Tarte de cebola e queijo fresco

Tenho andado a revisitar um dos livros da figura que me merece mais respeito, no que concerne à comida. Cozinhar com vegetais, de Maria de Lourdes Modesto. Tão sóbria sempre. Nas descrições, nas explicações, na maneira como são formuladas as instruções para as receitas. Uma mulher que dedica a vida a acrescentar coisas ao que já foi escrito e teorizado sobre a nossa cozinha. E sobre a dos outros países, também. Tudo isto para dizer que, para mim, ela está no extremo oposto dos discursos um pouco deslumbrados e pedantes sobre aquilo que é um gesto muito essencial: cozinhar. Para além disso, as receitas dela resultam sempre. Fazem com que nos sintamos capazes de passar tempo a fazer caldos de legumes e de nos aplicarmos a filtrar composições que tornam melhores outros pratos. Nada de receitas que guardam segredos. Ou impossíveis de aplicar a uma vida quotidiana nem sempre fácil de conciliar com o gosto por fazer coisas com as nossas mãos.
Esta foi uma das receitas que isolei. E claro, serviu de inspiração. Porque sou terrivelmente insubordinada e raramente sigo as receitas sem acrescentar ou retirar coisas. Ficou muito leve, a tarte que combina cebola com queijo fresco. E foi parte essencial de um almoço de irmãs, num jardim de Inverno cheio de luz. É bom tirarmos tempo para os nossos. Para lhes lembrarmos que estamos lá. Para nos lembrarmos que eles estão lá.
A receita é esta:
1 embalagem de massa folhada + 2 cebolas médias picadas + 5 fatias de bacon picadas + 1 pacote de natas + 1 queijo fresco + queijo mozzarella + 2 gemas de ovo + azeite, sal, coentros e pimenta.

Estende-se a massa numa forma e pica-se com um garfo. Depois, é só levar ao lume as cebolas e o bacon, num pouco de azeite. Junta-se as natas, sal, pimenta e coentros. Deixa-se aquecer durante uns minutos e acrescenta-se as gemas previamente batidas num pouco de leite. Mexe-se de imediato e adiciona-se o queijo fresco, partido em pedaços pequenos. Deita-se na forma, depois de se pincelar um pouco as margens com um pouco da gema de ovo já utilizada no recheio. No fim, um pouco de queijo mozzarella, para termos um gratinado mais bonito:) Vai ao forno durante cerca de vinte minutos. E basta acompanhar com uma salada de alface e maçãs laminadas.

7 comentários:

  1. Também sou absoluta fã da Maria de Lourdes Modesto. Que com tanta discrição estudou, ompreendeu e reinventou a culinária portuguesa. O livro "Cozinha Tradicional Portuguesa" é a minha referência. Nem sei se já referi isto aqui, mas quando criei no meu blog a rubrica "Gosto", que descreve as coisas de que gosto e que mais ou menos se relacionem com gastronomia, a 1ª referência foi para um "Gosto da Maria de Lourdes Modesto"!
    Gostei também que essa tarte servisse para uma refeição entre irmãs. E achei graça ao facto de ("sincronia"!) ontem ter publicado uma receita que me fez falar da minha irmã.... e de como a sua palete de cores é tão viva....
    Original essa salada com maçã. E o pássaro, tão atento e ao mesmo tempo indeciso em qual iguaria deitar o bico!...
    beijo
    Babette

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  2. Bom dia, Mar!
    Fico sempre feliz quando vejo que alguém tem admiração pela Maria de Lourdes Modesto. E por quem tem um olhar crítico sobre o que hoje está demasiado na moda! A propósito de cozinha internacional, a Maria de Lourdes Modesto serviu de coordenadora ao magnífico "12 meses de cozinha", da Selecções do Reader's Digest, em que adapta os diferentes alimentos ao que existe de facto em Portugal e à nossa maneira de cozinhar. Uma vez, numa entrevista, ouvi-a dizer que foi um enorme prazer fazer este trabalho. O livro é precioso, bem construído, com propostas integrais: desde as entradas às sobremesas, respeitando sempre os produtos naturais de cada época.Não é agora o que se recomenda? As fotografias do livro são muito bonitas e contem ensinamentos gerais a que muitas vezes recorro!
    Acho pois muito pertinente a sua introdução à receita que propõe. Achei uma verdadeira delícia para os olhos a tacinha onde põe o limão. Sabe que tenho uma da VA muito antiga e penso oferecê-la a quem lhe der idêntico uso!
    Vê como é inspiradora?
    Beijinhos e bom dia de trabalho!

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  3. Lusitana, uma vez mais25 de janeiro de 2011 às 01:39

    Mar:
    Eu não digo que sou trapalhona? Na sua tacinha, há salada de alface e maçã. Eu pensei: lindo sítio para pôr gomos de limão!
    E saiu um "mixed"...
    Beijinho.

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  4. Para a Babette:

    Foi das primeiras coisas em que reparei no seu blogue. E gostei logo desse ponto em comum. Ela é, realmente, uma referência. E custa-me que não apareça com a frequência que devia. Ouve-se tanta gente a falar de comida, de restaurantes, de chefes de cozinha. Mas ninguém tem um discurso tão lúcido e sóbrio como ela. Sabe que uma das coisas que gostava de fazer era poder conhecê-la. E vê-la cozinhar.
    E tento sempre almoçar com a minha irmã. Pelo menos uma vez por semana. Costuma ser fora de casa, mas ontem lembrei-me que tinha esta tarte à espera. E que havia sol. Gosto das nossas sincronias:)À salada com maçãs costumo juntar nozes partidas, mas não deu ontem. Hora de almoço de dia de trabalho: tempo limitado:)
    Beijo da Mar

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  5. Olá Lusitana:

    Obrigada pela referência. Não tenho esse livro de que falou, mas despertou-me a vontade de o ter. Gosto muito do discurso da Maria de Lourdes Modesto. E não tenho paciência para as palavras gastas de chefes de cozinha que abrem restaurantes de ano a ano, ao ritmo conveniente das tendências. Ainda a propósito do livro de que falou, gostei especialmente da ideia de se cozinhar com produtos naturais da época. Esse esforço devolve-nos sempre algo de ancestral, de orgânico.
    A tacinha é daquelas por onde se pode beber sopa, consommés. Também gosto muito destas peças. Esta é Wedgwood. Uma loiça inglesa muito especial, que encontrei no El Corte Inglès, envolta em papéis amarelecidos. Comprei todas as que havia.
    E acho muito lindo que pense em alguém que dê um uso poético à sua tacinha Vista Alegre.
    Continuo a discordar: não é nada trapalhona!

    Beijo da Mar. E um bom dia de trabalho para si também.

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  6. Mar:
    A culinária é como as cerejas...regalei-me a rever o livro, pensando no que a Mar iria pesquisar naquelas folhas( foi um dos meus primeiros livros de culinária!). Há uma secção linda e original: o Natal na Europa. Tem louças muito curiosas e algumas fotografias são de um fotógrafo português. Quanto aos ingredientes da época nele referidos ainda hoje me servem de guia( principalmente nos tempos de cozedura e modo de preparar),as indicações que lá constam e que tento sempre respeitar!
    Mais um beijinho.

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  7. Uma das coisas a que me entrego com um gosto sempre renovado: ver e ler livros de cozinha. Mesmo que sejam revisitados. Há sempre coisas a que não se prestou atenção num primeiro momento e que um olhar de segunda ou terceira vez resgata. Vou procurar o seu livro. A descrição desperta mesmo! Obrigada por fazer com que mais um livro seja acrescentado à Mar:)
    Beijo da Mar

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