Graça.







Um jantar. Uma mesa. As flores que vieram parar aos meus braços. Velas. Muitas. Pontos de luz espalhados pelo jardim. Tudo a querer agradecer. Tudo a querer ser uma homenagem possível. Aos que há uns meses foram isso mesmo: uma homenagem a alguém que lhes persistiu na memória. Uma espécie de reacção em cadeia, estas coisas. Sucedem-se umas às outras. Um gesto há-de motivar outro gesto. De uma palavra nascerá outra. Um momento pode arranjar sempre hipótese de fazer acontecer outro. Repercussão grata do que nas nossas vidas é dádiva. Quando é assim, temos mesmo de fazer alguma coisa. Eu fiz aquilo que é à minha medida. Pensei numa ementa. A seguir, os passos para que saísse do pensamento e fosse real e efémera. Depois numa mesa. Na maneira como as coisas se conjugariam. Tal como acontece nos nossos percursos. Peças a conjugar-se. Puzzles inacabados, que somos. Nunca sabemos bem. Como ou quem ou o quê. Mas quando as pessoas (nos) acontecem assim, o imperativo é procurar ser digno.
E então, a memória deste jantar será sempre iluminada. Por tudo aquilo que nos outros é sublime. E nos faz querer ser merecedores. Da graça de nos terem acontecido.

8 comentários:

  1. GRAÇA
    RECORDAÇÃO

    No jantar,na mesa,nas velas espalhadas//pela casa,no jardim,em memória//das coisas,das pessoas,dos afectos...

    Nas palavras,nos gestos,em imagens//que irão perdurar,como escritas no tempo//de um tempo reconstruído por sinais...

    No som das árvores de milenar silêncio//e ,no entanto,em idade aquém//do tempo retratado em verde sempre verde...

    No alabastro de míticas Figuras//
    que ainda estão,pela imortalidade//perpetuada na força do viver...

    Nas heras que serpenteiam aquele chão//de símbolos feitos de outra simbologia//que só acontece na busca da verdade...

    Nos livros espalhados por recantos//onde apetece ficar pelo prazer de estar//como se a cultura fosse apenas improviso...

    No calor desse ninho onde há mantas para o frio//e aromas a incenso e garrafas vazias//a recordar momentos de íntima presença...

    Nas flores e nos abraços,segredos partilhados//com quem nos acontecem acasos singulares//senti,naquela noite,a VIDA quase perfeita...

    E hoje,em jeito de oração-recordação,três beijos e três sorrisos :) :) :)

    Aurora Simões de Matos

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  2. Um ambiente mágico, o que descreves. E o que as fotografias deixam adivinhar. Linda, a estatueta. E as orquídeas :)
    Também espero merecer sempre a tua amizade.
    Um beijo,
    Ilídia

    Um beijo também à Aurora, que escreveu palavras tão lindas.

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  3. É por coisas destas que acho que devemos procurar ser merecedores. Chegar aqui e ter um poema à espera. A graça de um poema. Hei-de lembrá-la aconchegada numa manta, ali no terraço. E as luzes espalhadas. Nas mesas. No jardim. E no seu poema cabe tudo. Muito. As memórias desta casa que já viu muito(s). As heras de que gosto tanto, por fazerem com que o jardim tenha um quê de insondável, de inacessível. O amor do meu marido pela arte. Pelos livros.
    Falámos muito, hoje. Gostava que não tivesse sido ao telefone. Mas o corpo falhou-me e aconteceu isto de estar um bocadinho doente. Mas tinha de vir aqui lê-la. E responder. A graça da sua amizade fez-me levantar um bocadinho e vir aqui. Obrigada, que me fez bem. Muito.

    O nosso carinho para si.

    Mar

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  4. As orquídeas serão sempre tu:) Por serem as tuas flores preferidas. Foi uma noite muito bonita. Mágica. Entre a casa e o jardim. E quero também isso de ser digna de mais uma pessoa: tu.

    Um beijo para ti.

    Mar

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  5. NASCIMENTO DE UM ASTRO

    Dois clássicos lampiões guiaram-nos até ao Olimpo.Força mágica levitou os nossos corpos e rodeou-nos de êxtase.As divindades esvoaçavam macia e silenciosamente à nossa volta.A flora oásica deslumbrou-nos.Tudo fora planeado com sábia arquitetura.Olores convidativos,no sentido da secção gastronómica,onde o banquete era divinal e os vinhos de escolha tiónica.
    Num retiro celestial,em amena cavaqueira,recordámos,com saudade,o Dr.Alberto Casimiro A. Dias.Homem disciplinado,disciplinador,condutor de massas estudantis e ser ultra-humano.
    O afável António,de esmeradíssima educação,revelou-se como pedra de toque,deixando traço/risca e a "pinta"do seu próprio bisavô.
    Quisemos tornar aquela noite perpétua,mas "os anjos também dormem".
    Nos afetuosos abraços de despedida certeza de que jamais uma recepção poderia ser igualada em requinte.
    Apercebi-me de que a Lolita vos adora.E eu divinizo-vos.Sois um casal encantador.

    GOD BLESS YOU DOTH.

    D.Marques Bernardo

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  6. Queria começar por agradecer o seu comentário. E a generosidade com que se dedicou a deixar aqui sinal do nosso jantar. Uma noite dedicada às homenagens. Aquela que eu e o meu marido vos queríamos prestar. Pela que prestaram há uns meses. E a outra. Ao avô dele. E sim. Marcas dele no meu filho. De vez em quando comparo retratos. As três gerações de homens têm muitos pontos comuns. O meu marido é alto e de porte atlético tal como o avô dele é lembrado. O meu filho irá pelo mesmo caminho, a julgar pela altura dele. A genética e os seus caminhos a funcionar. Gostei tanto da sua evocação. Da maneira cadenciada e serena como recordou alguém que já não respira. Assim é como se respirasse em nós, se calhar. Cada uma das pessoas desaparecidas acaba por respirar nos que ficam.
    Fico muito feliz por ter tido a honra de preparar uma refeição e uma mesa. Quis muito que tudo fosse digno da vossa presença ali. O princípio do acolhimento passa muito por aí. Por querermos ser dignos de quem se senta à nossa mesa.
    A nossa gratidão para vós.

    Mar e Vasco.

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  7. É um sentimento muito especial esse que nos faz querer dar um pouco de nós e do que sabemos fazer a outros.
    A mesa transmite isso mesmo, que quem se sentaria nela seria alguém com muita importância na vossa vida.
    Tudo pensado ao pormenor e em harmonia. A toalha, a estatueta, os pratos e as velas são os meus preferidos!
    Graça

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  8. Olá Graça:

    Lembrei-me de si, quando escrevi o título deste post. Normalmente, a palavra designa uma pessoa, quando escrevo Graça:) E o fundamental esteve mesmo à mesa: o querer muito que aquelas pessoas se sentissem acolhidas. As coisas serviram esse propósito, creio. E fico feliz por ter gostado. Obrigada.

    Um beijo para si.

    Mar

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