Até lá!





















Das coisas que chegam ao fim, devemos procurar guardar o que for de guardar e seguir rumo a um dia seguinte. Os fins de ano são uma daquelas datas. Fazemos tantas promessas. Dizemos que fechamos capítulos. Garantimos interiormente que vamos ser melhores. Porque é mesmo uma transição. Há uma coisa qualquer que fica para trás e outra que está ali. Mesmo a começar.
Os começos são oportunidades que nos concedemos. Que nos são concedidas. Os começos são a nossa vontade de mais. Exercícios de fé. Creio que se trata disso, nisto de iniciar um ano novo. Renovamos aquele brilho. Chama-se esperança, esse brilho que trazemos dentro.
A esperança precisa de alimento. Este é o alimento que deixo, bem antes de fechar este ano. Arroz. Toda uma metáfora, o arroz. Por saciar. Por confortar. Por ser tão tranversal. Atravessa continentes. Classes sociais. Um alimento que ultrapassa o sentido imediato da nutrição. Presença na mesa mais festiva. Ou na mais humilde. Com uma receita essencial, um vídeo belíssimo que desencadeou o último plano das minhas aulas deste ano. Por ser a última, era ainda mais importante. E uma música que faz da nossa fé uma força invencível. O que eu quero mesmo é desejar coisas boas ao mundo que aqui passar. E muito amor, um coração assim grande:)
Arroz solto de molho inglês
1 cebola vermelha (pequena) + 1 tigela (grande) de arroz carolino + 2 vezes a mesma medida de arroz de água quente + 4 colheres (de sopa) de molho inglês + azeite e sal q.b.
Pica-se a cebola e leva-se ao lume numa quantidade generosa de azeite. Deixa-se refogar durante uns dois minutos. A seguir, acrescenta-se o arroz e mexe-se, envolvendo-se bem no azeite, de maneira a "fritar" um bocadinho. Quando o arroz estiver bem envolvido no azeite, junta-se as colheres de molho inglês e volta-se a misturar bem, até que se evapore este acrescento. Depois, as duas tigelas de água bem quente, o sal e deixa-se evaporar, até que o arroz fique soltinho daquela maneira que faz bem só de olhar:)
NB: Esta é a receita-base. Para versões mais festivas ou aromáticas, basta acrescentar passas, pinhões, coentros, cenoura ralada,...
Até 2014!

 

Celebração.










































Sou do género de celebrar. De dizer. De fazer coisas em nome de coisas. Em nome de pessoas. Isso também passa por atribuir significados a tudo e mais alguma coisa. Ser do género de celebrar quer dizer que se adora assinalar datas. As dos calendários colectivos. E as outras, íntimas. Partilháveis. Mais ou menos partilháveis. Ou impartilháveis de todo, por serem vividas a sós. Os números dos dias. Acho tão bonitos. Cada um dos números dos dias que se vão sucedendo. Passam e escrevemos números sempre diferentes. Este texto e estas imagens são sobre isso. Melhor, também são sobre isso.
Nós precisamos do ritual. Da celebração. Da magia. Do sonho. Do que está para vir. Do que já foi. Sem estas e outras propriedades, seríamos só o pó em que todos seremos transformados. Num dia que também será uma sucessão de números que nunca aconteceram antes. Que não voltarão a acontecer.
No entretanto. A questão mais importante está no entretanto. Aquele lapso de tempo entre a data primeira que nos viu nascer e a outra, que é um mistério pendente. Nesse intervalo, há tudo o que acontece. E também tudo o que fazemos acontecer.
No dia 14 de Dezembro de 2010, uma pessoa descobriu que havia outra pessoa. A Babette andava a deambular aleatoriamente pelo universo virtual e chegou aqui. A partir daí, tem estado mais ou menos documentada, a amizade que tem idade de criança. Três anos. Três anos cumpridos. Ritualizados. Este aniversário com idade de criança foi celebrado mais uma vez. O dia 14 de Dezembro já foi assinalado em três calendários diferentes. Uma data guardada. Partilhada uma vez mais, que é uma coisa boa. E, na minha perspectiva, as coisas boas devem ser disseminadas. E serem celebração. A deste ano foi assim. Aqui. 



Quase.




















