Antes que o ano acabe.

Pensei com muito cuidado no que fazer hoje para o jantar. Porque era a última refeição feita por mim este ano. Depois de todas as outras refeições. E dei por mim a fazer um risotto. O meu prato preferido. Por ser tão despretensioso, tão leve, tão simples. Mas mais por implicar todo um ritual de dedicação. Porque gosto de o fazer em silêncio, com calma. E cumprir imperturbavelmente todas as fases que compõem o meu risotto.
Então, enquanto se faz um risotto, pensa-se. Muito. Eu deixei que o meu pensamento se orientasse para os dias que estão lá atrás e que este espaço me ajuda a rememorar. Porque me lembro de todos os dias com muita nitidez. E das pessoas que fizeram os meus dias. Todos os meus afectos, todas as refeições, todas as maneiras que fui encontrando de corresponder, de merecer os que me são próximos. De fazer coisas boas com o que me acontece. E sei que não estive sempre bem. No fundo, acaba por ser como com a comida. Vamos experimentando receitas, fazendo outras que conhecemos desde sempre. E às vezes falhamos. Nem sempre corre bem. Mas eu gosto da tentativa. Eu gosto muito de tentar sempre. Porque é muito bela, a tentativa. Pela ilusão que pressupõe. E eu sou como o meu filho: gosto de conservar ilusões e sonhos. De acarinhar a parte de mim que acredita como se fosse a primeira vez.
Por isso, depois de um dia absolutamente disciplinado, dedicado aos meus alunos e ao que quero tentar ensinar-lhes no próximo ano, cheguei a casa com uma sensação muito doce de final. O final de um ano muito bonito.
E de ser hora de guardar com cuidado as coisas que quero conservar. E vou conservar tudo. Porque tudo me acrescentou, mesmo o que não me confirmou, o que me negou. Ficou tudo integrado num risotto quentinho de espargos. A última refeição deste ano. Feita pelas mãos da Mar. Porque vou desaparecer só um bocadinho, para ir em busca de coisas que sejam de amar.


Até para o ano. E o melhor de tudo. Para todos os nomes que trago dentro de mim.

Fórmula de abertura

Acaba por estar sempre à mesa, esta espécie de clássico. A base é sempre a mesma, mas o sabor final varia consoante a minha disposição. E então, pode ter pimentos doces ou cebola vermelha ou coentros ou pickles picados ou coentros. Todas as coisas que eu acho que vão ficar bem ou que apetecem. E esta é realmente a fórmula de abertura. Porque me é sempre pedida. E é engraçado que seja tão simples. E que se preste sempre a ser revista.
Tudo começa assim:


maionese + ketchup + mostarda de Dijon + cebola picada + atum + pimenta preta moída + o resto das coisas que variam consoante a disposição:)


...e continua, servida em tostas ou em fatias muito finas de baguettes que estiveram no forno durante uns minutos. Com um vinho branco a acompanhar. Fresco e muito aromático.
Eis uma fórmula de abertura. Por ser um início auspicioso de muitas refeições.


NB: Para a Vanessa, porque me pede muitas vezes para fazer a minha pasta de atum. Pedidos cândidos, ternurentos como os do meu filho, formulados com o sorriso mais doce.

Tangerinas confitadas e chocolate

Há uns dias reparei numas tangerinas confitadas. Achei-as tão bonitas e delicadas, que pensei logo que ficariam muito bem, se fossem associadas à minha sobremesa mais versátil. E uma das mais pedidas, também. Uma mousse de chocolate, feita em três tempos. Que se reformula e reinventa, de cada vez que lhe associo um sabor novo. E assim, tem-se sempre a sensação de reconhecimento imediato, mas de haver uma qualidade que foi acrescentada ao que já lá estava. Descobri a receita-base desta mousse num livro da Nigella, mas adaptei-a, porque a original era feita com natas gordas e tinha uma quantidade quase impensável de manteiga.
Para fazer este doce tão simples e ao mesmo tempo tão marcante, basta recuperar a receita que está no mês de Junho e acrescentar duas tangerinas confitadas partidas em pedaços pequenos e embebidas em "crème de cassis". E acrescentar pequenos gomos de tangerina, no final. Para que a mousse fique ainda mais bonita e irresistível.

