Enumeração.




Tempo. Creio que será essa a palavra. Quando penso em sábado. E em domingo. E na noite de sexta. São tempo. E aqui, significa mais tempo para estar à mesa. A começar pelo jantar de sexta. Mais ritualizado. Por dar início. Por assinalar o tal tempo em que há mais tempo. Cristais e luzes. Queria pontos de luz no jardim e à mesa, quando o dia fosse embora. E houve. Só que me esqueci de guardar imagem:) Ocupada a viver, muito provavelmente. Fica para a próxima, a mesa cá fora com luzes. Enquanto não, a mesa pouco antes de a luz do dia ir embora.
No sábado. Todos os dias, a meio de pequenos-almoços mais ou menos sincronizados, olho para a frente. Para os pequenos-almoços de sábado e de domingo. E sei que significam que a mesa é posta sem gestos mecânicos. Que se olha para o verde lá fora enquanto as torradas ficam prontas. Que o café quente sabe melhor. E que os jornais são lidos na altura certa: de manhã. A partilha dos jornais. Quem lê o quê primeiro. Com que cadência. Abrir a página nas crónicas que são lidas antes de tudo o mais. As revistas com dossiers. Temas. Opiniões. Coisas breves e alargadas. Uma espécie de espuma dos dias, a dos jornais lidos ao fim-de-semana. Um ritual de mesa, também.
E o almoço de domingo. O que é antecipado com mais tempo. Com mais música ainda. E com mais sol. É melhor quando há mais sol. Como hoje. E surgiu tão elementar, a mesa de almoço. Uma caixa de madeira de um lugar onde encontro coisas que me fazem bem. Em Lisboa. O Delidelux. Um lugar onde olhar o rio. Para um brunch de sábado de manhã, depois de compras de mercearia. Uma boa memória à mesa de domingo. Dentro de uma caixa de madeira. Ervas que fazem coisas boas. Tomilho. Orégãos. Cebolinho. Manjericão. Não era preciso mais nada. Bastava isto. E Arcade Fire. Música com nomes que não combinavam com o sol. Funeral. A música que foi uma festa de aniversário, há cinco anos. Antes de um concerto, agora. Perto de um concerto em Julho.
Uma enumeração. De mesas. De coisas que se podem ver por fora. E de outras que se adivinham. E que estiveram lá. Os que estiveram às mesas. E aquilo que deixaram de si nesse lugar inicial onde se gosta muito de estar. Com tempo.

20 comentários:

  1. Mar, fico feliz por ter tido um fim de semana com tempo. É bom ter tempo. Tempo para saborear as tais coisas pequenas, como a leitura dos nossos jornais e revistas preferidos. De preferência partilhados. E para ficar à mesa. Também sou muito de ficar à mesa. Aos domingos, almoçamos em casa dos meus pais. E ficamos à mesa. Sempre ficámos. É de lá que trouxe esta espécie de culto pela mesa, onde se partilham refeições e conversas. Um beijo e boa semana, que imagino que seja como a minha: cheia.

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  2. Primeiro, gostaria de lhe dar os parabéns pelo blog. A Ilídia já me tinha falado de si e da forma esplêndida como escreve e descreve.Também eu costumo ter semanas agitadas, mas ultimamente tenho parado mais a apreciar a delícia de estarmos reunidos com quem mais gostamos, quer sejam família ou amigos. E, de facto, o lugar privilegiado é a mesa. Nesse espaço gravamos boas e várias memórias. Nem sempre são as mesmas mesas e as mesmas pessoas, mas não deixam de ser espaços de conversa, de convívio. Adorei todas as tuas mesas e a natureza envolvente.
    Um beijinho
    patrícia

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  3. Gosto sempre de ver as suas mesas, como consegue "brincar" tanto com o branco e com o verde. Um sucesso.
    Beijinho e uma boa semana para si.

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  4. Tantas coisas boas à volta da mesa nova. Que bom ter estado a falar contigo enquanto mais um elemento entrava em tua casa. Muito bonitas as imagens de momentos diferentes de um fim-de-semana com tempo. Lindo o serviço de pequeno-almoço, a minha refeição predilecta. Sobretudo ao sábado e ao domingo. Com sumo de laranja e outras coisas boas associadas a estar à mesa. Com tempo.
    Um beijo
    Babette

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  5. Mar
    Tempo. Verde. Heras espontâneas que abraçam troncos. Aqueles que abrigam!O azul da louça tão campestre!O caixote que podia ser embalagem de vinho do Porto ou fruta...ou...Coisas tão simples, tão naturais, tão óbvias...para quem tem sensibilidade! A essência... tão simples ser feliz!
    Obrigada por mais este post e por estas imagens inspiradoras!
    Uma boa semana com muito trabalho! Também isso nos ajuda a trilhar o caminho da plenitude!
    Beijinhos
    Emília Melo

    P.S. Falei-lhe em blogs campestres. "Mias landliv" e outros têm sido também uma inspiração.Coincidência bela, esta de encontrar o mesmo spirit no cantinho da minha Mar."Happiness is a way of life"

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  6. Olá Ilídia:

    Houve tempo, sim. Apesar de ter passado a tarde de sábado a trabalhar, num evento. Ainda assim, tive essa sensação. A de ter tido tempo para estar à mesa. Os meus fins-de-semana são intercalados. Normalmente consigo manter essa cadência. Ficar em casa. Sair. E gostar muito das duas coisas. De ir. E de ficar.
    Também é uma coisa de família, isto da mesa. Da minha mãe, muito especialmente. Que me foi ensinando o amor desta maneira. De fazer comida. Para nós. Para os outros. E de isso valer por si, enquanto dádiva.

