Não uso nada para marcar as páginas dos livros. Memorizo a página. Vou repetindo o número mentalmente, para não o perder. Para saber a partir de que ponto é que é para recomeçar. Neste, é o número da entrada. 67. 67. 67. E fica. Até ao momento em que as mãos abrirem as páginas no lugar exacto onde ficaram.
A imagem mental do livro que estou a ler. A imagem mental de comida para dias de chuva. A imagem mental do regresso, no fim do dia. Saber que pode haver isto é como se ficasse blindada. Uma película invisível de protecção. Nem é preciso fechar os olhos nem nada. Basta saber que se nada do que é fundamental desmoronar, há as imagens que tomarão corpo.
Quando chove, é comida desta que me apetece. Servida num prato fundo, fumegante. Só com um garfo. Comida de Inverno. Comida que nos reforça por dentro. Comida que diz que está tudo bem. E se não, que sim. Que há-de ficar. Lá fora, chamam a isto de comforting food. Para mim, é comida para dias de chuva. Só. Com ou sem necessidade de consolo.
Arroz para dias de chuva
2/3 lombelos de vitela + 3 dentes de alho + metade de um pimento vermelho + 1 medida de arroz carolino + sal, azeite, vinho branco, coentros e bróculos a gosto.
Corta-se os lombelos em cubos e tempera-se directamente no tacho onde vão ser cozinhados (sal + os dentes de alho + vinho branco + azeite + coentros). Deixa-se estar uma meia hora. Decorrido este tempo, leva-se a cozinhar durante uns vinte minutos. Depois, acrescenta-se a água necessária, de acordo com a medida de arroz que entendermos. Junta-se o pimento cortado, os bróculos e deixa-se ferver. Quando sim, o arroz. Envolve-se tudo e deixa-se cozinhar, mantendo o tacho destapado. Entretanto, rectifica-se o tempero e vai-se acrescentando água, se necessário. Quando o arroz ficar cozido, junta-se mais um pouco de coentros picados. E sim. É comida para "servir de imediato".
Com a comida para dias de chuva, a música que quis ouvir hoje.
A comida conforto começa a apetecer por estes dias. Já chove e a transição que tanto me custa parece agora inevitável! Mas há estas coisas boas, como a comida em prato fundo e a vontade de ficar em casa com um livro. Ian McEwan é dos meus autores preferidos. (Agora começo a descobrir um autor nosso que também tem livros claustrofóbicos, o João Tordo). Mel já está na lista das próximas aquisições.
ResponderEliminarResto de boa semana.
Abraço
Guida
Muito boa esta comida para dias de chuva, um arroz que corre para o nosso prato, que sabe particularmente bem nestes primeiros dias de chuva, que apetece demorar na mesa, só com o garfo ou uma colher. Eu acrescento lhe o pão. Hum ! Muito bonito este teu arroz.
ResponderEliminarE a lembrança a um livro que está aí, com um nome lindo. Tu sempre foste assim, de decorar números. Um beijo grande !
da Pipinha
Querida Mar,
ResponderEliminarFoi bom voltar a ler as suas entradas na paz do meu escritório. Gosto de estar em casa e gosto de pensar em jantares reconfortantes, como o seu. Tenho apenas uma dúvida. O que são lombelos?
Um beijo
Fa
Adoro estas comidas de conforto. Dão colo. Assim como a comida das mães... Parece que é irremediável. Esses dias estão mesmo a entrar devagar. O Outono chegou!
ResponderEliminarBeijo, minha Mar
Babette
Olá Guida:
ResponderEliminarPercebo isso da transição. Acontece-me. Por isso é que gosto quando já está em curso franco, a estação dos dias que chovem. E gosto especialmente de ir desenhando os finais de dia, enquanto decorre o que acontece. Como ontem. Só pensava que iria chegar a casa. E que depois de um banho quente, iria pôr música e fazer comida assim.
