Seda adamascada e descontextualizada.


Depois de uma mesa branca, uma mesa carmim. Em seda adamascada. Uma manta, em vez de uma toalha. Descontextualizada, portanto. Mas apeteceu-me. Apeteceu-me que a mesa fosse voluptuosa, como esta cor quente. Muito óbvia. Sem grande espaço para interpretações. Uma mesa para duas pessoas. Com distância entre os dois lugares. Uma espécie de representação metafórica para o espaço que fica entre. The space between. Mesmo que se termine as frases do outro. Mesmo que se adivinhe os gostos e os desgostos de olhos fechados.
Mas não perder a noção do espaço que existe e que é intrínseco. O que nos torna distantes, não obstante a intimidade, a cumplicidade. Por ter sido esse espaço que desencadeou/desencadeia a vontade de o suprimir. De o eliminar. Uma coisa impossível, essa. E bela por isso mesmo. Por se ter antecipadamente como impossível.
Nos copos, vinho da África do Sul. Uma experiência partilhada. E gostada pelos dois lugares à mesa. Chama-se Glen Carlou, Grand Classique 2008. Tão voluptuoso como a cor da mesa. A permanecer na memória sensorial. A associar-se às outras coisas que estiveram à mesa carmim de seda adamascada. Ainda que descontextualizada.

PS: Obrigada ao Pedro, do Club Gourmet do El Corte Inglès. Por mais um vinho sugerido. Pelo champanhe de sábado. E pelos dos outros sábados. Enquanto se procura coisas para fazer comida. Um gesto para agradecer. Coisas pequenas de que não me esqueço, por me serem gratas.

13 comentários:

  1. De um saltinho, " pulei" do blog da Babette para o seu...e também vejo uma linda mesa, servida por um texto como sempre comovente, a reforçar essa simples operação matemática, tão útil nos sentimentos em geral e no amor em particular: 1+1=2 ! É o espaço entre...
    Tenha um dia calmo e feliz.
    Beijinho

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  2. É o respeito por esse espaço entre que torna difícil as relações a dois. Por vezes, gostamos que o outro seja um outro eu.A colcha adamascada não cobriu o espaço de fusão. Descontextualizou-se. Valorizou o caminho que separa . Que une. The space between. "You and together. Two of us together.We could do anything to reach to the end of the world." Dave Matthew Band.
    Adoro ler a sua filosofia nas entrelinhas do que escreve. Tento ser legente.Desculpe o atrevimento .
    Que o segundo dia daquele mês , do seu mês seja mais um passo bem sucedido no caminho coberto pela colcha /toalha adamascada!
    Beijinhos
    Emília Melo

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  3. Olá Lusitana!

    Um saltinho até aqui. À mesa de seda carmim. Com espaço entre dois lugares. Muito importante, esse espaço. O espaço impossível de preencher. O vazio que reforça o amor. Entendo-o assim.
    E estou a ter um dia feliz. Apesar de pouco calmo. Mas há sol, não é?

    Um beijo caloroso e feliz. Pela visita de início de dia.

    Mar

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  4. Olá Emília,

    Começo por dizer que adoro a sua inteligência intuitiva. Evidente na atenção aos pormenores. Ao que é dito nas entrelinhas. Sem que o entenda como atrevimento. Nada disso. Inteligência fulgurante, a sua.
    Eu sou impulsiva. Apaixonada. Imprevisível em alguns aspectos. Muito sonhadora e atenta aos pormenores. Mas tão fundamental como essas características, é a noção de que é, objectivamente, uma impossibilidade a de o outro ser eu. E sim, filosofia "daquela". Por algum motivo, partilho a vida com um leitor apaixonado e compulsivo, que mede os dias pelos livros que lê. Já "leu" o meu marido no meu texto? Uma substância absolutamente infinita. Ele está lá.
    A música. Lembrei-me exactamente dessa música. Dessa ideia do espaço entre. Muito densa. Aparentemente ligeira. E fica sempre um contentamento interior pelo entendimento tácito que existe entre nós. Denunciado nas coisas que vão sendo escritas.

    Obrigada pela sua sensibilidade. Pela sua inteligência. Pela sua intuição. Obrigada por si.

    Um beijo.

    Mar

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Olá Fa!

    Tão bom imaginar uma fa(da) rendida a uma mesa coberta de seda:) Creio que sim, que acabará por ter essa componente de cenário. Bastou a introdução deste elemento carmim. Que desencadeou tudo o resto. A loiça. O distanciamento entre os lugares. E as palavras. Depois.
    O importante é a mesa, seja ela de cozinha ou de sala de jantar. E eu acho o máximo que haja livros empilhados numa mesa de jantar. Também descontextualizados. Como a manta que cobriu a mesa das imagens.
    Acontece ao contrário, entre mim e o meu marido. Eu não sublinho. Ele sim. Muito. Costuma dizer que lê duas vezes:)

    Um beijo cheio de carinho para a Fa!