Está a aproximar-se. Sabemo-lo à medida dos dias. Das coisas que vão fazendo parte dos dias. Aquela noite que aproxima as pessoas está a aproximar-se. Tenho pensado nela, enquanto faço a comida de todos os dias. Porque todos os dias deste mês parecem querer ir dar àquela noite. Um dos sentidos do Advento. É um caminho, esse advento. Como qualquer caminho, é sempre bom fazê-lo a pensar. A dar densidade aos passos. Mais um dia. Depois mais outro. A sabedoria que não finda. A sabedoria dos dias que se sucedem. Haja o que houver. Com todas as promessas. Com todos os sins. Com todos os nãos. 
A pensar nessa noite, coisas dessa noite. Num bolo. Figos cristalizados. Licor. Laranja em calda. Coisas assim. Que fazem pensar na noite que aproxima as pessoas. Ou que lhes recorda as ausências. As distâncias. Os abismos. Em qualquer dos casos, uma fatia de bolo estará sempre certa. Fará sempre bem. E dançar no Inverno. Dançar no Inverno também faz bem. E nas outras estações todas também.

Bolo com figos cristalizados e laranja

4 ovos + 1 iogurte natural + 4 copos de iogurte de farinha + 4 copos de iogurte de açúcar + 2 copos de iogurte de óleo + 2 copos de iogurte de licor de figos + raspa e sumo de 1 laranja +  10 figos cristalizados + um punhado de passas.

Numa taça, bate-se os ovos inteiros com o iogurte, a farinha, o açúcar, o óleo, um copo de licor, a raspa de laranja e as passas (partidas em pedaços muito pequenos). Leva-se ao forno durante uma hora, a 170ºc. 
Entretanto, faz-se a calda. Assim: sumo de uma laranja com um copo de licor de figos e pedaços da casca de metade de uma laranja. Leva-se ao lume durante dez minutos. Retira-se e coloca-se por cima os figos cristalizados, previamente abertos ao meio. Deixa-se macerar. Quando o bolo estiver pronto, cobre-se com os figos e com a calda. 

Deixa lá.















Todos temos momentos destes, não? De deixar ir. De deixar cair. Dizemos interiormente: deixa lá. Costumava pensar que era uma expressão só passiva. Qualquer coisa de resignação que me afastava. Temos a mania de agir sobre tudo e mais alguma coisa. De compreender não sei o quê, atendendo a circunstâncias e contextos. Entender. Perceber. Acolher. Integrar. Perdoar. São exercícios muito inteiros. Muito necessários. Um mundo sem estes verbos seria só sem luz. Por isso é que sermos capazes de conjugar estes verbos é tão importante. Porque todos perdemos, quando um de nós diz que não quer esta conjugação. Que não quer uma vida com este bocadinho de gramática. 
Mas tenho percebido que também é muito importante saber quando chega aquele momento "deixa lá". Pode ser um "deixa lá" imediato. Do género de nos atingir. Ou então, pode ser um "deixa lá" macerado. Que já fez um caminho longo dentro de nós. Em qualquer dos casos, o meu recurso mais precioso é este. Está aqui. Muitos desses momentos "deixa lá" encontraram neste lugar uma morada. Sinais de que esses momentos não foram só lugares interiores de resignação a todas as coisas que são como são. Sinais luminosos. De uma vontade de querer muito transformar coisas menos boas em coisas que sejam só boas. E que fiquem. Ou que andem por aí, essas coisas.

Bolo salgado de iogurte (com acelgas e bacon) 

1 iogurte natural + 5 ovos + 5 copos de iogurte de farinha + 1 copo de iogurte de óleo + 1 copo de iogurte de leite + 8 folhas de acelgas + 6 fatias de bacon (cortadas em cubos) + 1 cebola média (picada) + metade de 1 pimento amarelo (cortado em cubos) + sal, pimenta preta e queijo Parmesão ralado. 

