Chegaram!



Eu não sou muito de exclamações. Nem de reticências. Mas seria uma espécie de sacrilégio assinalar o regresso do fruto mais bonito com um ponto final. Seria o mesmo que dizer que chegaram e pronto. E não. Porque quando elas chegam, significa que está para chegar tudo o mais que é doce e vibrante.
Como todos os anos, antes da primeira cereja, três gostos. Ou desejos. Os termos variam, pelos vistos. Uma daquelas coisas que se faz com uma certa ingenuidade. Recuperada não sabemos bem de onde. Mas não custa nada pedir três desejos e guardar segredo. Claro que esta parte dos segredos ainda é uma abstracção para o meu filho, que os revelou logo:). Está a aprender isto de conservar coisas só para si. Precisa de tempo. Cerejas na casa elementar de uma amiga a quem quis ir dar notícia de que já era tempo delas. Um contexto branco, para que dominassem por inteiro. Por não precisarem de mais nada.
E a imagem da árvore, guardada há semanas. No auge do rosa das flores da árvore das cerejas. Embora a cerejeira do meu jardim seja japonesa, o que significa que não dá cerejas. Como uma mulher muito bonita, a minha cerejeira que não dá cerejas. No auge da beleza toda que oferece ano após ano. E quando há um bocadinho de brisa, há também rosa em fragmentos a espalhar-se por todo o lado. Bocadinhos da minha árvore por todo o lado, a voar. Em fragmentos rosa.
Ficam então as flores deste ano. E os frutos que acabaram de chegar.

12 comentários:

  1. Que giro isso das cerejas! Não fazia ideia! Hoje, por acaso também comi as primeiras cerejas do ano....e sonhei com mais, muito mais e com tudo de bom que se lhes vai seguir! Realmente, não é caso para ponto final. E caso para prosa. Boa. Um Beijinho

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  2. A que provei ainda não era muito doce, pelo que não comprei! Mas este belo texto vai influenciar a minha próxima decisão: vou celebrar a chegada do fruto preferido da minha filha! Beijinho e votos de uma boa semana!

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  3. O meu fruto preferido!... Com muitos pontos de exclamação!... Seguido, por ordem de preferência, por figos e dióspiros. As cerejas foram o meu único desejo de grávida. Em pleno mês de Janeiro (salvaram-me umas cerejas do Chile, a 20€ o Kilo!)
    E sim, também há um ritual na família associado à primeira vez no ano que se come um determinado fruto. Dizemos: "Ano após ano, oxalá chegues ao fim do ano"
    beijos
    Babette

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  4. Olá Filipa!

    Um fruto tão bonito só pode ser mesmo prenúncio de coisas boas. Muito provavelmente, será daí que virá a ideia de se lhes associar três desejos. Um fruto que se faz esperar.
    Daí o ponto de exclamação. Mesmo que eu não goste assim muito. Dos pontos de exclamação e das reticências. De cerejas sim. Muito.

    Um beijo de bom dia para ti.

    Mar

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  5. Olá Lusitana:)

    Celebrar o fruto preferido de uma filha. Eis uma continuação muito bonita. Fico feliz pelo prolongamento que vai dar ao texto de hoje. Será doce, esse prolongamento?:) Em forma de compota? Eu sei que logo também vai haver isso do prolongamento, porque estarei a retirar caroços pacientemente. Por querer muito fazer doce das primeiras cerejas do ano:)

    Um beijo carinhoso de segunda-feira. Um dia cheio de sol, o de hoje.

    Mar

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  6. Coincidimos em mais isso dos frutos:)Nas cerejas e nos figos. Os frutos mais aguardados, para mim. E para ti, pelos vistos.
    E sabes que mais? Também houve isso dos desejos de grávida. E só havia dessas do Chile. Que não são a mesma coisa, pois não? A fruta comida na época certa sabe infinitamente melhor.
    Mais um ritual associado. Um ritual proverbial.

