Isabel e João. No primeiro dia de Verão.












As pessoas à mesa no primeiro dia de Verão aconteceram na minha vida porque a conheci. Falou-se (também) nisso, neste jantar. Nesse dado tão aleatório a determinar aquela e outras circunstâncias. Recebi os pais da Babette. Vieram os dois. Fiz comida para eles, com a cumplicidade da filha, a orientar-me as possibilidades à distância. Como acontece quase sempre, só no dia é que soube mesmo qual seria a sequência da comida. Como acontece sempre, a mesa foi o que surgiu no momento em que começou a surgir das minhas mãos. As duas únicas premissas eram as cerejas e o azul cantão da loiça. Tudo o mais, surgiria a partir dessas duas certezas interiores.
Tão bom o belo. Tão bela a bondade. A generosidade. A nobreza e a delicadeza. Tão grandes, as pessoas que nos fazem querer ser melhores. Para sermos merecedores, dignos. Creio que será por aí. Os pais da Babette são assim. E muitas outras coisas. Boas, todas as que me têm chegado.
Fica a mesa com duas luzes. A do final de tarde daquele dia de Verão. E a nocturna. Com a mesa, um registo breve da comida. Polvo, porque eles gostam muito. Cerejas, porque eles gostam muito. Pastéis de Vouzela, porque eles gostam muito. Esqueci-me de registar o creme de cenoura e abóbora-manteiga. Mas também foi porque eles gostam muito. No fim de tudo, à luz das velas espalhadas pela mesa, chá de limonete.
E a melodia daquele dia, a que fui ouvindo enquanto fazia acontecer. A comida. A mesa. E tudo o mais. Acho que os meus silêncios são feitos de música. Neste dia, foi esta.


10 comentários:

  1. Desde que sigo os vossos blogues que admiro a vossa amizade. Tão pura e despretensiosa, como a amizade deve ser.
    Um beijo para as duas.

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  2. Sabia que ia ser uma mesa assim, linda... Das mesas mais bonitas, talvez pela luz de fim de tarde, talvez pelos meus pratos preferidos, talvez ainda pela fruta que me é mais preciosa, ou talvez tão só por ires receber os meus pais. Tão improvável, tudo isto! Tão de agradecer a um certo lombo wellington ;)
    A foto da jarra está sublime. E o resto já te contei. Adoraram ;) A Isabel e o João adoraram estar aí. E eu fosse mosca... já sabes onde estaria ;)
    Um beijo minha amiga doce. Que faz coisas boas com os seus dias

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  3. Comovida, é a palavra. E o João também. E um verso: "Pescador da barca bela, onde vais pescar com ela, que é tão bela, ó pescador..." De Almeida Garrett, com muita musicalidade. Fomos à casa da Mar e do Vasco, buscar carinho,beleza e aconchego.E muita paz. Muita conversa, tão saborosa como o jantar propriamente dito. Magnifico, uma mesa de sonho.
    Muito obrigada e um beijinho.

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  4. Tudo lindo, com aquela atenção aos detalhes que tão bem sabes dar. Muito bom quando nos cruzamos com pessoas que passam a ser muito para nós. É linda a vossa amizade.
    Gostei muito da mesa, especialmente da Lalique iluminada.

    Um beijo da tua amiga dos Açores,
    Ilídia

    PS: Estou quase a acabar os exames (faltam "apenas" as duas produções de texto).

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  5. Olá Vera:

    Muito assim. Uma amizade com esse sentido da pureza. E obrigada. Por seguir um afecto que é uma espécie de dádiva.

    Um beijo para si também.

    Mar

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  6. Olá Babette:

    Eu não sou assim tão organizada com tu. Estivemos de véspera a falar das possibilidades para a ementa e tudo:) Mas correu bem. Obrigada pelas tuas sugestões de comer:)
    A mesa já sabes. Quando acaba o meu dia de trabalho, uma das recompensas é pôr uma mesa bonita. Sozinha. E com música. Esta foi a mesa que ofereci aos teus pais. Gostei tanto de os ver aqui! Deram-me abraços carinhosos que souberam a colo.
    E sim, o improvável é mesmo lindo. Agora já não dá para imaginar a minha vida sem as minhas pessoas do Porto:)

    Um beijo.

    Mar

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  7. Olá Isabel e João:

    Comoção com versos à mistura. Estiveram aqui. Felicidade por isso. Por poder corresponder ao vosso carinho. Às coisas boas que são. Que deixam no mundo. A mesa e a comida foram maneiras de tentar dizer isso: que significam. Muito.

    Um beijo meu. E abraços do Vasco.

    Mar

    PS: Dê um beijo à Dª Odete da Casa Alvarinho. Tão lindo aquilo que contou, quando eu regressei ao blog: "A Mar voltou!". Obrigada à Dª Odete pela exclamação carinhosa:)

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  8. Olá Ilídia cheia de exames para corrigir:)

    É muito importante. Dar importância às pessoas que se cruzam connosco. Isso é mesmo muito importante. Para mim. Estava a pensar nisso, enquanto fazia as coisas para o jantar. Passamos a vida a dar relevância a dimensões que não interessam nada.
    E é assim como acontece contigo. Vivesses mais perto e havia Laliques iluminadas para ti também:)

    Um beijo de boa semana.

    Mar

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  9. Muito bonita a mesa, com os pratos que eu tanto gosto e todos os outros elementos que a compõem.
    As amizades verdadeiras são de acarinhar e cultivar e estes pequenos gestos tornam-se grandes e extremamente importantes para quem se gosta!
    Graça

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  10. Olá Graça:

    As coisas pequenas têm tanto de grande como de fundamental. Como a mesa com os pratos de que gostamos. E a comida. Num dado momento, acontece esta fórmula. E isso é sempre muito importante. Sempre.

    Um beijo para si.

    Mar

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