    Um beijo para si. Que a sua semana cheia seja também cheia de coisas boas.

    Mar

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  7. Olá Patrícia:

    Que bom que chegou pela Ilídia. Estas coisas têm um quê de propagação que eu acho muito bonito. Tentei aceder ao seu blog, mas não consegui. De vez em quando, é caprichosa, a internet:)
    Sinto muitas vezes isso, embora possa não parecer. De ser tudo demasiado agitado à volta. Ou em mim, também. Mas este é um reduto. E dos redutos, não se abdica facilmente. Pela componente de refúgio. De consolação. De celebração da vontade de existirmos. Sem que os dias passem em falso. Uma das maneiras é esta. Pela mesa. Fazer com que sejam brancas. Ou cheias de flores. Com copos altos ou não. Não importa as variações. Importa que haja mesa. Que se goste de estar à mesa. Com o que somos.
    Agradeço com carinho o que escreveu. E gosto de pensar que nos vamos cruzar mais vezes. Apesar da distância toda. E do mar que há.

    Um beijo com gratidão.

    Mar

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  8. Olá minha Lusitana:)

    Um bocadinho das minhas mesas brancas e verdes vai para si. Por gostar muito de a evocar. E a outras pessoas que vão surgindo. Então, as mesas são para quem está. E para quem vem depois. Aqui. Uma maneira de ficarem, muito provavelmente.
    Uma boa semana para si também. Que seja linda e com sol.

    Mar

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  9. Olá minha amiga doce,

    Coincidiu o nosso telefonema com a entrega de mais uma das ideias do Vasco. A filosofia aplicada à arquitectura. Ou só o gosto pelo belo. Creio que será a melhor maneira de definir. Ele tem o conceito. E eu arranjo maneira de dar vida ao conceptual. Ele quis uma mesa negra com uma base industrial. E eu juntei outras coisas. Que ficaram hoje.
    Foram muito bonitas e demoradas, as refeições do fim-de-semana com tempo. E o serviço azul é misturado. Coisas mais ou menos recentes com coisas que existiam antes de mim. A ver se ficam depois. Depois de mim. Entretanto, usar. Pôr tudo à mesa. Com tempo.

    Um beijo. E uma boa viagem. A pensar em coisas que te acrescentem.

    Mar

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  10. Olá Emília:

    Gosto muito das heras do meu jardim. São o tempo. Acabo por me aperceber melhor de que o tempo passa, quando as olho. E eu sei que dizem mal das heras. Que são demasiado invasivas. Que se agarram a tudo. Eu gosto delas. E peço sempre para que não as cortem em demasia. Que as deixem estar agarradas às pedras. E às minhas árvores. São lindas. E enchem tudo de verde. E fazem com que me apeteça mesas campestres, com loiça azul. Fazem-me feliz. Ir lá abaixo ao jardim é um bocadinho de felicidade verde. Mesmo quando o caminho que me trouxe foi de muito trabalho. Mas o verde que há lá fora devolve-me a essência do que há em mim de mais persistente. A vontade de ser feliz. Enquanto é tempo. Enquanto há tempo. Pode ser pouco. O tempo. E essa vontade. Não importa. Já houve dias tão bonitos. Pessoas tão bonitas. E pedacinhos de verde que fazem bem. Que acolhem.
    E gosto muito de ser a sua Mar:) Muito carinho para si, minha Emília Melo. Que ainda hoje me lembrei de si e das suas palavras, enquanto andava lá fora no jardim. Quero que haja gardénias. O que acha?

    Um beijo.

    Mar

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  11. Adoro gardénias.O seu perfume adocicado transporta-me para mundos exóticos.Chamam-lhe,indevidamente, ao que parece, rainha da noite pois o aroma sobrepõe-se a tudo o que vive no jardim, especialmente à noite.Tenho pena de não conseguir que floresçam no meu jardim.Exigem temperatura e humidade constantes.Contento-me com um jasmim que me faz sonhar em noites mornas de Primavera.
    Tente as gardénias.Quem sabe se, rodeadas de tanto amor e sensibilidade,não vão querer impôr-se!
    Beijinhos
    Emília melo

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  12. Obrigada, minha querida Emília. Vou tentar que se dêem bem aqui. Gosto da ideia de ter flores indeléveis. Que se assinalam. Que se sobrepõem. E jasmim. Outra ideia de que gosto.
    A ver se sim, se se dão bem com as heras e com as árvores. Quando fizerem parte do jardim, dou notícia:)

    Um beijo de obrigada. E de boa noite.

