Prelúdios.




Acaba por ser inevitável. Sempre as mesas. Cá fora, quando há sol. Por não querer desperdiçar um dia de sol. Uma forma de render homenagem a um deus quente. Que dá vontade de fazer coisas. De viver coisas. Mais e mais. Nestes dias em que apeteceu mais, duas mesas. Uma com as hidrângeas do jardim. Que este ano estão um bocadinho renitentes. Ainda não se decidiram pela explosão de serem flores por todo o lado. Consegui estas, pela manhã. E quis vê-las à mesa de um almoço. E aconteceram assim. E a mesa da cor voluptuosa. Com branco à mistura. E livros sobre lugares que são longe daqui. Para serem perto.
Declinações inevitáveis, as mesas. Que surgem sempre antes da comida. A serem uma espécie de prelúdio. Elas e a música, a decidirem o que vai estar à mesa. A integrarem-se devagar, até tomarem formas e sabores. E a dizerem que é sempre bom o que acontece por elas existirem. Uma mesa e uma música. A decidirem o que vai acontecer a seguir. Prelúdios para coisas que querem fazer bem.

8 comentários:

  1. Mar, foi uma surpresa quando abri o seu blog e vi a sua mesa com hidrângeas (chamo-lhes hortênsias). Ontem tive uma hortênsia na minha mesa. A acompanhar uma pizza com sabores regionais para os amigos de sempre. As do meu jardim ainda são muito pequenas, por isso não as colho. Tenho que lhes dar tempo. Esta deu-ma a minha prima, que tem imensas. A sua mesa está lindíssima, com os livros no centro. Apesar de os livros serem muito importantes na minha vida, nunca os pus na mesa. Mas gosto da sua ideia. Juntar duas coisas importantes para nós: livros e mesa. Uma inspiração. Um beijo da terra das hortênsias azuis.

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  2. Querida Mar,

    as "minhas" hortênsias... Não sabia que se chamavam hidrângeas. Que bonito! :) Têm sido as minhas flores todas as manhãs, ao pequeno-almoço. São das flores que mais amo e deleito-me nesta altura a percorrer alguns caminhos só para as ver a encher de cor os jardins, mesmo os mais cinzentos e abandonados. Como alguns que percorri este fim-de-semana, num pequeno paraíso. Retiro da Fraguinha, conhece? Fui fazer um workshop de "re-sintonizar os ouvidos". Tão bom. Re-sintonizar. O que precisamos tantas vazes. Ouvir vozes que já não há mais, perdidas numa aldeia no meio da serra. Ouvir pássaros, rãs, risos de crianças e latidos de cães. Ouvir tudo muito atentamente. E sorrir por sentir tanta vida ali tão perto. Tantas vidas que se entrecruzam no mesmo espaço e no mesmo tempo. Tão bonitos estes cruzamentos inesperados. Ouvi sons debaixo de água, como nunca pensei ser possível. Um outro mundo, o sub-aquático. O mundo onde gostava de viver. Logo eu, que não gosto de pôr a cabeça debaixo de água! :) Mas que desde sempre me encantei com ela e com o mundo que esconde, a que nunca teremos acesso. Acho linda e fascinante essa ideia de mistério, de inacessível. E hoje voltar "ao mundo", mais atenta, mais concentrada no essencial. Outra vez e sempre, o essencial.
    E agora chegar aqui e ver hortênsias em mais uma mesa linda, depois de um fim-de-semana emoldurado por centenas de hortênsias azuis, tão bonitas nessa zona. Nada acontece por acaso, eu acredito sempre... :)
    E livros. Livros na mesa. Tão bonita essa ideia. Misturar duas paixões. A cozinha e a leitura. Gostei. Tanto, tanto!...
    Um beijo cheio de ternura e uma semana feliz, com muitas hidrângeas! :)
    Mafalda

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  3. Sempre lindas as tuas mesas. Um prelúdio para momentos que devem ser sempre de felicidade. O acto fundamental de valorizar o que nos pode dar prazer. Os instantes de amor em roda de uma mesa. Com flores, com livros, com talheres e copos de antes. Com pratos de agora. Para a memória de mais à frente. Colocas poesia em todos esses gestos.
    Da tua amiga muito amiga,
    Babette

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  4. Sei que sim, que também se chamam hortênsias. Habituei-me a esta palavra por causa de uma amiga, que as chamava assim. Para não haver confusões, acedi a que fossem hidrângeas:)
    Uma coincidência boa, já viu? Às nossas mesas, as mesmas flores. Com a intuição de que as suas seriam de azul vibrante. Uma das imagens que associo de imediato às suas ilhas.
    Isto dos livros foi porque sim. Po me ter apetecido. Estão aqui na cozinha, junto a outras coisas. Achei que ficavam bem na mesa do almoço. E foram para lá um bocadinho:) Fico feliz que tenha sido inspirador.

