Todos os dias.




































A pergunta dele foi assim: "Por que é que as tuas mesas são assim todos os dias?". A resposta foi sem pensar muito: "Porque a mãe acha que a vida é especial todos os dias." O meu filho a querer saber o que move numa coisa tão pequena. Mas tanto. Nisso de querer saber. Nisso do tanto que pode haver numa coisa pequena como pôr uma mesa.
É assim como na resposta imediata. É tão especial, a vida. Todos os dias. A vida de todos os dias é tanto. Como quando explico aos meus alunos por que é que a sala de aula onde estão terá de ser o melhor dos lugares onde poderiam estar. Porque é ali. É naquele momento. E nunca mais vai ser o dia 07 de Novembro de 2012. E nunca foi. Tanto, isso. Como as mesas das imagens. Mesas de dias que não tiveram outro acontecimento significativo que não o de terem acontecido nos dias em que aconteceram. Consigo lembrar-me bem, ao olhá-los em forma de mesa. Os individuais com coisas escritas e desenhadas por mim e pelo meu filho. Os frutos que são tanto do Outono. As luzes breves e perfumadas das velas. O vinho tinto a libertar os aromas da terra de onde veio. O espumante rosado que celebrou aquele dia irrepetível que não era dia de celebração de calendário. Flores numa salada verde com maçãs. O dourado de uma taça como se fosse um sol que se pudesse trazer para a mesa. Uma enumeração emocional. Para não me esquecer. Muito provavelmente, aquilo que ficará de mim, passará por enumerações destas. Não se adivinha nada de grande ou de significativo. Só este tanto. Só este muito. Todos os dias a serem tanto e muito. Todos os dias. Ainda aqui. E o enorme que é isso de ainda estar aqui.

14 comentários:

  1. Inteiramente de acordo. Nada me mete mais confusão do que louceiros com copos que nunca vão à mesa!
    Um abraço
    Guida

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  2. A vida é mesmo especial todos os dias. Infelizmente, a azáfama diária nem sempre permite que paremos para pensar na felicidade de estarmos vivos e de saúde. A celebração da vida deveria ser novamente apanágio das novas gerações, que andam atormentadas pelo acessório. Ainda me lembro de ver a minha bisavó rezar todos os dias de manhã ao acordar. Uma vez perguntei-lhe porque o fazia àquela hora, pensando eu que apenas se rezava à noite antes de deitar, e ela disse-me que rezava para agradecer a Deus o facto de lhe ter concedido mais um dia de vida(morreu com 95 anos).
    Esta foi uma resposta que me marcou e que hoje analiso com uma profundidade diferente.Um abraço.
    Patrícia

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  3. Cheguei há pouquinho. Que feliz ficou o meu dia 8, por ter visto mesas tão bonitas. Já falámos muitas vezes sobre isso. Sobre a forma como celebrizar o quotidiano é importante. Um dos aspectos maiores da nossa convergência. Apesar de resultado de vivências diferentes. Quem está à espera do momento em que se é verdadeiramente feliz deixa-o passar.
    Beijo
    Babette
    PS. tenho de perceber melhor esses individuais com a tua letra... Haverá tempo para relato, amanhã? Vou tentar ;)

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  4. Mesas que abraçam, mesas que encantam, mesas que inspiram e respiram, mesas que seduzem, mesas que habitam, mesas de luz, mesas de cor, mesas de amor. São as mesas da Mar.

    Um beijo com carinho,
    Isabel

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  5. Olá Guida:

    Não há coisas dessas, cá em casa. O que me apetecer e quando me apetecer. Tudo encontra lugar à mesa.

    Um abraço para si.

    Mar

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  6. Olá Patrícia:

    Acho que nem é bem uma questão geracional. Mais ontológica, parece-me.
    E gostei tanto dessa história. Obrigada por isso. Para mim, as mesas e outras coisas são assim. Orações silenciosas.

    Um abraço para si.

    Mar

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  7. Olá Babette:

    Bom que o teu dia 8 tenha sido mais feliz:) Mesmo a chegar tarde a casa.
    E sim, é um tema recorrente, este. Talvez por ser persistente.
    Então, o momento mais feliz de todos é o que está a acontecer. Como o de agora. Deixar passar o momento é escolher a abdicação resignada, parece-me.

    Um beijo de bom fim-de-semana.

    Mar

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  8. Olá Isabel:

    O meu carinho pelo seu comentário anafórico:) Obrigada por essa enumeração.

    Um beijo de bom fim-de-semana.

    Mar

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  9. Olá Mar,
    Mais uma vez não resisto a comentar a sua postura de vida. Acredite que ela mw inspira e me faz bem. Fantástico pensar no seu blog e procurá-lo sempre para perceber "se me toca ou não".
    É verdade que quase sempre a mensagem me deixa feliz por alguém transformar em palavras sentimentos recíprocos.
    Sinto-me agradecida por conhecer e acompanhar o seu blog e o seu pensamento. Para além de receitas, óbviamente.
    o meu bem haja.
    Helena Mendes

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  10. Olá Helena:

    Tanto de bom e de grato, no que verbalizou. Eu devo agradecer. Reiteradamente. Com uma serenidade feliz. Por pensar interiormente que faz sentido. Por mim. Por mais uma, duas pessoas. Em seguir em frente. As ressonâncias das suas palavras dão densidade a um momento em que preciso de pensar assim. Que é para continuar. Obrigada.

    O meu carinho.

    Mar

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  11. É muito importante dar valor às pequenas coisas do dia-a-dia e dar graças por cada dia que passa. Pena quando não se consegue ver para além dos obstáculos e não ver o significado dos pormenores mais ínfimos.
    Aprecio muito a sua maneira de ver a vida e a sua postura perante a mesma.

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  12. Olá Graça:

    Querer ser feliz, creio. E ter a noção de que há coisas que dependem de nós. Outras nem tanto. E quando acontece que as coisas não aconteçam como queríamos, saber que se pode fazer uma série de coisas ínfimas. Como isto. Pôr uma mesa. Fazer uma sopa que nos faça bem. Dizer a uma colega de trabalho que tem uns sapatos bonitos:)

    Um beijo para si. Com o meu carinho.

    Mar

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