O significado das coisas





O sábado é dia de mundo. De sair. De ir em busca de coisas. De olhar as pessoas. E os sítios. Desta vez para o Porto. Aliás, há algum tempo que estranhamente não ia ao Porto. A cidade que sempre me acolheu. Mesmo quando lá chegava sem a noção de rumo. Ia ao Porto porque sim. Na faculdade. Na Baixa, os edifícios de pedras escuras. O Majestic. O Bolhão, onde ia para comprar uma maçã verde e saía sempre com quatro, para retribuir a alegria efusiva das vozes das mulheres no mercado. E livros. E chocolate quente no Inverno. No final de tudo, o mar. Não podia ir embora sem olhar o mar na Foz. Mesmo quando aquele mar era uma memória que me entristecia. Mas ficava ali, na água.
E neste sábado em particular, o Porto soube-me muito a felicidade. A coisas que acontecem num dia. Como um dia pode ser tanto. Um almoço no Shis. Sempre bom. As coisas que encontrei. E as que reencontrei. Uma loja na zona do Campo Alegre, onde não ia há anos. Mas ainda bem que sim. Porque de lá vieram mais objectos que significam beleza. Chama-se Empatias. E eu não consigo dizer a minha alegria por ter visto cristais Lalique e Baccarat num sábado cheio de sol. Copos azuis, dourados, verdes. Jarras e taças com estatuto de escultura. Obras de arte por onde se pode beber vinho e água. Depois, uma rua muito especial, a Miguel Bombarda. A Rota do Chá. Um lugar onde se entra em busca de chá. E torradas. E bolos de cenoura e maçã. Com um jardim de casa de cidade. Interior. Foi lá que passei um pedaço da minha tarde. Junto a um altar improvisado e a laranjeiras com luzes e velas. Depois vir para a rua. Cheia de arte, a rua. Galerias e coisas velhas misturadas com coisas novas. Numa atmosfera que resulta. De tão improvável. E no CCB, que traduzido quer dizer Centro Comercial Bombarda. Uma loja que desconhecia, Miui. Vietnamita. Repleta de chás com nomes poéticos em francês. E a loja do Museu de Estuques (Crere), onde volto uma e outra vez. Para escolher da parede as figuras que queria em minha casa. Desta vez, as Três Graças. Para que me seja concedida a graça de mais poesia, claridade e alegria. Muitas coisas que aconteceram até a luz desaparecer. E que eu guardei. As vozes difusas das pessoas. Os meus passos a escreverem palavras a vermelho na rua. Os pensamentos fragmentários e erráticos desenhados a graffiti. Uma música a sair de um bar. Os instantes preciosos que quero conservar, que evoco no final de um dia. Mais um dia aqui. A dádiva de mais um dia. De poder viver um dia de sol. Na cidade que para mim é materna. Uma casa da Mar.  

4 comentários:

  1. Mar,
    Adoro a Empatias. E não passo lá há um bom par de anos. Mesmo vivendo no Porto. E a Rota do Chá? É mesmo um lugar delicioso, não é? E agora que bem que te imagino a calcorrear, deixando marcas a vermelho, as ruas da minha cidade. Com o teu lenço vermelho a esvoaçar num dia de Inverno que tinha muito sol.
    Beijo grande
    Babette

    ResponderEliminar
  2. Também gostei muito. E pensar que já não entrava ali há anos. Tão eclética. Consegues ver peças de valor incalculável, misturadas com pequenas preciosidades muito de trazer. Encontrei uma taça em vidro veneziano. Âmbar. Muito linda.
    A Rota do Chá soube-me a chá de jasmim e a bolo de cenoura e maçã. Gosto sempre de voltar ali, ao jardim interior com laranjeiras e um templo budista em miniatura.
    O lenço vermelho da caixa laranja. E a tua pulseira da caixa laranja. Muito boas memórias de um dia de Inverno com sol.

    Beijo da Mar. Para a Babette.

    ResponderEliminar
  3. Mar
    Não sendo do Porto, fala dele com o verdadeiro espírito de "Porto Sentido".Também eu adoro os lugares que refere. Se me permite,quando voltar,visite o Albarrabista Chaminé da Mota . Rua das Flores. Mesmo , ao lado,uma loja de artesanato português absolutamente irresistível. "Memórias". já agora, bem perto, o Palácio das Artes . No cimo, um resaurante muito recomendado. DOP. Chef Rui Paula.

    Segui as suas sugestões em Viseu.Com o meu filho mais novo...e ...claro...com a Mar.
    Obrigada por me ter acrescentado o dia! Como diz a Mar.
    Beijinhos.
    Emília Melo

    ResponderEliminar
  4. Adoro o Porto. É uma das minhas cidades, apesar de ter nascido em Viseu. Mas significa muitas coisas. Na minha história. É o meu marido e eu, aquela cidade.
    E claro que hei-de fazer um percurso sugerido com carinho pela Emília. Ainda não fui ao DOP. Fui ao DOC, no Douro, há uns dois anos. A ver se experimento. A ver se abdico de uma refeição no Shis, para ir conhecer o DOP:)
    Ainda bem que passou um dia com o seu filho mais novo. E que, de alguma forma, eu também tenha andado por Viseu consigo.
    E a Emília acrescenta os meus dias. Com palavras que significam coisas que são de guardar.

    Beijo da Mar

    ResponderEliminar

AddThis