Conspiração.




De vez em quando, aquele esmorecer. De vez em quando, o persistente de pensar que não adianta. Que não faz diferença nenhuma. Que o melhor mesmo é estar-se quieto e pronto. Permitir que a vida vá acontecendo sem que se tenha uma palavra a dizer. Ou sem que as palavras se transformem em coisas. De vez em quando, aquele não saber. Só esse não saber. Se sim. Se não. E vontade de resguardo. De estar a salvo do que lá fora estilhaça.
De todas as vezes, uma espécie de conspiração. Tanta, desta vez. Tanta. A suceder-se, de inequívoca. Como se fossem sussurros. Como se o universo tangível dissesse que não era por ali. Que sim. Que até adianta(mos). Que sim. Que é melhor fazer e dizer coisas. E se correr mal, logo se vê. Quebra-se um bocadinho. Mas arranja-se maneira de preserverar.
Os dias difíceis e silenciosos terminaram assim. Com uma sucessão de coisas que foram muito. Que fizeram com que esmorecer não fosse possibilidade. Não agora, pelo menos. E foi assim. Com coisas destas. Coisas da terra surgidas do inesperado. Manifestações carinhosas. "Sabemos que gosta", dizia a voz a que abri a porta. E sim. Muito. Tanto, no dia em que aconteceram. Sem saber, uma diferença enorme, que uma pessoa fez. Acaba por ser isso que as pessoas mais fazem. Diferença nas vidas umas das outras. Isto fica aqui para não me esquecer de um dia em que estive quase a deixar ir. Por ter pensado que não adiantava nada. Guardada agora, a conspiração breve do meu universo próximo. E a minha gratidão.

PS: Obrigada aos "conspiradores".

13 comentários:

  1. Um conflito interior, seu, mas também de nós todos, tão bem expresso em palavras. Conspirações mentais. Nada de palavras ditas.Reflexões, portanto.A prova de que o silêncio vale muitas vezes mais do que mil palavras.Pelo menos ajuda-nos a pensar melhor sobre se naquele momento vale mesmo a pena falar.
    Fez-me começar a minha manhã de forma filosófica. Gostei muito, como sempre, de passar aqui. Gostei demasiado das fotos. Gostei do gesto que fez a diferença.
    Um grande beijinho.
    Patrícia

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  2. Olá Patrícia:

    Muito do discursivo que há neste texto é feito de silêncios. O culminar de um ano particularmente difícil. Permanentemente a rever pontos de vista. Deu para verbalizar isto. Mas foi assim mesmo. Aquele dia tinha sido tão difícil. Tinha regressado a casa com aquela ideia de que devia estar quieta. Eu e as minhas ideias sobre o mundo. E não. Tão errada, que estava. Esta surpresa luminosa disse-me baixinho que eu estava tão errada. Ainda bem que sim.
    Fico feliz por ter começado bem o seu dia. E por esse começar ter passado por aqui. Qualquer coisa de dádiva, nessas coisas. Obrigada. E que esteja bem. E o mérito das imagens é mesmo dos ingredientes:) Coisas acabadas de colher. Por mãos generosas e carinhosas.

    Um beijo.

    Mar

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  3. Sim, tantos momentos assim, em que só queremos ficar fechados, protegidos na nossa concha, com medo,pela insegurança do que se passa lá fora. E depois, a diferença feita num micro-segundo, com uma palavra, com um gesto, com um olhar, o que seja, mas que nos faz sair da concha e deixar a pérola brilhar, que nos faz romper o casulo e ser a borboleta linda e colorida.
    Ainda bem...que seja sempre assim, então!

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  4. Olá, minha querida. Fico feliz por saber que estás melhor. As pessoas podem fazer uma grande diferença, realmente. Toda a diferença. E nada como as coisas da terra para nos arrancarem sorrisos. Lindas, as tuas fotos dessas coisas. E tu fazes muita diferença nas nossas vidas. Na vida de quem te lê. E de quem tem o privilégio de te ter como amiga. Nunca te esqueças disso.
    Um beijo,
    Ilídia

    P.S.: Despedi-me hoje do blogue. Preciso de me afastar e de estar sossegada. Para voltar, com saudades.

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  5. Querida Mar,

    Gostei muito das fotografias. A combinação de cores e de texturas esta fantástica.

    Beijos

    Fa

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  6. Mar, receba um abraço.

    Jo : )

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  7. Olá minha happy single mother:

    Faz parte. Estas coisas que nos abatem um bocadinho. Mas acho que sou mais por essa imagem que deixaste: de uma borboleta. O Vasco fala muitas vezes no "efeito Mar":)

    Um beijo grande para as duas.

    Mar

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  8. Olá Ilídia:

    Já estava, quando falámos. Estes processos são necessários. E a lucidez, como em tudo, ajuda muito. Guardo as coisas que disseste. Com o carinho e a gratidão que me merecem. Percebo a tua vontade de parar um bocadinho. Necessária, também. Vais voltar mais. Com mais.

    Um beijo.

    Mar.

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  9. Olá Fa:

    Gosto que tenha gostado. Tão bonitas, as coisas que foram um presente. Quase que não precisavam de mais nada. Só de registo.

    Um beijo para si. Que esteja bem.

    Mar

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  10. Olá Jo:

    Só para dizer que recebi o seu abraço. E que me fez bem:)

    Receba outro.

    Mar

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  11. É muito frequente o sentimento de que o que se faz ou pensa não contribui em nada para que certas coisas evoluam. Triste quando se sente que a nossa presença não significa nada. E depois fica-se em silêncio, arranja-se um "canto" que seja só nosso e fica-se lá até que alguém nos faça perceber que a vida tem muito valor e que podemos ter significado para outras pessoas, que também tem significado na nossa vida.
    A oferta que lhe fizeram é linda e as hortênsias deram-lhe um toque muito especial!
    Gostei muito do seu texto!
    Um beijo,
    Graça

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  12. Olá Graça:

    Há coisas que não quero nem posso verbalizar aqui. Por mais que eu até seja pela verbalização. Mas como tudo, na medida do possível. Mas nada disso me impediu de registar a parte luminosa das coisas que me fizeram mal um bocadinho. Resgatada pela bondade de uma pessoa, que fui. Dava lá para continuar a pensar que era para estar quieta:) A minha gratidão por ter gostado do texto. Das hortênsias.

    Um beijo.

    Mar

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  13. Falámos nesse dia ou no seguinte, creio. Não apaga o dia menos bom, mas faz relativizar e acreditar que vale a pena sermos como somos. Nada apáticas, nada descrentes, nada conformadas. Tudo o resto de mau existe, nada a fazer. Mas estas pequenas surpresas que a vida nos traz ajudam-nos a criar os nossos próprios muros protectores. E a valorizar o melhor.
    Beijos já para o Sul!
    A saber a alfarroba ;)
    Babette

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