E há escritores deste género. De se gostar com tudo. De cada um dos livros. Abençoados os que escrevem assim. E hei-de ler o seu escritor dos livros claustrofóbicos. Obrigada por essa referência.
Um abraço para si.
Mar
Lembro-me sempre de ti, quando faço coisas deste género. Sei que gostas muito. E sim, com pão. Foste sempre de ir comendo pão sem nada. E depois com as coisas que vinham para a mesa.
ResponderEliminarE fazer o quê? Sempre é melhor ou menos esquisito decorar as páginas dos livros do que andar a decorar matrículas de carros:)
Um beijo para ti.
Mar
PS: Ontem nem te liguei outra vez. O Vasco "raptou-me" um bocadinho:)
Olá Fa:
ResponderEliminarE eu de a ler no seu blog. Estive a olhar as imagens que deixou. A memória do Rio em mim é de tal maneira sensorial, que acabo por voltar ali em viagens transatlânticas que demoram fracções de segundos.
Não sei se no Sul usam outra designação. Mas por aquilo que percebi da explicação do senhor do "meu" talho, os lombelos são a parte mais tenra da vitela. Muito pequena e deliciosa para fazer assim. No tacho. Deixa um molho denso e escuro e é muito versátil.
Um beijo.
Mar
Irremediável, o Outono. Assim como a nossa vontade de colo. De dar e de receber. Acabei há pouco de te falar das coisas boas que se pode fazer com esta carne. E de outras coisas boas a haver:)
ResponderEliminarUm beijo para ti, minha Babette.
Mar
Quente e reconfortante essa proposta! E como cenário alternativo, que tal combiná-la com uma lareira acesa numa cozinha de aldeia, uma panela de ferro ao lume e a companhia de uma bela estória contada por alguém mais velho?! E um outro detalhe... nesse cenário alternativo, o cabo do garfo só poderia ser de madeira!...
ResponderEliminarBeijo,
com carinho,
Isabel
Quente e reconfortante essa proposta! E como cenário alternativo, que tal combiná-la com uma lareira acesa numa cozinha de aldeia, uma panela de ferro ao lume e a companhia de uma bela estória contada por alguém mais velho?! E um outro detalhe... nesse cenário alternativo, o cabo do garfo só poderia ser de madeira!...
ResponderEliminarBeijo,
com carinho,
Isabel
Quente e reconfortante essa proposta! E como cenário alternativo, que tal combiná-la com uma lareira acesa numa cozinha de aldeia, uma panela de ferro ao lume e a companhia de uma bela estória contada por alguém mais velho?! E um outro detalhe... nesse cenário alternativo, o cabo do garfo só poderia ser de madeira!...
ResponderEliminarBeijo,
com carinho,
Isabel
Quente e reconfortante essa proposta! E como cenário alternativo, que tal combiná-la com uma lareira acesa numa cozinha de aldeia, uma panela de ferro ao lume e a companhia de uma bela estória contada por alguém mais velho?! E um outro detalhe... nesse cenário alternativo, o cabo do garfo só poderia ser de madeira!...
ResponderEliminarBeijo,
com carinho,
Isabel
Mar,
ResponderEliminarPeço imensa desculpa pela repetição do comentário que aconteceu por um erro que me parece não terá sido meu.
A indicação de erro na introdução da combinação dos caracteres obrigou-me a mais que uma tentativa. Afinal o registo do comentário estava a repetir-se sem eu me aperceber.
Um beijo
Isabel
Olá, Mar.
ResponderEliminarBom chegarmos ao nosso casulo. Tal como tu, penso muitas vezes no que me espera, ao chegar a casa. É um consolo, principalmente, em dias difíceis. Saber que temos os nossos homens, comida quentinha e um livro à nossa espera (no meu caso, com marcador :)é, realmente, uma espécie de escudo.
Adorei o garfo ;) Acho que nunca o tinha visto :) E lê João Tordo. A Guida tem razão, é muito bom.
