O melhor dos dias assim.
















Um bolo que fica. Imagino-o facilmente na mesa de Natal. Festivo. Com as maçãs a serem uma espécie de coroa. Motiva daquelas reacções que primeiro são só silenciosas. Depois, não. Declarativas. Creio que tem dentro o melhor do Outono. Tem dentro o melhor destes dias. Assim frios. Assim na transição entre uma coisa e outra. Com a receita, a referência de um livro. Gosto da formulação sharp: oito em ponto. Gosto do trabalho destes dois poetas de interiores. E muito deste livro. Com fotografias belíssimas. O melhor dos tais dias assim pode ser um bolo e um livro.

Bolo de nozes e maçãs

5 ovos inteiros + 1 iogurte natural + 100 g de nozes picadas + raspa de 1 limão + 4 copos de iogurte de açúcar  + 4 copos de iogurte de farinha + 2 copos de iogurte de óleo + 4 maçãs (1 ralada e 3 para a cobertura).

Numa tigela, mistura-se todos os ingredientes, excepto as três maçãs que vão ser usadas para a parte final. Bate-se muito bem (cerca de 10 minutos) e leva-se ao forno a 170º c durante uma hora e um quarto, sendo que nos últimos 15 minutos o calor do forno deve vir só de cima. Retira-se e deixa-se arrefecer um pouco.

Para a cobertura de maçãs:
3 maçãs (laminadas) + 1 colher (de sobremesa) de manteiga + 1 copo de vinho do Porto + 2 colheres (de sopa) de açúcar demerara + um punhado de arandos.
Simples: todos os ingredientes numa frigideira previamente aquecida. Durante cinco minutos, tendo o cuidado de ir mexendo. Cobre-se o bolo e, quando ficar completamente frio, polvilha-se com um pouco de açúcar demerara.
O livro pode ser comprado aqui
E música para o caminho. One for the road.

É preciso atravessar o Inverno.




























Devia ser como nas fábulas. Nessas histórias, os animais viviam sempre em florestas muito densas, em lugares recônditos e frios. No Inverno, recolhiam-se. Ficavam muito quietos, à espera que passasse. Nós também temos alturas assim: em que gostávamos de ficar muito quietos à espera que passasse. Só que não dá. Na vida real que não é como nas fábulas, vamos caminhando. Uma bela metáfora, a do caminhar. Por isso é que atravessamos o Inverno. O literal. E todos os Invernos de cada uma das nossas vidas, com cada uma das suas pequenas/grandes tragédias.
Será preciso atravessar (mais) este Inverno. Caminhá-lo. Encontrar-lhe o sentido. Que seja como uma árvore despida até ao fim. Que não reste folha nenhuma. A Primavera há-de chegar.
Esta é uma receita para confortar. É comida que nos quer bem. Servida numa mesa coberta das mantas que nos aconchegam nos lugares onde descansamos do mundo e de todas as suas coisas incompreensíveis. Que faça bem a outras pessoas. A mim, fez um bem enorme. Fica a receita. E música que parece o eco de um piano numa casa vazia.
Frango em molho de gengibre e tomate
5 peitos de frango (do campo) + 1 cebola vermelha + 2 dentes de alho + 1 talo de aipo + metade de um pimento verde + 2 tomates (médios) + sumo de meio limão + 1 colher (de sobremesa) de gengibre + 1 colher (de sopa) de Maizena (usei Express) + metade de uma malagueta vermelha (média) + sal, azeite, molho inglês, pimenta preta e coentros q.b.
Num tacho, coloca-se todos os ingredientes. A obedecer a esta sequência: a cebola picada, o pimento em cubos pequenos, o talo de aipo picado, os peitos de frango (cortados em pedaços), os dentes de alho picados (com um pouco da casca, para intensificar os sabores). Depois, os temperos: o sal, o azeite, o sumo do limão, o molho inglês, a pimenta preta, os coentros, a malagueta (muito bem picada) e o gengibre. Com as mãos, mistura-se tudo. E pode deixar-se estar uns cinco minutos, para "tomar o tempero". Depois, junta-se o tomate (descascado e cortado em pedaços) e leva-se ao lume, tendo o cuidado de fechar o tacho. Deixa-se estar durante meia hora, mexendo de vez em quando. Decorrido este tempo, junta-se a colher de Maizena, rectifica-se os temperos, acrescenta-se mais um pouco de coentros, deixa-se apurar mais um bocadinho e serve-se bem quente.

 

De uma maneira ou de outra.









































 Por fazermos muitas vezes a mesma coisa, não quer dizer que a sintamos sempre da mesma maneira. Começamos pela toalha, que parece uma espécie de página, só que sem ser em branco angustiante. Como acontece com todas as páginas vazias que queremos (pre)encher. Com as toalhas é diferente. Não há aquilo da angústia, porque podemos retirar aquilo que não está bem. E ser como se nunca tivesse acontecido. Com as páginas brancas não dá para esse exercício. Dá para riscar. E ficar a marca da hesitação, da bifurcação que nos assaltou num dado momento. Ou dá para rasgar e atirar para longe. De uma maneira ou de outra, sempre aquele rasto.
De uma maneira ou de outra, as coisas vão sendo dispostas. Os pratos que assinalam os lugares à mesa. A seguir, os outros pratos. Os que vão sendo retirados à medida que tudo acontece. Os talheres. Os copos. Os guardanapos. Tudo a obedecer a uma ordem superior. De vez em quando, até dá para pensar que haverá um deus qualquer para estas coisas pequenas que as nossas mãos igualmente pequenas vão fazendo.
De uma maneira ou de outra, a vida precisa de seguir. De uma maneira ou de outra, a vida pede por mais uma página. Mais uma mesa. Sempre só mais uma mesa. Lugar onde nos sentamos. Depois da frase a dizer que está servido o jantar, a visão de coisas que ali estão porque nós existimos. Uma sopa consistente. Um bolo salgado de cebola e bacon a sair do forno. Água quieta em copos altos. Vinho que faz deuses os homens que o fizeram. De uma maneira ou de outra, música. Trevas, um mundo sem música.

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