    Mar

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  13. Olá Mar,

    Foi tão bom ler o seu texto. Tem tudo o que me fez falta durante estes últimos dias. Tenho pensado no nosso encontro.

    bjs

    Fa

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  14. Olá minha Fa:

    E a si digo que foi tão bom lê-la. Não actualiza o seu blog há uns dias. Fico preocupada, sabia? Hoje ia enviar um email. A ver se estava tudo bem. Não consigo não me lembrar de quem gosto.
    Também penso no almoço com vista para o rio. Na sua cidade. No último fim-de-semana de Junho?

    Um beijo de boa noite. Que esteja bem. Apesar de lhe faltar tempo.

    Mar

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  15. Querida Mar,

    A data é perfeita. Ontem estive a consultar um guia de restaurantes de Lisboa recente, em que refere ser a cozinha do referido restaurante influenciada pelos aromas dos "Descobrimentos". Contudo, penso que terão várias opções. Refiro este aspecto por causa da Mar não apreciar muito especiarias. Abriu um outro restaurante, muito perto deste, com um nome relacionado com Darwin, que agora não recordo. Deixo à vossa consideração estas opções ou outras.

    bjs

    Fa

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  16. Querida Mar,

    Tempo. Esse bem tão precioso e que quase sempre se enche de tudo o que faz esquecer o essencial. Porque tantas vezes dói essa viagem até à essência. À nossa ou à dos que nos rodeiam. À do ser humano. Então vai-se enchendo a vida, o tempo, com coisas e mais coisas. Coisas que são só coisas. Por isso, cada vez mais, dou tanto valor ao tempo. Ao tempo dos momentos cada vez mais simples. Uma mesa sim. Um cheiro, um sabor, um beijo, um bilhete num pacote de açúcar, uma flor apanhada à beira do caminho, olhar o céu de flamingo ao fim do dia, ouvir sapos ou grilos ou os andorinhas enamoradas... Momentos tão simples. Tão preciosos estes momentos...
    Como estes, para reaprender a ouvir:
    http://www.binauralmedia.org/news/pt/archives/2271
    Porque vamos perdendo aquilo que é essencial e que urge recuperar. Ouvir. Saber ouvir...

    Um beijo com o desejo de um dia haver uma dessas conversas, sem tempo. Com todo o tempo. :)

    Mafalda

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  17. Olá minha Fa:

    Confio (confiamos) na sua intuição. Há-de ser um almoço lindo. Porque o mais importante estará lá: a amizade de meses de escrita e uma vista para o mar ou para o rio.
    Gosto de olhar para a frente e adivinhar. Coisas boas.

    Um beijo para si.

    Mar

    PS: Eu gosto de especiarias:) Não aprecio é muitas misturas e picantes. Mas achei tão bonita a sua delicadeza. De esse ser um critério para a escolha do sítio para o nosso almoço.

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  18. Olá minha querida Mafalda:

    Gosto tanto de a ler. Por se pressentir tempo e afecto nas suas palavras. Tem razão. Passamos a vida a encher o nosso tempo. Eu sei que tenho que me vigiar, de vez em quando. E dizer que não. Que não dá. São muito valiosos, os pedaços de tempo que nos permitimos. A mim, preservam-me de coisas menos boas. Quase como se fosse possível acumular uma espécie de património feito de coisas intangíveis. E que nos fazem bem. A que melhor permite isso, é o tempo.
    Obrigada pelo que deixou. Que evoca o tempo.
    E sim. Bom pensar na possibilidade de uma conversa sem tempo. Com todo o tempo:)
    É do Porto, não é?

    Um beijo com carinho.

    Mar

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  19. Bom dia querida Mar,

    Também a mim os pedaços de tempo me preservam de coisas menos boas. Curam. E ajudam a cuidar. De nós e dos outros. Talvez o melhor presente que se possa oferecer seja esse mesmo. O tempo de e para cuidar.
    Achei giro pensar que sou do Porto. Talvez pudesse ser, porque realmente amo aquela cidade, a que volto sempre que posso para me curar um bocadinho mais. Quase todas as semanas. Estive lá na sexta-feira, numa sessão para pais, numa escola (mais um dos universos que nos une), e novamente esta segunda-feira, perdida na Feira do Livro. :) Gosto desses pedaços de tempo, perdida entre livros. Entre palavras e viagens interiores. Mas não sou do Porto. Neste momento sou de Aveiro, bem perto do mar. :)

    Um beijo com carinho e um dia feliz, apesar da chuva... :)

    Mafalda

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  20. Olá Mafalda:

    Só agora vi mais este seu comentário carinhoso, deixado num dia de chuva. Respondo-lhe num dia que foi de sol. Depois de ter estado um bocadinho sem estar aqui.
    Que bom que está em Aveiro. Ou que neste momento é de Aveiro. Enigmática, esta passagem:) No momento ser de. Uma cidade quase tão importante como o Porto, para mim. Por muitas coisas. E agora, mais esta a significar. Porque a Mafalda está na cidade perto do mar. E relativamente perto da Mar:) A ver se um dia coincidimos. Gosto de pensar que sim. Enquanto não, um beijo com carinho. E que esteja bem.


    Mar

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