Um beijo de bom domingo,
Ilídia
Para mim os livros são uma ótima companhia mas têm de ter marcador (próprio)! Já vai apetecendo ficar em casa, com comida substancial e boa companhia!
ResponderEliminarUm bom domingo,
Graça
Olá Isabel:
ResponderEliminarA começar pelo seu pedido de desculpas. Eu é que peço. Há um mecanismo qualquer que me é alheio e que dificulta a publicação de comentários. Já tive algumas "queixas" de pessoas que viram desaparecer as coisas que tinham escrito. Uma coisa que me custa ouvir. Por dar tanto valor ao tempo que alguém dedica a escrever a alguém. O engraçado é que no seu caso, o blogger resolveu multiplicar o seu comentário:) Temperamental, este mundo virtual:)
Agora, para o que escreveu quatro vezes:). A lareira. Sim. Muito, a ideia de uma lareira associada a comida deste género. E pessoas com histórias e estórias dentro. Para a próxima, haverá garfos com cabos de madeira. Hei-de lembrar-me disso. E de si. Agora que já falámos tanto:)
Um beijo para si. E desculpe a maçada disto dos comentários multiplicados.
Mar
Olá Ilídia:
ResponderEliminarÉ uma coisa de antecipação. Curioso como a rotina encerra esta componente de ritual sagrado. E então, regressar ao que sabemos de cor(ação) é regressar a uma "eterna novidade". Até sei a sequência. Até sei a cadência. Mas há sempre aquilo de cada dia ser um dia que nunca foi. Que nunca há-de ser outra vez. Grande, isso. Muito. Dádiva que agradeço reiteradamente com o que posso.
Bom que tenhas gostado dos garfos com cabos de cristal. Não os uso muito, daí nunca se verem. São frágeis. Hei-de memorizar as páginas do escritor de que tu e a Guida gostam. Obrigada também por isso.
Um beijo.
Mar
Olá Graça:
ResponderEliminarSei que sim. Que se usa sempre um marcador para as páginas. Eu não. Coisas. E sabe uma coincidência? Umas páginas à frente da 67 e a personagem do livro dizia que memorizava as páginas dos livros que lia:) Por causa do amante dela e do amor dele pelos livros.
Uma graça enorme, essa de que falou. Ficar em casa. Com quem se gosta. E comida. E livros. Está tudo bem, assim.
Um beijo para si.
Mar
Olá Mar,
ResponderEliminarLivros sem marcadores para mim é uma coisa impensável. Os meus dias são tão caóticos, tão cheios de números, que não conseguiria decorar as páginas dos livros. Ou se calhar até sim. Não sei. Mas consigo fazer esse exercício, pensar no momento em que chego a casa e posso fazer comida de conforto, com tempo, com calma. Isso dá-me tranquilidade, aquela que não consigo durante o dia. E o seu arroz está mesmo apetecível. Ontem para jantar também houve um prato parecido mas com massa e sem os brócolos, que sábado não houve tempo de mercado.
Um beijo
Íris
Olá Íris:
ResponderEliminarEu memorizo as páginas porque sempre perdi os marcadores. Confiava neles. E eles perdiam-me a página:) Acabei por fazer assim.
E sim. Com todas as diferenças. Com todos os contextos. Há denominadores comuns. Como comida deste género. E o bem que sabe.
Um beijo para si. Obrigada.
Mar
Confesso, já sentia saudades de vir aqui. E saio com a alma reconfortada com este prato. É mesmo disso que se trata. A Mar conseguiu descrever o cenário de um dia ideal de outono ou de inverno: o consolo do lar, na companhia dos nossos e de um bom livro. Neste momento estou a ler As Esquinas do Tempo, de Rosa Lobato Faria e estou a deliciar-me com tamanha sensibilidade.
ResponderEliminarUm abraço para si.
Patrícia
Olá Patrícia:
ResponderEliminarNada como essas imagens próximas. Uma casa. Comida que conforta. Que as nossas pessoas estejam bem. E um livro. Seja qual for. Uma boa leitura para si.
Um abraço.
Mar