Casas e um fantasma de betão.




























Uma cidade com vida própria, acho. Imagino que Lagos não seja um lugar desertificado nos meses em que não há um mar de gente em busca de mar. Gosto particularmente de olhar as casas no centro. De projectar lá atrás as vidas que as viveram. E de parar para estar atenta aos pormenores. Porque nunca se sabe se vamos poder olhar outra vez as mesmas coisas. Ficam aqui algumas. E um fantasma. Para mim, é uma espécie de fantasma. Um prédio enorme, erguido num descampado. Há anos. Mais de vinte anos, seguramente. Vestígio demasiado visível da altura em que se descobriu que o mar era para férias. Que não dava só peixes. Então, construções. Muitas. O maior número de pessoas no menor espaço possível. E deu em coisas destas. Fantasmas. Mas com nada de etéreo. Um fantasma de betão. Interrompido há décadas. Um lugar que nunca chegou a ser. Nunca chegou a acolher ninguém. Rodeado de arames farpados. E ali. Para ficar. Sem possibilidade de vida. Uma antítese das casas abandonadas do centro. Porque nelas sim, houve vida. E pode voltar a haver. Ali não. Não vai haver. Só se alguém derrubar o fantasma de betão que assombra o céu azul de Lagos.

2 comentários:

  1. As casas do centro são lindas. Com muitas histórias, certamente. O fantasma de betão, por outro lado, conta uma história com final infeliz, ou, pior, com um final interrompido... Triste.
    Babette

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  2. É fantasmagórico, este prédio. Via-o sempre ao longe. Este ano fui perto. E é ainda mais triste vê-lo de perto. Adivinhar os quartos onde nunca dormiu ninguém. A recepção onde nunca ninguém foi acolhido. Mas sim, as casas do centro são lindas. Contam histórias em suspenso.

    Um beijo.

    Mar

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