Uma questão de tempo.




























Seria isto. Seria risotto. Se tivesse de pensar rápido na última coisa de todas, seria risotto. Podia ser como o da imagem. E queria pedir para que fosse feito por mim. Não é por presunção. Não por achar que o faço como ninguém. Não é nada disso. É só por ser tão belo de fazer. É só por isso. Só porque há uma entrega diferente das outras todas. E um quase amor nos pormenores. Quase a sermos um rosto possível de uma coisa desconhecida. E bela. Começa pela escolha dos legumes. Continua no ritual de os partir com devoção. E depois juntar as cores todas que inventámos. Com isso, os grãos de arroz. Vinho branco para aquela efervescência que é como nenhuma outra. E tempo com cuidado. Tempo com atenção. É uma questão de tempo, no fundo. Cerca de vinte e dois minutos, para dar uma medida ao tempo necessário. Até haver isto.  

Risotto de aipo com tiras de bacon tostadas

1 alho francês + 1 talo de aipo + metade de um pimento vermelho + 1 copo de vinho branco + 1 chávena almoçadeira de risotto (desta vez usei arborio) + 1 litro de caldo de legumes + 1 colher (de sopa) de manteiga + sal, azeite e queijo parmesão q.b.

Antes de tudo, a água com um cubo de caldo de legumes. Ao lume até ferver. Enquanto isso, corta-se o alho francês, o aipo e o pimento em pedaços pequenos. Leva-se ao lume em azeite, num tacho largo. Faz-se um refogado leve e junta-se o risotto. Mexe-se várias vezes, para integrar bem o arroz. Quando chegar a altura, o vinho branco. E a evaporação. Mexe-se até não haver vestígios de vinho. Por esta altura, o caldo de legumes já ferveu. Adiciona-se metade, até cobrir o arroz. E mexe-se até desaparecer o caldo. Junta-se o restante, com um pouco de sal. E voltamos ao gesto. Mexer até não haver líquido. Só que desta vez, quando desaparecer, juntamos a manteiga e o parmesão ralado. Envolve-se tudo e prova-se, para ver se precisa de mais sal. Feito isto, fecha-se o tacho. Mas não completamente. Deixa-se um bocadinho entreaberto. Dois minutos exactos antes de servir.

As tiras de bacon vão ao forno num tabuleiro, quando se juntar a segunda dose de caldo de legumes. E deixa-se estar, enquanto nos ocupamos do risotto. No momento de servir, estarão bem tostadas. Prontas para dar uma graça final. E dão. Resultam muito bem, com um risotto leve de aipo.

Com risotto, vinho tinto. Acaba por ser com tudo, o vinho tinto. Mas este é um dos que apetece sempre. Herdade dos Grous. 2009. Ou Reserva 2008. Ou qualquer coisa que tenha este rótulo. Até ver, que isto dos vinhos varia de ano para ano. De garrafa para garrafa, às vezes. Não há adquiridos. Embora também aqui seja uma questão de tempo. Precisa de tempo, o vinho. E dá uma noção de tempo que deixa rasto. Nunca é de esquecer, quando acontece a graça de um vinho que deixa rasto atrás de si. Que nos faz querer mais da noção de tempo que deixa marca. Sem pressas. Sem nos precipitarmos. É assim com os risottos. É assim com o vinho. Uma questão de tempo. E outras coisas que eu não sei dizer.  

14 comentários:

  1. Olá, Mar. Que reconfortante foi ligar o computador e ver este risotto e este copo de vinho. Iam tão bem agora, fora de horas :) Lembrei-me de um post teu, com este título.
    Acabei agora de corrigir o grupo II dos testes intermédios. Mais de 80 testes. Depois de um dia como o de hoje, comecei pelo mais fácil. Amanhã, começo a corrigir a interpretação. Estou cansada. Vou dormir.
    Um beijo,
    Ilídia

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  2. Nunca comi risotto. Tenho imensas receitas guardadas para experimentar mas ainda não tive "coragem" para experimentar. Tenho receio de não gostar. O seu está com ótimo aspeto, apetece provar.
    O tempo é bom para muita coisa, incluindo alterar gostos e hábitos. Não apreciava vinho tinto, agora já aprecio, apesar de conhecer pouquíssimas marcas.
    Tenhamos muito tempo para apreciar as coisas boas da vida!

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  3. Partilhamos o mesmo gosto. Pelo risotto. Decididamente um dos meus pratos preferidos. E este de aipo, que ainda não exprimentei, deve ficar delicioso, bem perfumado. Como sempre uma receita deliciosa!
    beijinho

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  4. Olá Mar,

    Risotto feito por mim por não ser capaz de comer arroz feito pelos outros. Manias! Confesso que não sei de onde isto vem. Pode ser que um dia passe. Espero que sim. E risotto apetece sempre. Fazer e comer. E sim na preparação há uma entrega diferente, a calma, a tranquilidade e a dedicação que este prato pede para que fique no ponto.
    Este de aipo com bacon também já foi testado na minha cozinha e agradou muito a todos.