Primeiro, coze-se as folhas de acelgas em água com sal (só são colocadas na água depois de começar a fervura e deixa-se estar uns 3 minutos). Retira-se, escorre-se e reserva-se. Entretanto, leva-se ao lume a cebola, o pimento e o bacon, num pouco de azeite. Deixa-se cozinhar durante cerca de dez minutos. Retira-se do lume e reserva-se. Depois, mistura-se todos os outros ingredientes e bate-se muito bem. Acrescenta-se as acelgas e os outros ingredientes (a cebola, o bacon e o pimento). Bate-se mais um bocadinho. Rectifica-se de sal, se necessário e leva-se ao forno a 170º c durante uns 40 minutos. 

NB: Este bolo fica muito bom servido no dia em que se faz, mas é ainda melhor no dia seguinte, ligeiramente tostado no forno.

Com um dos momentos "deixa lá", uma música que tem uma cadência quase infantil, doce. Banda sonora para momentos de deixar e pronto. Ou para os momentos que quisermos:)


Abraço.












Num destes dias, apeteceu-me mesmo que ela não vivesse longe. Que pudesse ser uma coisa de telefonar e dizer para vir almoçar. Sem logísticas, sem marcações antecipadas. Ser assim de momento. Como não vive perto, uma maneira de estar à mesa foi assim. Dois presentes dentro de frascos. Feitos por ela. Chutney. Delicioso, exótico. Perfeito para inícios de refeição. Lascas de Parmesão ou queijo da Ilha. Fatias finas de presunto. Azeitonas temperadas daquela maneira muito mediterrânica. Uma salada com folhas verdes, maçãs e bagos de romã. E depois. Depois, uma comida muito daqui. Comida maternal. Quente. A comida pode ser um abraço. Entre muitas coisas, pode ser também um abraço. E uma mesa. Uma mesa também pode abraçar. Esta foi posta a pensar na possibilidade de poder abraçar uma amiga. A Babette. Da Festa de Babette. Um dos muitos lugares afectivos onde é bom demorarmo-nos.
Arroz de feijão com salpicão e coentros
1 cebola (média) + 2 dentes de alho + 2 tomates (sem a casca) + metade de 1 pimento vermelho + 1 salpicão (caseiro, de preferência) + 1 chávena de feijão-manteiga + 1 tigela de arroz carolino + 1 litro de água + sal, azeite e coentros q.b.
Num tacho, faz-se o refogado com o azeite, a cebola, os dentes de alho picados, o tomate cortado em pedaços e o pimento. Deixa-se durante uns dez minutos e acrescenta-se a água. Tapa-se e deixa-se ferver. Assim que se der início à fervura, adiciona-se o arroz e o feijão, tempera-se de sal e deixa-se cozer. Se houver necessidade, acrescenta-se um pouco de água. Quase na hora de retirar do lume, acrescenta-se o salpicão cortado em pedaços e os coentros. É importante que seja no final, para que o salpicão não coza e "feche" os sabores. Serve-se de imediato numa daquelas terrinas que "aconchegam" a comida:)

O que o Natal nos segreda.












Tem os mesmos Natais que eu. Trinta e três Natais. Há-de viver todos os anos outra vez, o bonsai que tem a minha idade e que morreu incompreensivelmente há uns dois anos. De cada vez que for Natal, encher-se-á de uma vida feita de muita luz. Este ano, é habitado por pássaros, por maçãs muito pequenas e muito vermelhas. E por palavras retiradas de um livro que me fez/faz um bem enorme. "O Hipopótamo de Deus" de José Tolentino Mendonça. Quando o li, numa viagem de comboio, tive a sensação de que aquelas palavras deviam habitar-me. Que deviam andar em mim onde quer que estivesse. Uma maneira possível. Esta. Na minha árvore de Natal deste ano. Para que fiquem ainda mais, as palavras
Já são feitos de luz, os dias. Aquilo que há-de encantar-me sempre, no Natal. As luzes. É assim, desde que me entendo como pessoa. Trilhos. Rastos brilhantes. Como se as estrelas não estivessem tão longe, no fundo. Ao contrário, aqui bem perto. Nas nossas árvores. Reflexos de luz nos lugares para onde olhamos. No chão que pisamos. Luzes no lugar habitado por uma felicidade enorme. Fazer comida e olhar para umas estrelas. E isso ser mais Natal. Segredado ao ouvido. O Natal diz-nos assim, que há uma infância (sempre) por viver. 

Com o segredo que é cada Natal, ballet. Nos céus de Nova Iorque.  


AddThis