As mesas para oferecer


Eu sei que a formulação é "mesas de receber". Mas estas foram o meu presente de Natal para os que hoje vieram a minha casa. E depois de uma manhã atarefada, a conjugar copos e taças de sobremesa e toalhas e guardanapos, o almoço de Domingo. Sabendo que os Domingos são sempre dias dedicados à mesa, em todos os sentidos. Mas mais este. Pelos que vieram. Porque é o dia a seguir ao dia de Natal. E porque foi uma manhã luminosa, cheia de música.
E então, como tenho muitas saudades da Primavera, decidi que haveria flores, muitas flores. Compradas num dos meus impulsos de cozinheira Louboutin:) O carro cheio de rosas japonesas e vivás e túlipas e mais coisas que eu não sei o nome, mas de que gostei. Colocadas em jarras, latas de chá e em copos de água.
Partilho também a mesa dos pequeninos, que gostei imenso de fazer. Uma mesa especial, com direito a barquinhos de madeira e a carrinhos antigos e a gomas esponjosas. Como ainda não se sentam à mesa dos grandes, a mãe Mar preparou-lhes uma mesa exclusiva. E eles sentiram-se mesmo especiais, espero. Porque nestes dias doces de Natal, as crianças espalham aquela alegria que nos preenche com ternura. E nós devemos agradecer-lhes por isso, não é?

If on a winter's night...

O meu filho acredita no Pai Natal. E, por ter essa ilusão doce, aplicou-se a preparar um lanchinho para o velhinho que, numa noite de Inverno, oferece presentes a todos os meninos. Pediu-me ajuda. E eu ajudei-o a conservar a beleza de uma ilusão. Porque daqui a algum tempo, vai deixar de acreditar. E gradualmente, a ingenuidade com que olha para a vida, vai desaparecendo. Para ser substituída por outras coisas. Que não são necessariamente más. Mas enquanto puder, vou ajudar o meu filho a conservar a eterna novidade de que falava Alberto Caeiro. Por isso, junto à árvore, houve um copo de leite com canela. E biscoitos ingleses. E o António pediu muito para que as velas ficassem acesas. Para o Pai Natal encontrar o caminho. Para o Pai Natal não se perder. Eu fiz tudo o que o meu filho pediu. E fiquei feliz porque ele quis deixar um presente e um bilhete para a doce ilusão que tem dentro de si. On a winter's night. Em que as velas arderam até ao fim. Para encontrarmos o caminho com a ajuda da luz.

O Natal cá fora


Um dos meus recantos preferidos da casa. O terraço virado para o rio. De solidão contemplativa ou de conversa prolongada. Hoje estava sol. Então, consegui esquecer-me do frio e vim cá fora para olhar o rio.
E lembrei-me de trazer um pouco de Natal ao meu terraço preferido. Ramos de magnólia com cristais suspensos e a jarra/obra de arte, que tem um nome semelhante ao meu. Dora Maar, de Jonathan Adler.
E a Mar diz que quer que todos tenham um Natal cheio de coisas de amar:)

Feliz Natal!
PS: Um beijo muito de Natal para a voz mais bonita da Antena 3, que hoje à tarde se lembrou que uma certa professora de Português gosta de Radiohead. High and dry. Obrigada. Pela música e pelas palavras de guardar.

