Vila Joya.





Inscreve-se no domínio das experiências. Ou nas coisas que um dia achamos que queremos viver. Quis viver isto. É simples. Depois de dias a fazer comida com encantamento. Depois de idas matinais ao mercado. Depois de dias a realizar ainda mais que as coisas que fazemos da nossa vida não são como a espuma do mar. Não desaparecem. Sendo que isto dá para o que nos faz bem. E para o que nos faz mal, também. Ainda assim, a minha inclinação solar tende sempre para guardar o bom. Procurar o bom. Em tudo. E então, numa noite quente, o meu marido arranjou forma de me dizer mais uma vez as coisas que sente. Sei que se encanta por eu me encantar como se fosse criança outra vez. Quando vou ao mercado. Quando venho de lá com um cesto. Quando me apresso a retirar as frutas, os legumes e as ervas. Para depois querer ficar a sós com as minhas coisas silenciosas. Um cerimonial entre mim e o que veio da terra e do mar. E disse para irmos. Disse que irmos era um presente. Que queria muito que o sul também significasse levar-me a um restaurante muito especial. Para que eu vivesse mais coisas. E para que elas fossem beleza ao meu olhar. Por saber que o que determina ir é o meu respeito e o meu amor pela comida. Pela mesa. Que os cenários podem variar, que eu sou a mesma. No chão de terra batida da Adega do Isaías em Estremoz. A adorar a comidinha de avó do Reis em Lagos. Ou a beber champanhe no terraço do Vila Joya. Sempre a mesma. Gosto que seja assim. E que seja uma coisa tácita, que não precise de ser verbalizada.
Gostei muito. Fui muito feliz ali. Junto ao mar todo que há em frente. Com a noção de que estava a viver coisas que eram para ficar. Que a atenção que dedicasse aos pormenores iria arranjar forma de se transformar em coisas que viessem para o meu quotidiano. Para não ficarem circunscritas a um contexto. Para que se disseminassem.
O importante é sempre a comida. E se fechar os olhos, consigo lembrar-me bem dos sabores. Se fechar os olhos, consigo lembrar-me que havia uma brisa. Que o dia estava quente, mas com uma brisa de mar. Se fechar os olhos, vejo o mar. E oiço o som imperceptível da brisa do mar nos pinheiros mansos. Na minha memória que é emocional e afectiva e impressiva, o Vila Joya é estas coisas todas. E muito aquilo que fez com que um dia pensasse que queria ir lá. Que aquela casa era o lugar mais bonito do mundo para a dona. Que a filha organizava todos os anos um festival gastronómico em homenagem à mãe. A Tribute to Claudia. É assim que em Janeiro, o amor de uma pessoa por uma casa é celebrado. Foi o amor que me levou ali. E não é preciso dizer mais nada.

6 comentários:

  1. Olá Mar,

    Ainda há poucos dias assisti, na televisão, a um programa sobre o referido festival. Fizeram várias entrevistas e filmaram o local. Fiquei muito bem impressionada. Já conhecia o restaurante dos guias gastronómicos, mas aquele programa revelou-me outras facetas. Imagino que tenha sido uma experiência única.

    Um beijo

    Fa

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  2. Olá Mar...
    Estava em pulgas para saber como tinha sido esta tua ida ao Vila Joya!... E entretanto até já ouvi o relato de viva voz, a que se somam estas belas imagens. E o melhor de tudo: o amor. Memórias que mais tarde vais associar a "Mar" e "Amar". Que bom!
    Um beijo com ternura. Agora que estás mais perto.
    Babette

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  3. Não, não é preciso dizer mais nada. O uso parcimonioso das palavras, apanágio dos verdadeiros e grandes amores...

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  4. Olá Fa:

    Foi uma experiência única, de facto. Que gostei muito de viver. Por isso é que está aqui. Já fui a vários lugares ditos indiscutíveis e não consegui escrever sobre, por não me terem marcado. Por não conseguir lembrar-me a que sabiam. Deste sim, recordo-me com um fechar de olhos. Também vi a reportagem, creio que foi na altura do festival. Achei tão bonita a descrição emocional, sensorial da preparação das refeições. Do respeito pelos ingredientes. Tive vontade imediata de ir, somando à leitura de textos sobre o Vila Joya. E é muito lindo, o lugar do Vila Joya. Muito de ir.

    Um beijo com carinho.

    Mar

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  5. Olá minha Babette:

    Quis partilhar logo contigo. Sabia que irias gostar de saber. O mar é o dado visual mais importante. Está ali à frente, majestoso. Ouvimo-lo a partilhar da refeição. A casa de Lagos dos outros anos era assim como o Vila Joya, já te disse. Nos mesmos tons. Com a mesma arquitectura. Por isso, houve um pouco dessa memória ali. Também isso associado ao Vila Joya. E o amor. Mas sabes, o amor disse que a comida daquele lugar não substituía a minha. Porque a minha comida é mais voluptuosa, disse ele:) Lindo, não?

    Um beijo mais aqui de perto, que já regressei.

    Mar

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  6. Minha happy single mother:

    Conheces-me de há muito. Sabes que sim, que não gosto de grandes declarações. Estão sempre sujeitas a revisão, as declarações. Gosto de gestos. E de palavras que resguardam o que é importante. Estas foram para ele. Pelo gesto. E pelas outras coisas todas silenciosas.

    Um beijo com carinho.

    Da tua amiga Mar.

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