    Um beijo de bom dia para a minha amiga que gosta muito de cerejas:)

    Mar

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  7. Olá, Mar

    Nos últimos dias tenho sido uma ausente presente. Afirmação com aparente falta de lógica, mas é a que me ocorre de forma espontânea.

    Em casa dos meus pais há uma cerejeira com cerca de 20 anos, que durante esse período só deu 2 cerejas, em anos diferentes. Mas qualquer uma delas foi um excelente exemplar, que até permitiu que fosse dividida. Temos várias hipóteses para explicar a situação. Primeiro o facto de não gostar do clima e do ar marítimo e outra o de não existir possibilidade de polinização. Ficam apenas por esclarecer as 2 cerejas.

    bjs

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  8. Olá Fa:

    Eu gosto muito das presenças ausentes:) Da sua em particular. E não, não parece faltar lógica ao que disse.
    Ora aqui deixa uma história peculiar. A de uma cerejeira que em vinte anos só deu duas cerejas. Muito bonito que tenha sido assim, com possibilidade de partilhar. A minha cerejeira nunca há-de dar cerejas. Mas enche-nos de alegria nos dias breves em que é só flores rosa. Uma justificação para toda uma existência: ser bela. É assim, a cerejeira.
    Já disse que gosto muito das suas explicações técnicas para estas coisas?:) Há dias, no blog da Babette, foi a propósito de dinossauros.

    Um beijo com carinho. E obrigada pela história da cerejeira que só deu duas cerejas. E que não gosta do ar marítimo:)

    Mar

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  9. Olá Mar:

    É uma boa observadora. Ando sempre à procura de explicações. Até do ponto de vista filosófico gosto de ler autores que abordam esse assunto. Acredite que tento contrariar esta vertente, pelo menos em contexto que não sejam os académicos, mas deve estar muito interiorizada e sai de forma natural. Gostaria que não fosse assim, porque pode dar uma imagem distinta da que tenho de mim própria. Como a Mar refere ser bela pode ser a única justificação para a existência de uma cerejeira. E isso será suficiente. Concordo consigo.
    Outro dia quando visitei a Herdade do Freixo do Meio o Engº. Cunhal referia no âmbito da permacultura precisamos de admitir que todas as entidades naturais têm uma função, mesmo que não seja evidente. Talvez com esta última afirmação esteja a procurar encontrar uma outra explicão, mas seguindo uma via argumentativa distinta.

    bjs

    Fa

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  10. Ficaram lindas as cerejas, na minha casa!
    Não combinámos e havia cerejas para serem oferecidas uma à outra.
    É bonito isso de pensar em três vontades antes de pôr a primeira do ano à boca.
    Espera-se sempre pelas cerejas e pergunta-se sempre às mães " quando é o tempo das cerejas?"..
    Dias sim. Lindas as bolas de melancia (ainda hoje fui à fábrica das loiças e me tentei lembrar se terias esse pratinho de pé alto, às folhas:) dos outros tais, nada!
    Com um beijinho.
    da Pipinha

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  11. Uma adenda cheia de pertinência, Fa. Vou percebendo coisas sobre si. A juntar às que já me deu antes, mais concretas. Pressinto em si uma enorme curiosidade. Qualquer coisa de inicial, nessa inquietude. E sim, evidente em explicações. Em fragmentos escritos que foram pensados.
    Nisso da beleza enquanto função, creio que será por aí. Apesar de as coisas belas serem belas pela inutilidade. Como a poesia. Ou a arte. Ou a minha cerejeira.

    Um beijo para a minha Fa. Com carinho.

    Mar

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  12. Tão bom sem combinar:) Eu com uma caixa cheia de cerejas e tu também. E ficaram mesmo bem, na tua casa branca e elementar.
    Pena não encontrares os pratinhos que eu pedi, aí nas Caldas. Hão-de surgir. Sem esperarmos.

    Um beijo para ti.

    Mar

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