Sinfonia gastronómica (música, eros e cozinha)


Um presente. Uma pequena preciosidade, para circunstanciar mais o meu gosto de sempre pela comida, pelos prazeres que proporciona. E a relação entre a música, o erotismo e a cozinha é algo que, intuitivamente, aceitamos como óbvia. Mas este livro confere densidade a essa intuição. Contextualiza-a. Pela História, pela Filosofia. E começa assim:

"No seu esplêndido livro A Fisiologia do Gosto, Brillat-Savarin distingue o prazer de comer do prazer da mesa. O primeiro (comum a homens e a animais) é a satisfação simples e imediata de uma necessidade fisiológica. O segundo, próprio do homem, é: a sensação reflectida que nasce de circunstâncias feitas de factos, lugares, coisas e pessoas que acompanham a comida."

E sim, a comida, para mim, está sempre ligada às pessoas, aos lugares, à música. Não será por acaso que procuro descrever tão exaustivamente a circunstância em que faço as minhas experiências. A música que acompanhou o momento. As pessoas que estavam. A chuva. Ou o sol. A melancolia. Ou a exaltação. Um esforço permanente de conservar. De guardar a memória de uma tarde passada a fazer um jantar. Ou de uma manhã a escolher toalhas e loiça e copos. Ou a colher flores. Para um almoço. Para que nada se perca. Mesmo quando deixarmos de existir.
Quanto ao erotismo...Está sempre presente. Nos sabores. Que nem precisam de ser afrodisíacos. Não gosto especialmente desta categoria. Primeiro, porque não acredito que um sabor por si, faça milagres. E por achar que, neste campo, o verdadeiro erotismo reside nas pessoas e naquilo que elas colocam de si num ritual primordial.
O livro é um achado. E é editado por um dos filhos da Duquesa de Alba, que se dedica a trazer à luz estas e outras coisas.

Deixo o link da editora, para quem partilha o gosto pela comida. E pelos outros prazeres.


NB: E a música que hoje se espalha pela casa é Mew. E Arcade Fire.

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