    Um beijo com carinho para si.

    Íris

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  5. Risotto de Aipo... é tão bom. Um vegetal que dá cremosidade só por si. Para essa refeição eu quereria pão com manteiga e café com leite. Só. Mas pode ser daqui a muito tempo ;)
    Babette
    PS. reuniões até muito tarde, noite difícil para adormecer os pequenos... não consegui ligar-te, mas pensei em ti. Amanhã. Sem falta ;)

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  6. Olá Ilídia:

    No mesmo espírito, eu. Se te serve de consolo. Testes e mais testes. Também corrigidos por grupos:) Vai passar. Passa sempre.
    E vês como já não tenho a noção? Não sabia que tinha um post com este título:) Surgiu-me, só. É provável que haja mais repetições de títulos. E de outras coisas.
    Que bom que o risotto teve esse efeito de aconchego. São assim, os risottos.

    Um beijo. Espero que estejas mais desanuviada, entretanto.

    Mar

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  7. Olá Graça:

    Queria perguntar se pode tentar. É tão suave e tão a saber a casa. Eu não especifiquei a quantidade de parmesão, por entender que isso deve ficar ao critério do gosto de cada um. Mas sei por intuição que não deve contaminar o resto. Que não se deve impor e anular o que já está. Porque o que está é delicado. E aconchegante. De fazer e comer com tempo. E só com o garfo. Como acontece com comida que reconforta.
    Também costumava gostar mais de vinho branco. Há algum tempo que não. O meu marido terá tido um papel fundamental para que assim seja.
    E sim. Tempo. Coisas boas com tempo. Peço o mesmo.
    Obrigada pelo seu comentário, Graça.

    Mar

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  8. Gostos partilhados. Partilhar o gosto por uma comida tão humilde. Um bom sinal, creio. Fica muito bem o aipo. Nesta possibilidade. E em muitas outras. Pela delicadeza do sabor, muito provavelmente. Ainda hoje o integrei numa canja e isso fez uma diferença cheia de suavidade.

    Obrigada mais uma vez. Por essa medida certa de ternura:)

    Mar

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  9. Olá Íris:

    E eu que pensava que tinha dado um toque diferente ao meu risotto de sempre:) Que bom que confirma que sim. Que sabe mesmo bem. E que bom imaginar a sua entrega a um ritual tão belo. Feito com tempo. E cuidado. E as coisas todas que nós quisermos trazer para aquele lapso de tempo. O tempo que demora a fazer um risotto. E acho que não faz mal que o queira feito por si. Já imaginou a perda?:)

    Um beijo com o mesmo carinho.

    Mar

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  10. Olá Babette:

    Faz parte, este processo. Já passou este dia. Fiz muitos carinhos à minha mãe. E canja quentinha como ela gosta. Vês? As coisas ficam um bocadinho melhores, com uma canja quentinha.
    Lembrei-me do teu gosto por aipo. E de como o integras nas tuas coisas. No risotto fica particularmente feliz. E em canja também. Infinitas possibilidades, as do aipo:)

    Um beijo.

    Mar

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  11. Os dias de precisar de casa e de mimos pedem comidas destas. E sim, o teu risotto é isso. Mimo, casa, carinho.
    Foi de ti que veio o meu gosto pelo risotto. É o prato que o Pedro pede no domingo à noite, quando já só somos de casa.
    Um abraço carinhoso,
    da Pipinha

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  12. Olá minha linda:

    Sei que sim. Que o teu Pedro gosta muito da comida simples que é assim como dizes. De casa com mimos. De onde não apetece sair.

    O mesmo abraço carinhoso para ti.

    Mar

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  13. Olá Mar,
    Só para dizer que experimentei. Não utilizei os mesmos ingredientes por não ter à disposição mas mesmo com as alterações, fiquei fã! O aipo dá um sabor muito bom.
    Não sei se conhece queijo de S. Jorge? Foi o que utilizei mas em pequena quantidade e não achei que fosse necessário mais.
    Obrigada por me ter incentivado a tentar. A repetir, com certeza.
    Um beijo e continuação de boa semana.
    Graça

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  14. Olá Graça:

    Que bom que experimentou o risotto. Reli há pouco a sua entrada do primeiro comentário. "Nunca comi risotto". Que bom que riscou "um nunca" da sua vida. Conheço e gosto muito desse queijo. Nunca utilizei em risotto, mas a Babette usa quase sempre. A ver se também risco um nunca:)

    Uma boa semana para si.

    Mar

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