Sem preço.




Começa-se sempre pelo início. Este início diz que se vai falar de coisas que não têm preço. Óbvio, de tão declarativo, o título. Isto porque me dei conta de que todos os dias se fala ou ouve falar um bocadinho mais de dinheiro. Pode assumir várias formas, pode haver vários conceitos. Que deixamos de querer entender, de tão repetidos. Mas o fundo está lá. E é sempre o mesmo. Dinheiro. Coisas que custam dinheiro. Falta de dinheiro. Taxas de juro. Dívida soberana. E tudo o mais que, pela reiteração, deixamos pura e simplesmente de ouvir. Ruído de fundo. Mesmo aqui. Porque por mais frugal que seja uma receita, implica custos objectivos. E chegamos ao mesmo ponto. O da palavra que ouvimos demasiadas vezes.
Mas já é fim-de-semana. E quis muito falar de uma daquelas coisas que é sem preço. Por não custar nada. Um parque. Um jardim. Um lugar junto a um rio. Não sei bem o termo certo. Sei que é um dos lugares mais bonitos que conheço. Onde nem sequer há pretextos para gastar dinheiro. Por ser só árvores, relva e água. Um lugar para deixar crianças à solta. A ver se elas descobrem uma parte do mundo que é fácil. De tão verde. De tão cheia de água fresca e limpa. A tal que nunca é a mesma. E não.
É muito perto de mim, este lugar. E antes ainda de ser um lugar perto de mim, já achava que era um dos sítios mais bonitos. De tão elementar. Se tivesse que ir embora e se só pudesse recordá-lo de olhos fechados, seria só verde. E água. E luz. Silêncio às vezes. E risos de crianças. Muitos.
No dia das imagens que ficam, o meu filho descobriu sem esforço que era capaz de andar de bicicleta como os grandes. Tão leve, que estava. Enquanto a mãe tranquilizava um bebé que estava a chorar porque o irmão fazia o mesmo. E havia um pai aflito:), com duas crianças num pranto comovente e solidário. Então, ofereci colo. Carinhos sussurrados. A juntar, o inevitável: saudades.
E é fim-de-semana outra vez. Dá mais para olhar a luz nas árvores. Para livros junto à água. E ouvir. Ali, dá para ouvir coisas sem preço. A felicidade das crianças. O sorriso silencioso de mãos dadas de quem quer bem. Até as vozes atarefadas das mães que dizem que está na hora. Mas nós sabemos como são as coisas. As crianças querem sempre mais um bocadinho daquilo de que gostam muito.   

9 comentários:

  1. Acho que até os senhores do FMI gostariam de apreciar esta paisagem, de tão bonita, verde e calma. Sem preço, realmente...
    Um beijinho de bom fim-de-semana.
    Que tenha muitas coisas para a'Mar...
    Babette

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  2. Sim, podem vir todos os senhores carrancudos do FMI, que a lugares e momentos destes não vão poder taxar nenhum imposto estranho!
    E estará sempre tudo bem num lugar assim, desde que haja o colinho d'aMar...

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  3. Era bom que sim. Que os senhores do FMI e todos os outros dos discursos que vamos deixando de entender olhassem este verde e ouvissem a água. Fácil, esquecermos as coisas sem preço. E acreditas que o meu filho tem andado a perguntar o que é o FMI, a Troika? Há dias levantou-se mesmo da mesa, chegou ao pé de mim e perguntou com um ar muito sério o que era o PEC 4. Eu ri-me um bocadinho daquela solenidade toda, mas achei sintomático. A parte boa é que depois quis ir logo para junto do rio:)

    Um beijo para ti. E sim, está a ser bonito o meu fim-de-semana. Espero que o teu também.

    Mar

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  4. That was exactly the point:) Não dá para aplicar impostos às coisas sem preço. Como estas. As das imagens e as das palavras. Ao colinho que se dá a um bebé. Coisas assim. Que não custam nada.

    Um beijo de bom fim-de-semana para ti. Que também és sem preço. E para a tua princesa dos olhos grandes e brilhantes.

    Mar

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  5. QUEM ME DERA SER RIO PARA DESAGUAR NO MAR!

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  6. Venho frequentemente ao seu blog. Gosto imenso. Continue a maravilhar-nos. Estão todos bem? E o Vasco continua cheio de alegria,não é?
    Um abraço para todos
    Maria João Almeida Madanelo

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  7. É verdade, Mar. As pessoas seriam muito mais felizes se descobrissem a quantidade de coisas que não custam dinheiro e que nos fazem descansar do mundo! Senti-me muito identificada com o que escreveu porque o ano passado estive aí bem perto, em Vila Nova de Paiva, e foi num desses sítios, muito parecido com este, que me reencontrei com a natureza e com as coisas simples. O silêncio. A água limpa a correr e a cantar por entre as pedras. O verde. Deitar-me na terra e senti-la respirar. Tanto, tanto... Há instantes que não têm preço, mesmo. Como este em que a li e me recordei desses espaços mágicos e feitos de encanto que descobri aí bem perto. Um dia regressarei, quem saber para viver... :)
    Um beijinho muito especial,
    Mafalda

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  8. Olá Maria João!

    Que bom haver um comentário seu! O Vasco contou-me da vossa conversa. Bem perto deste nosso lugar junto ao rio. Senti uma alegria enorme pelas coisas que disse. Fico muito feliz que venha aqui frequentemente. E agradeço. Tenho uma memória muito bonita da Maria João. De uma conversa afectuosa num daqueles jantares ruidosos. Estas palavras prolongam essa memória grata.

    Obrigada e um beijo para si e para os seus meninos. Com carinho.

    Mar

    PS: Está óptimo, o meu Tom Sawyer! Joga à bola todos os dias. E anda de bicicleta sem medo.

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  9. Olá Mafalda:

    São sem preço as coisas que aqui deixou. Formuladas de uma maneira muito essencial. E sem preço, também. Conheço esse rio de que falou. E a sua descrição fez-me andar para trás uns bons anos. Em direcção à minha infância. Obrigada por isso. E venha a este lugar. É um daqueles lugares onde nos reconciliamos. Com a vida, com os outros, connosco. Às vezes precisamos de fazer as pazes connosco:)

    Um beijo com muito carinho.

    Mar

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