warhol. Cindy Sherman. Nan Goldin. Vieira da Silva. Julião Sarmento. Tápies. Barceló. A exposição foi inaugurada no sábado. Eu quis muito estar lá nesse dia. E gostei muito de ter tomado essa decisão. Também dizem que é assim que deve ser, nisto da arte.  Por causa desta exposição, uma viagem não muito longa. A um lugar onde não ia há muito.
Foi um pretexto para ir a um lugar imperdível, em S. João da Madeira. A Oliva Creative Factory. Nos vários pólos da antiga Oliva, vida. Muita. Pavilhões industriais desactivados. Reinventados. Lá dentro, exposições. Livros. Música. Dança. Do que eu gostei mais foi de as paredes conservarem aquele aspecto rough, metálico. De não haver maquilhagem, naqueles edifícios. Uma dignidade enorme, como se fosse uma pessoa, a fábrica Oliva. A quem a vida tinha trocado as voltas. A erguer-se e a dizer que, sobre aquilo que existe, pode sempre existir qualquer outra coisa. E que seja sempre aquilo que nós e a vida quisermos. Perdi-me. Literalmente, que entrei em todos os lugares onde podia haver possibilidade de me perder. Mas era sempre fácil voltar ao centro. As edificações dão-nos lições muito importantes. Sobre o carácter transitório de tudo, muito especialmente. Este lugar fez-me pensar que nem tudo é escombro, depois da queda. Reinventa-se, antes.
Um circuito muito curioso e inesperado. A indústria declina-se de muitas maneiras, ali. As máquinas pesadas. Os chapéus. Lindos, os chapéus do Museu da Chapelaria. Apaixonante, ver o trabalho delicado. A sequência de processos. As palavras dos homens que faziam os chapéus, a descrever a vida na Fepsa.
Nem de propósito. Ou muito a propósito, um livro acabado de editar. Sobre a paixão dos coleccionadores. Sempre entre a racionalidade e a paixão. Sempre entre o impulso e o controlo. Sempre entre a febre da procura e a aprendizagem da desistência. Desistir também pode ser uma arte. Fundamental. Mesmo na mais intensa das paixões, este dado.
Com o lugar e o livro, Sonic Youth.

2 comentários:

  1. Falámos sobre isto mal cheguei de viagem ;) E já anotei na minha agenda. Não vou perder! E o Zé também ficou entusiasmado. Tão bonito, quando o mote de uma colecção é o amor, a paixão, a vontade de conjugar o belo. Gostei dos olhares que captaste. E fico ansiosa pelas sensações que me trará essa visita. Obrigada.
    Babette

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  2. Olá Babette:

    Vão gostar, que eu sei. Nada a agradecer:)

    Um beijo.

    Mar

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