Como fazer um jantar em 15 minutos

De vez em quando, distraio-me nos meus rituais de final de tarde. Quando isso acontece, sei que vai valer quase tudo: a inspiração, o que apetece, os ingredientes mais imediatos e claro, a pressão amorosa de um filho que começa a perguntar às seis da tarde o que vai ser "o jantar depois da sopa". Mas basta aproximar-me do lugar da casa onde me sinto mais em casa, para saber exactamente o que vai ser o jantar depois da sopa. E apeteceu-me uma massa leve, com camarões e nozes e um molho de natas perfumado com cebolinho. Soube mesmo bem que fosse tão rápido. E que pudesse ser feito com a tranquilidade com que se bebe um copo de vinho branco e se ouve a música que invade a casa ao início da noite. Uma melodia que descobri porque alguém enviou música de presente. Preisner, uma banda sonora comovente, a acompanhar todas as etapas breves de uma massa que ficou na memória. E que o António quis repetir, por ter gostado tanto da massa da mãe Mar. E eu fico feliz porque o António gosta da comida que eu faço com as minhas mãos. Porque a comida que nasce das minhas mãos há-de transformar-se em memórias quentinhas, que o hão-de acolher, quando a vida for dura com ele ou quando precisar de um sítio onde regressar.
A receita da massa que o António quis repetir:

250 g de massa Taglioline + 1 cebola roxa + pimento laranja + camarões (os que quisermos) + 1 pacote de natas + cebolinho picado + nozes picadas + o normal (azeite, sal, pimenta preta moída e vinagre balsâmico).

A massa coze em três minutos, na mesma água onde durante três minutos foram cozidos os camarões. Isto porque a ideia é que a massa absorva logo os sabores dos camarões. Quando a massa estiver cozida, passa-se por água fria e regressa ao mesmo tacho, onde estão à espera a cebola roxa, o pimento e o azeite. Deixa-se refogar só um pouco e junta-se a massa e os camarões descascados. Depois as natas e as nozes e o cebolinho. Rectifica-se os temperos e serve-se logo. Para ser comida quentinha.

PS: Queria agradecer à Joana. Pela música comovente que enviou. Pelo que senti ao ouvir o piano de um compositor que não conhecia. E pela história eterna de Prokofiev que o António vai conhecer. O melhor para si. Pela música e pela poesia que trouxe à casa da Mar. E do seu antigo professor de Filosofia. Igualmente comovido. Com a música e com a generosidade que pressupôs a música. Depois de tantos anos.

10 comentários:

  1. Esta é uma massa à minha medida - rápida e fácil.

    Mas o que mais me atrai aqui, no d'amar, não são as receitas, especialmente...é a descrição, é o texto, são as fotos, a beleza dos espaços, das peças, das composições, tudo tão harmonioso, tão elegante!!.... é a forma de viver, de aproveitar e disfutar cada pequeno momento/detalhe, demoradamente, calmamente, pacificamente, delicadamente!!...(atrever-me-ia, ainda a dizer que, cada momento soa a um ritual de oferenda, por gratidão à Vida!!)...é imaginar o António, a criança que é e o adulto que virá a ser... com tantas e tão boas vivências... e que tem uma mãe com nome de oceano!!! É muito bonito!! (Será que ele vê o mar nos olhos da mãe??).......

    Um beijo

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  2. A Clarinha! Há algum tempo que as visitas eram silenciosas.
    Agradeço as palavras. Muito. Porque tentam dizer a minha maneira de olhar para a vida. E sim, penso que no fundo, todos os meus gestos quotidianos, por pequenos e breves que sejam, são só a vontade de ritualizar a gratidão que sinto por cada dia. Aqui. De não deixar que passem em falso, de permitir sempre a possibilidade de me sentir acrescentada.

    Um beijo da mãe com nome de oceano:) Com um amor pelo filho do tamanho de todos os mares.

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  3. No fundo só apetece dizer o mesmo que a outra visitante.... que gostei muito da receita (e que sim, que em 15 minutos se pode preparar uma refeição deliciosa!...) e que adorei essa visão de futuro do António. Que o que se lhe está a dar hoje vai ser importante para o adulto de amanhã. E que mimos, afectos e outras coisas boas feitas por nós lhes molda o espírito. Como as minhas empadas de hoje. Que no final mereceram um "amanhã fazes mais?"...
    (E já fui pesquisar o compositor. Que não conhecia. Gostei do que encontrei no youtube!...)
    Babette

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  4. Obrigada pelo momento de paz que me proporcionou com a leitura do seu texto e com a recriação virtual do sabor dessa massa e respectivos crustáceos. bjs

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  5. Acho que são essas frases muito breves, aparentemente indiferentes, que nos vão ficar na memória, quando eles crescerem. "Amanhã fazes mais?" "Só gosto da sopa da mãe" "O que é o jantar depois da sopa?" "Quero lasagna todos os dias" ou ainda às 11 da noite, quando se lembram de pedir aletria:)

    A música é linda. E sei que vou voltar a ouvir hoje, enquanto estiver a fazer o jantar.

    Beijo para a mãe Babette, que dá boas memórias aos seus rapazes:)

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  6. E até me esqueci de falar do prato branco, que é lindo!... e do pequeno castiçal que abraça a vela!...
    Mais um beijo lançado ao Mar.
    Babette

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  7. Este(a) Mar é mesmo grande, imenso... ♥♥♥

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  8. Grazie, Babette!
    E que poético um beijo lançado ao Mar:)

    PS: A loiça é das nossas preferidas: Bordallo Pinheiro. E o castiçal é Keneth Turner, a marca de umas das minhas velas preferidas.
    Mar

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  9. Para a Fa:

    Fico muito feliz por ter proporcionado um momento de paz a alguém. Uma felicidade quieta. Motivada por um jantar feito em três tempos:)

    Beijo da Mar

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  10. Um beijo do tamanho do Mar, para a happy single mother. Da Mar.

    Thank you.

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