    Mar

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  7. Sintonia de termos publicado mesas!...
    Tão teatral, esse cenário carmim. Gostei muito. Forte e romântica ao mesmo tempo.

    Neste espaço tenho "conhecido" mais da Emília e da Fa! A Mar tem esse poder de nos fazer revelar... Estou a adorar descobrir-vos!...

    Um beijo para a minha doce Mar
    Babette

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  8. Olá, Mar
    Que linda mesa! É uma verdadeira criadora de cenários, onde coloca palavras. Ou que será que as palvras é que a levam à construção do cenário? Fiquei rendida. Fez-me sonhar e ao mesmo tempo recordar autores franceses.
    Tenho tanta pena de não poder usar a minha mesa de sala de jantar. Está ocupada com pilhas de livro e transformada pelo meu marido em mais uma secretária. De vez enquando tenho necessidade de assumir uma atitude bélica e partir para a reconquista de algum espaço. Claro que a seguir há contra-ataques fortes. Somos os dois leitores compulsivos, que gostamos de ter em casa a biblioteca. Às vezes compramos em duplicado o mesmo livro, porque eu gosto de sublinhar e o L. não.

    bjs

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  9. Olá, Mar
    Peço desculpa por ter apagado a minha mensagem e ter voltado a publicá-la, mas identifiquei um erro vergonhoso. Já está corrigido!
    Quanto ao comentário da Babette desconfio que ela me conhece bastante bem, por algumas observações que já fez. É uma excelente observadora.
    bjs

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  10. Boa noite Babette!Boa noite Mar! Boa noite Fa!
    É verdade, Babette. A Mar tem o poder de nos fazer revelar. Alexandre O´Neill dizia" há palavras que nos beijam".As palavras da Mar beijam-nos, tocam-nos, penetram-nos, desafiam-nos, levam-nos a agir.Quando agimos, descobrimo-nos e descobrimos.
    Cheguei aqui por si.Porque a visitava todos os dias ,mesmo em silêncio.Também a Babette me fez agir.Nunca tinha comentado num blog.Descobri-me no seu espaço.
    Agradeço-vos a dádiva.Estar convosco é uma festa.
    Tenham uma boa noite!
    Um beijinho
    Emília Melo

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  11. Boa noite à Babette!

    Coincidimos em mais uma coisa, pelos vistos. A juntar às outras todas. Apesar dos percursos diferentes. Bom assim, quando percursos tão diferentes coincidem em coisas essenciais.
    Uma mesa teatral. Cénica. Gostei dessa ideia. A juntar à metáfora da distância que faz com que queiramos sempre descobrir com expectativa o outro.
    E as mesas têm possibilitado descobertas. As mais doces. Pessoas. Pessoas muito inteiras que acabam por se juntar a uma mesa. Mesmo que seja virtual. Mesmo que seja como esta: para duas pessoas.

    Um beijo para a minha amiga cheia de ternura.

    Mar

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  12. Boa noite, Fa

    Não tem que se desculpar por nada. Um espaço de liberdade, este. Esqueça isso dos erros. Acontecem:)
    E sim, a Babette, com a sua sensibilidade e capacidade de interpretação, tem "observado" muito da Fa. Mesmo sem a conhecer.

    Um beijo de boa noite. Já longa, a noite. Muito silenciosa. Boa para escrever. Para estar a sós.

    Mar

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  13. Olá Emília!

    Tenho a agradecer-lhe este fim de dia. Por mais palavras. Desta vez, as suas. Um agradecimento humilde por cada uma delas. Palavras grandes sobre as minhas palavras.
    Uma verdadeira dádiva, como disse. O blog da Babette. O que a fez chegar aqui. As coisas todas que têm surgido por termos chegado aqui. A um blog que sempre foi quase "secreto". Só para os que me eram próximos fisicamente. A vida encaminha as coisas. E, de um dia para o outro, coincidir com pessoas de que gosto tanto. Que fazem dos dias uma festa.

    Um beijo de boa noite para si. Um pouco da Mar, a Emília. Preciosa como os livros.

    Mar

    PS: A propósito do seu primeiro comentário. Gosto muito das entrelinhas do seu discurso. E de constatar que não são discursivas, sem substância. "Legente". Maria Gabriela Llansol. O começo de um livro é precioso:)

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