Integridade.





Não é só uma questão de território ou de geografia. Não é só aí que vive a integridade. Embora pareça nascer daí. Da terra. E de como as coisas se ligam a ela. As casas humildes, térreas e brancas. As ervas que dão notas inesquecíveis a comida que é assim como as casas. Mas que ganha uma alma que permanece, com as ervas e os aromas que vivem nas ervas espontâneas dos campos. Depois há as árvores. Gosto muito de as olhar. Dão-me sempre a ilusão de figuras humanizadas. E eu sei que isso está no meu olhar. Que efabula ou elabora. Não importa muito que assim seja. Não vem mal nenhum ao mundo que eu elabore ou efabule.
A este lugar chega-se e parte-se com o mesmo entorno muito plano. Muito quieto. Está perto da cidade. Mas ela respira à distância. Podemos escolher perdermo-nos nas ruas brancas de Évora ou não. E permanecermos ali. Num convento. Sereno e austero. Como devem ser os conventos.
Do que me hei-de lembrar mesmo é do silêncio. O das noites naquele lugar. E o dos mármores da igreja muito vazia. Talvez a ideia de recolhimento, ali. Talvez a de acolhimento. Ou talvez seja só vontade de procurar um lugar que pareça imperturbável ante o mundo que acontece.
No Convento do Espinheiro ficaram as minhas noites silenciosas. A lua muito inteira que eu não consegui para aqui. Só um vislumbre. Falha minha. E a memória da estrela cadente mais bonita que alguma vez pude ver. Parecia disseminada. A acontecer ali. E pensar nas probabilidades e nas improbabilidades todas, a esse propósito. Fica guardada na memória. E talvez fique para sempre ali, naquele lugar que me fez bem. A ver se volto, um dia. A ver se acontece outra luz como a daquela noite. Enquanto a terra à volta fingia dormir. A fervilhar de vida, que estava. Nós é que achamos que a terra dorme. Mas não. Basta ouvir um bocadinho e percebe-se logo que não. Que a integridade não dorme. Permanece.

6 comentários:

  1. erpordAdoro a calma serena do Alentejo. As paisagens são tranquilizantes e espraiadas. Lugares com ar e espaço, é isso. Gosto que haja espaço entre as casas, as pessoas e os sítios. A primeira foto está deslumbrante.... E como falávamos mesmo há pouco, a descrição da estrela cadente é mais uma memória de um instante feliz. Como de outros que aí somaste. Que bom. Mesmo. Integridade deste lugar e memórias integradas, então.
    Um Beijo, para mim já muuuuito tarde ;)
    Da tua,
    Babette

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  2. Que boa a tua viagem. Casas,terra, árvores, lua, silêncios e vidas. Viajar para todas estas coisas, e virmos cheios do que encontramos para casa. Tenho saudades de uma viagem dessas, depois de uma viagem de cidade grande e movimentada. Que bom que é planear, será para um dia :)
    Gostei muito das tuas fotografias. Muito linda a primeira, que ajuda as outras a serem-no ainda mais.
    Um beijinho grande para a minha amiga com o nome do Mar ali do outro lado da janela.

    da Pipinha

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  3. É com estes momentos que se vai preenchendo a vida e que se arranja energia para enfrentar as dificuldades da vida. Tão bom o silêncio, as árvores, a comida, as casas de outros lugares para que se possa voltar ao nosso lugar mais preenchidos.
    Um beijo e boa semana!

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  4. Neste departamento, somos ao contrário: eu sou nocturna, tu ficas cheia de sono:) Mas soube bem estar a falar prolongadamente. Dizes bem. Lugares com ar e espaço entre as coisas.
    Nunca mais me esqueço daquela estrela, sabes? Depois de a ver no terraço, vim contar ao Vasco como se tivesse dez anos. Ele riu-se:)Mas era mesmo bonita e brilhante.

    Outro beijo. E já é tarde outra vez:)

    Mar

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  5. As tuas deambulações foram mais de "movida":) Barcelona pede que assim seja, creio. E sim. Estive quieta, ali. Passei bons pedaços das tardes a fazer absolutamente nada. Era o que mais queria. Sem ter de estar sempre a justificar a minha existência. De vez em quando, é mesmo bom que as nossas vidas não tenham de servir para nada:)
    Também gosto muito dessa imagem que abre o resto. Parece que alguém andou a alinhar as nuvens. E a fazer com que as sombras das árvores fossem simétricas. Mas não. Aconteceu, só. Como o mar aí perto de ti.

    Um beijo da tal amiga com nome de Mar:)

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  6. Olá Graça:

    Vida para que a vida seja mais. Preenchida. Acrescentada. E sim, também para isso de enfrentar. Nem imagina quanto.
    Obrigada por estar aí. Mesmo que seja muito longe.

    Um beijo de boa semana para si também.

    Mar

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