A atravessar o (m)ar.






Tenho pensado muito nos efeitos das pessoas. Em como são consequências. Tenho pensado muito nos efeitos das "minhas" pessoas. Na minha vida. Nas consequências que são. As "minhas" pessoas vivem vidas que dificilmente coincidiriam com a minha. Algumas vivem perto. Outras mais ou menos perto. E outras ainda, muito longe. Tanto, que seria preciso atravessar o mar. Ou o ar. Com a Ilídia será assim. É assim. É preciso atravessar o mar ou o ar. É o que tem acontecido, desde que a vida nos fez coincidir aqui. Nestes espaços virtuais que alimentamos com a(s) realidade(s) de cada uma. Nesse momento lá atrás, a escolha mais luminosa. Não ficar à porta dos afectos. Não nos recusarmos as consequências. Uma assiduidade carinhosa, esta. A de nos lermos com reciprocidade. A de partilharmos rotinas. De nos enviarmos pensamentos de ânimo, nos dias que se adivinham difíceis. Coisas assim. Coisas que fazem com que o meu relógio dos afectos recue uma hora todos os dias. Porque nos Açores é sempre uma hora mais cedo. É que as "minhas" pessoas estão no meu pensamento. É por isso. Num dado momento dos meus dias, elas estão presentes. Penso no que estarão a fazer. Se estarão bem. Se o dia de sol que está lhes trouxe felicidade. Ou se não. Se estão a sentir-se a cair um bocadinho. E saber que muitas das vezes não tenho como saber.
A Ilídia é minha amiga. Mesmo que ainda não tenhamos estado perto no sentido imediato do termo. Mas eu sei isto. Eu sei que a Ilídia é minha amiga. Num registo que ultrapassa a simpatia ou a empatia. Num registo que é assim como ela. Declarativa, franca, impulsiva que é, a minha amiga Ilídia. Nestes meses, já sei essas coisas. Sei outras. E gosto muito da ideia de pensar para a frente. Em todas as coisas que ainda não sei. Em todas as coisas que ainda não aconteceram. Como atravessar o (m)ar. E ir. para conhecer a Ilídia. E as outras pessoas que agora fazem parte da minha vida, por fazerem parte da vida dela.
Esta mesa branca é para ela. Esta mesa branca nasceu de um gesto da minha amiga que vive numa ilha muito verde. Um gesto branco. Bordado pelas mãos carinhosas de mulheres da ilha verde onde ela vive.  Um gesto branco que diz Coisas d'Amar. Algumas das letras que fizeram com que significássemos uma para a outra. As outras letras são estas: Acre e Doce. E o bom que é pensar em todas as outras letras que ainda não foram.
Num domingo cheio de luz, um presente a atravessar o (m)ar. Uma mesa branca para a Ilídia. Por ter sido assim que ela escreveu. Que imaginava o presente dela numa das minhas mesas brancas. Hoje fica o meu presente possível. E obrigada. Muitas vezes isso. A minha gratidão muitas vezes. A atravessar o (m)ar.

13 comentários:

  1. A amizade é isso mesmo, é a preocupação, dedicação com o outro, a demonstração de afetos de diversas maneiras. Muitas vezes não é necessário atravessar o (m)ar para se saber que há afinidade e cumplicidade entre as pessoas. Outras vezes há pequenos gestos, como os vossos, que atravessam o (m)ar para enriquecer ainda mais a vossa amizade. Que vai crescendo.
    Que bem ficou a sua mesa branca com a prenda que atravessou o (m)ar.

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  2. Muito obrigada, minha querida. Uma mesa linda, como já esperava. Com tantos pormenores de que gosto. Os guardanapos, as tangerinas, o candeeiro na mesa :) É um privilégio ser tua amiga. Sim, 2012 será o ano em que vamos estar frente a frente. Cada vez estou mais feliz por ter criado um blogue. E o melhor é, sem dúvida, isto. Estas amizades que se vão tecendo e que atravessam o mar e o ar.
    Um beijo muito grande. Para ti e para as tuas pessoas.
    Ilídia

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  3. Esqueci-me de referir no comentário anterior, a avenca é a planta que associo à minha avó. Tinha avencas enormes, elogiadas por toda a gente. Falava com elas e dava-lhes carinho e acreditava que era por isso que eram tão lindas :) O meu raminho da comunhão tinha avenca :)

    Mais um beijo

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  4. Olá Graça:

    Este registo virtual tem-me ensinado muito acerca da dedicação. Estranhamente. É incontornável aquela ideia mais ou menos ingrata, relativamente ao domínio virtual. Já partilhei dessa ideia. Deixou de ser possível, isso. Pelo muito que me tem sido ensinado aqui. De muitas maneiras que me deixam a maior parte das vezes com a sensação de isto ser completamente imerecido. Mas também, os afectos são assim, julgo. Imerecidos. Espontâneos. Sem esperarem retorno ou gratificação. Talvez reciprociddae. Isso sim. Sou pela reciprocidade. A minha mesa tentou ser recíproca. Tentou dizer coisas que nem sempre conseguimos verbalizar. Ela merece. E merecia muito mais. A ver se estou à altura da amizade que vai crescendo. Mesmo com um mar grande entre.

    Obrigada pelo seu comentário. Carinhoso e generoso. Como sempre.