    Um beijo para si. Aí na terra das hortênsias azuis.

    Mar

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  5. Olá Mafalda:

    Também eu gosto muito destas flores. Já foram mais abundantes no jardim. Mas creio que o ano passado, o jardineiro as disciplinou em demasia:). Tanto, que fez com que se retraíssem. E agora há menos. Mas ainda há. Por isso, ficam bem à mesa. Para prolongar um bocadinho o belo do jardim.
    Conheço muito bem o Retiro da Fraguinha. Sou muito amiga da Guida, que tem dessas ideias. E que dá uma vida peculiar a um lugar que é de silêncio e de recolhimento. O primeiro Andanças foi lá. Era eu muito nova. E tem de dizer, quando voltar a estes lugares que são tão perto de mim:) Deixo o meu email: queiros.mar@gmail.com
    Por também achar que as coisas não acontecem por acaso. Mesmo que resultem de acasos. E gosto que tenha gostado dos livros à mesa. Também gostei de os ver lá. A falarem em silêncio de lugares onde já estive. E de outros onde quero ir.

    Um beijo com carinho para a minha Mafalda. Que é como eu. Gosta de hidrângeas. Ou de hortênsias:)

    Mar

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  6. Olá minha Babette:)

    Que bom que tenhas gostado desta poesia pequenina. Feita de coisas tangíveis. Juntas numa mesa. São prelúdios, sim. Antecipam as coisas boas que vêm a seguir. A comida. O vinho. A conversa. E o silêncio. Gosto também do silêncio que pode haver a uma mesa. Por significar intimidade. Não sei bem. Tenho pensado em mesas para ti. Mas já sei que vai ser como é sempre: vai ser uma coisa de momento. Ditada pelo que sentir no dia. Há-de ser reflexo da felicidade que vou sentir por estares aqui. Isso eu sei que sim. Por isso, há-de ficar bonita para ti, a mesa:)

    Um beijo com carinho. Da tua amiga Mar.

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  7. Olá Mar,

    é verdade o que diz sobre a Fraguinha, que é um sítio de silêncio e de recolhimento. Mas é também um sítio com vida. Foi isso que gostei mais. A vida que o silêncio ali ganha. Nas coisas mais simples. Como o bolo de cenoura e nozes partilhado com o meu D. num pequeno-almoço com sol. A ouvir a água. A sentir o amanhecer. Gostei muito da Margarida, um encanto de pessoa, mesmo. Que até me enviou a receita do bolo que me ficou na memória. Uma querida. Gostei tanto que irei voltar, em breve. Desta vez para experimentar o campismo, que ali dá vontade. Eu que sempre disse que não era uma pessoa de acampar... :) Depois de uma experiência como missionária em África acabaram-se esse tipo de ideias minhas. Feitas. Construídas ao longo de anos. Mas que agora ruíram, felizmente, para dar lugar a outras, mais livres, mais verdadeiras. Porque o caminho até à nossa essência às vezes é tortuoso, dói, mas quando se chega há uma espécie de libertação. Como a que se sente na Fraguinha. Mais um dos sítios que faz parte desse caminho.
    Quando voltar digo, sim. É um daqueles sítios onde se pode conversar. Com tempo. É um sítio de silêncio, mas também de conversas de afectos, de cumplicidade. Um daqueles sítios onde nos podemos deitar, sentir a terra pulsar debaixo de nós e ver as estrelas. Como na minha África. Um céu estrelado como só há lá. E perceber que é, verdadeiramente, nas coisas mais simples que encontramos a felicidade.
    Gosto de ser a "sua" Mafalda. Muito bom o afecto que sinto aqui. A acrescentar ternura aos meus dias. Obrigada por isso, Mar. Por isso, mais um livro delícia. :)

    http://www.planetatangerina.com/publico/2.editora_livros_5.html

    Um beijo com ternura,
    Mafalda

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  8. Olá minha Mafalda:

    Só agora escrevo. Não tinha visto este seu comentário tão bonito. E sinto-me em falha. Uma falha terrível. Como se estas palavras tivessem estado aqui em suspenso. Durante dias, reparei agora. Inatendidas. Desculpe. Acontece porque não tenho o hábito de ler posts anteriores. Mas estou a penitenciar-me:)
    A Fraguinha é um lugar como descreveu. Silencioso, com qualquer coisa de início, de princípio. Gosto que tenha andado aqui por perto. E sinto que sim. Que há-de estar ainda mais perto. Num outro lugar mais ou menos silencioso. O meu jardim. Com limonada fresca e coisas de Verão.
    A sua vida chegou aqui. Sinto-me grata, sabia? Imensamente grata pela minha Mafalda:) Que esteja tudo bem. Já há tanto Verão lá fora. Tão luminoso que é.

    Um beijo para si. E desculpe só ter escrito agora.

    Mar

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