Cinema Paradiso


É sobre o amor. Sobre a saudade. Sobre a magia inicial do cinema. Sobre o olhar limpo de uma criança. Sobre acreditar. Sobre a beleza. Sobre a abdicação. Sobre a nobreza da amizade. Sobre a paixão com que podemos escolher fazer as coisas. E também sobre a passagem do tempo. É sobre o que quisermos. Acaba por ser sobre o que quisermos. Um dos filmes mais bonitos. Nunca se vê sempre da mesma maneira. Eu sei que já o vi muitas vezes. Em circunstâncias muito diferentes. E que consegui sempre acrescentar coisas ao primeiro olhar. Pormenores que tinham sido vistos sem ficarem suficientemente no interior. Imagens que não tinham sido compreendidas na sua essência.
É difícil falar e pior ainda, escrever sobre algo que nos ultrapassa, de tão belo. É assim, o Cinema Paradiso de Giuseppe Tornatore. Fica-nos a voz viva do menino que entrava de olhos brilhantes na cabina do Cinema Paradiso. A dádiva da amizade com o homem que fazia com que acontecesse magia na sala escura do cinema. E imagens muito belas de um tempo que passou. Elementos presentes, que passam despercebidos ao primeiro olhar. Os limões numa taça, na mesa. A mesa da infância, quando tudo é possibilidade, de tão novo. E depois, trinta anos mais tarde. A mesma taça de limões na mesa do regresso. Quando todas as possibilidades aconteceram. E ainda assim, a sensação de nada ter mudado naquele lugar abandonado. Ou de não se saber como se regressar. Neste não-saber, a imagem do pudor de uma mãe que não precisa de justificações, que não precisa de dizer nada para acolher, trinta anos depois de uma partida.
Todas as alterações na maneira como se vê um filme, ali. As sociais, as de arquitectura, as técnicas. E as mais fundamentais, as que dizem respeito ao que cada um de nós vê, quando se senta numa sala de cinema. Porque há mesmo experiências que são de ter por inteiro. Nada substitui a sala escura de um cinema. A antecipação dos momentos prévios. O silêncio durante. O estarmos concentrados ali. Sem termos possibilidade de carregar num botão obediente que anda para a frente ou para trás. Não determinamos nada. Embora possamos sempre escolher sair a meio. Sair. Nunca somos os mesmos, depois de termos assistido a um bom filme no lugar que lhe pertence. Podemos falar ou não. Mas a sensação de que os nossos gestos não são os mesmos. A sensação de prolongarmos a narrativa. Mais atentos à realidade, porventura. Para extrair dela aquilo que é cinematográfico, narrativo.
Um filme que nos ensina a ver um filme. Da melhor maneira que se pode ensinar: sem nos apercebermos que estamos a ser ensinados. E durante, a comoção. Comovermo-nos como se fôssemos crianças outra vez. Como se nos fosse devolvido o olhar inicial da infância. Ficam duas imagens. Os olhos brilhantes da infância. E os olhos brilhantes de alguém que achava que não. Que os olhos já não iriam brilhar da mesma maneira. Mas sim. Um brilho recuperado. Se calhar, somos capazes de ir a tempo de recuperar alguns dos nossos olhos brilhantes de criança. E deixá-los em suspenso. No absoluto a que pertencem.

9 comentários:

  1. Como falámos, também este é um dos filmes da minha vida. Fiquei com vontade de o rever. Para saber como o vejo agora.
    Mais um beijo.
    Babette

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  2. Um dos filmes da vida de muitas pessoas, de certeza. Ainda bem que há em ti vontade de voltar ao Cinema Paradiso.

    Um beijo da Mar.

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  3. Mais que um filme. Uma nova visão.Um novo mundo. Obrigada por partilhar connosco.
    Beijinho da aluna de Multimédia (:

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  4. Fico muito feliz por este filme significar essas coisas lindas para a minha aluna de Multimédia.

    Um beijo da professora Mar:)

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  5. Também para mim este é um dos filmes mais belos, que revejo com frequência. Para me lembrar da beleza que há no mundo. Para deixar cair as lágrimas, aquelas que a beleza sempre faz despertar e que me lavam a alma.

    Um beijinho,
    Mafalda

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  6. Olá Mafalda:

    Que bom lê-la a propósito de um dos filmes mais bonitos que vi. Comovente, de tão belo. Exactamente como disse. O que comove, neste filme, não é tanto a narrativa, mas a beleza.
    Coisas assim, que lavam a alma.

    Um beijo para si. Que também gosta de livros com ilustrações belas:)

    Mar

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  7. Por vezes temos momentos em que o nosso corpo esta presente mas porém a nossa mente esta noutro local, num outro momento da vida. Isto acontece muitas vezes em aulas de várias disciplinas, mas quando uma professora gosta do que faz apressenta-nos filmes como este que ficam na memória e no coração... Mais que uma professora, mais que uma simples directora de turma mas acima de tudo é uma "MÃE" para as "suas" meninas... Obrigada por partilhar connosco aquilo que tanto gosta :) beijinho da sua aluna Ana Filipa term 2º

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  8. Para a minha aluna Filipa:

    Que bom que assim foi. Que tenha ficado na memória e no coração. Era para vos ajudar nas categorias da narrativa, o Cinema Paradiso:). Fico feliz que tenha sido mais.
    E a lembrar isso de ser uma espécie de mãe, e como as mães às vezes chateiam:)...atenção à acentuação e a um "s" extra em "apresenta-nos". Tens um problema crónico com os acentos das palavras, sabias? A ver se tem solução:)

    Um beijo com ternura para uma das minhas meninas de Termalismo.

    Professora Mar

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  9. Mar
    Tenho muitas vezes a incerteza sobre estar certa ou errada, ser exigente ou negligente. Enfim...
    Estas partilhas deixam um travo tao doce que, quase, acredito estar certa ;-)
    Beijo
    M

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