    Mar

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  5. Olá minha Ilídia:

    Enquanto escrevo, sinto-me uma espécie de sobrevivente:) Corrigi duas turmas de testes, hoje à tarde. E estava a ver se conseguia uma terceira, agora. Mas resolvi-me por uma pausa. Sabes como é. Mas estou aqui. E desta vez menos desanimada, porque houve menos negativas.
    Sabia que irias gostar das tangerinas. Escolhi as mais bonitas, quando fui ontem ao mercadinho da minha Dª Alice. Com folhas muito verdes. Guardanapos com flores. E sim, o candeeiro foi uma homenagem silenciosa e luminosa à minha amiga dos Açores. Tinhas gostado tanto de o ver na mesa azul-turquesa, que tinha de estar na mesa branca que quis atravessar o mar.
    Eu sei que sim. Que a vida vai arranjar maneira de ser assim como disseste. Até lá, isto de nos irmos escrevendo e lendo. Um bom exercício, esse.
    Que bom que reparaste no pormenor da avenca. Uma planta muito etérea. Há ali fora no jardim. Num lugar mais ou menos escondido. Muito bonita. E nem reparava muito nela nem nada. Mas o Vasco gosta muito, também. Talvez por ser uma representação muito verde e frágil de uma certa ideia de humildade. Para mim, na tua mesa branca, foi significante do verde da tua ilha. Foi isso. Que bom que por entre essas coisas, aconteceu lembrar-te a tua avó.

    Um beijo com carinho. A atravessar o (m)ar:)

    Da Mar.

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  6. Querida Mar:
    E por ser 2ª feira quero desejar-lhe uma boa semana. Para si e para todos os que a estimam. E que são já muitos. E dizer-lhe que é muito lindo tudo o que escreve. E que sabe bem vir aqui. Fica-se melhor. Merece a pena.
    Um beijinho nesta semana especial. Passei muitos dias sem ligar o computador.
    Um beijinho.

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  7. Querida Mar,
    A quebrar o silêncio, aqui estou eu. Hoje foi um bocadinho de tristeza que me fez demorar a ler as suas palavras. Que me deram um bocadinho de conforto. Num dia em que não sei o que tenho, mas em que não estou bem. Por isso procurei conforto também aqui. Num sítio que é paz para mim. E luz, sempre. E braços abertos para mim no meu silêncio mais demorado. Tudo o que hoje mais preciso.
    Obrigada por isso também.
    Um beijo com ternura,
    Mafalda

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  8. Olá minha Lusitana que passou muitos dias sem ligar o computador:)

    Estar aqui. E poder ler isso. Que quer uma boa semana para mim. Alargada aos que me querem bem. Eu e os que me querem bem agradecemos. E dizemos que queremos o mesmo para si.
    É bom acontecer isso de lhe fazer bem. De ficar bem depois de ler. Faz valer a pena. A maior parte das vezes, enquanto escrevo aqui as minhas coisas, penso que são coisas que não interessam a ninguém. Mas faz-me bem o registo. Ao sabor do que me sabe bem. Uma vontade humilde de deixar coisas que sabem bem. Que fazem bem. Como as suas palavras de segunda-feira. Obrigada. Por si. E pelas palavras.

    Carinho para si. E boa semana especial.

    Mar

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  9. Olá Mafalda:

    Os dias assim. Aqueles em que sentimos que há qualquer coisa que não sabemos. Ali, insistente. Persistente. É pior quando não sabemos. Quando não conseguimos nomear. Ver. Dar um rosto. Acontece-me. Entendo.
    Aquilo que eu queria dizer muito é essencial. Como a luz. Ou como uma mesa branca. Vou querer muito que a minha Mafalda dos silêncios fique bem. Que consiga saber o que magoa. Para poder arranjar maneira de estar à frente disso. Sem ignorar. Sem máscaras. Vai estar nos meus pensamentos. Vou pedir interiormente para que fique bem. Costuma resultar. As pessoas dizem que aquilo que eu desejo com muita luz, acaba mesmo por acontecer. Vou tentar isso da luz. A ver se é como das outras vezes.

    Um beijo com a mesma ternura. E sim, sempre com acolhimento.

    Mar

    PS: Vou escrever no email daqui a pouco, que estou preocupada.

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  10. Depois de dias difíceis, respirar fundo. E captar a serenidade que vem das tuas mesas brancas. Com um pouco da Ilídia. Que bom que o (m)ar tenha conseguido ser transposto num segundo. Tiveste a Ilídia mais perto nesse dia. E eu também. Que me ligaste a dizer que a "nossa açoriana" me mandava beijinhos. Obrigada às duas!
    Babette

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  11. Querida Mar,
    Dormi e acordei e hoje foi um dia novo. O sol brilhou, consegui ir de fugida ver o mar :) e sinto conforto em forma de sopa (hoje de feijão encarnado), de flores e de luz. Aconteceu isso da luz. :) Obrigada, por isso e por tanto. Por pedir interiormente por mim. Só queria que soubesse que hoje estou melhor. Amanhã respondo com tempo ao e-mail. :)
    Um abraço e um beijo com aquela ternura,
    Mafalda

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  12. Sei que sim. Que por esta altura, fechas os olhos e respiras fundo. Já passou, que é o importante. Uma coisa difícil que precisou de ser vivida. E que já passou.
    E a nossa Ilídia dos Açores. Também preocupada, lá longe. E com as manifestações que são muito (d)ela.

    Um beijo. Depois de mais uma turma de testes corrigidas. Mas a tempo de um chá muito nocturno. Precisava de uma recompensa, depois de tantas horas:)

    Mar

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  13. Olá Mafalda:

    O importante era saber que está bem. Que aconteceu luz que fez com que ficasse bem. Muito possivelmente, aquela luz que nasce todos os dias. Muito certa, a formulação: um dia depois do outro. Como lhe disse no email. A sabedoria lenta do tempo.
    Obrigada. Fez com que o meu dia acabasse melhor. Saber que está melhor fez com que fosse assim.

    Um beijo. Com o carinho todo que merece.

    Mar

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