Antipasti

Não sei que nome dar a isto que fiz hoje. Mas sei que resultou aromático e leve. E que foi uma óptima maneira de antecipar o jantar. Como foi um momento particularmente intuitivo e porque me distraí nos meus rituais de final de dia, não me lembro das quantidades, nem do tempo que esteve no forno. O que significa que terei que me redimir lá mais para a frente.
Mas lembro-me dos ingredientes. Que foram estes:
Cebola picada + bacon + pimento doce + espinafres cortados + farinha + leite + 3 ovos inteiros +sal, pimenta e azeite + queijos gruyère e conté.
Primeiro, leva-se ao lume a cebola, o bacon, o pimento e os espinafres. Deixa-se estar um pouco, depois de se temperar com sal e pimenta. Retira-se do lume e reserva-se. Entretanto, numa taça, coloca-se farinha (é nesta parte que não me lembro das quantidades), os ovos, o sal e algum leite, que se acrescenta progressivamente. Bate-se com a batedeira durante uns minutos, junta-se o refogado, os queijos, mexe-se e leva-se ao forno numa forma untada e polvilhada com farinha. Quanto ao tempo de cozedura...have no idea! Talvez meia hora.
Mas sei que ficou delicioso. E que desapareceu rapidamente. Embora continue sem saber que nome atribuir a este momento intuitivo da Mar:)

Massa para um jantar de quinta-feira

Porque os próximos dias são classicamente excessivos, hoje quis usar muitos vegetais no meu jantar. E então, fui buscar uma massa muito especial, Ciriole, que trouxe do Supermercado Apolónia, em Almancil (um dos paraísos para alguém como eu, que gosta de fazer comida). Depois de estar a cozer durante doze minutos (era o que dizia na embalagem e eu obedeci), passei a massa por água fria e levei ao lume novamente. E aí fiz o que a minha imaginação e vontade me ditaram: pinhões, espinafres, pimentos doces e pesto. E queijo parmesão no final, mesmo antes de a minha massa verde ser servida! A acompanhar, a suavidade de um Redoma Branco, Reserva 2009. Peço desculpa por enunciar isto tudo, mas este vinho é mesmo muito de recomendar.
E a alegria um bocadinho psicadélica da música que tenho ouvido ultimamente e que faz com que o meu marido vá para o extremo oposto da casa: MGMT. Electric feel:)

Os presentes

A sério que gosto muito desta altura do ano. Sempre gostei. Mas tenho procurado cada vez mais proteger-me (literalmente) do carácter febril que está associado ao Natal. Para mim, é principalmente uma altura muito doce, de preparação. Durante esse percurso, vou pensando nas pessoas que fazem parte da minha vida. No que quero dizer com os presentes que escolho para cada uma dessas pessoas. E é simples o que eu quero dizer: que gosto muito que façam parte da minha vida. E que quero agradecer por isso.
Como não gosto dos embrulhos demasiado ostensivos do Natal, dedico-me um bocadinho a pensar nos papéis e nas fitas que vão envolver os meus presentes. E num pedaço de tempo escolhido por mim, com música escolhida por mim e sem pessoas por perto, vou fazendo os embrulhos de Natal. E poupo-me à agitação de que não gosto nada. Porque gosto que este seja um ritual cumprido a sós, sem interferências.
Os deste ano foram assim. E os que aparecem na imagem, são os presentes de quem trabalha comigo todos os dias. E são expressão do meu afecto e da minha gratidão. Mesmo quando discordamos. Mesmo quando somos impacientes. Ou mesmo quando achamos que já não aguentamos mais o ritmo frenético e as obsessões de um certo professor de Matemática:) Mas há sempre o sorriso da Vanessa, o sentido de humor do Nelson, o espírito conciliador da Paula, os abraços carinhosos do Marco, a ternura da Maria, o bom gosto musical do Carlos e as oscilações de humor de um certo líder:). Tudo isto, todos os dias. É muito. Não se consegue dizer o muito que tem sido o tempo partilhado. Por isso, é melhor um gesto em forma de presente.
E bom Natal!

E o Natal seria o mesmo sem rabanadas?

Antecipei um bocadinho as coisas e fiz um daqueles clássicos do Natal. A pedido do meu filho. E sim, eu sei que é estranho uma criança gostar de rabanadas. E de aletria. E de sopa de bróculos(?). Fazer o quê? Seria impossível resistir ao pedido de um filho que, para me subornar amorosamente, faz o desenho de um beijo da mãe. Achei tão poético: desenhar um beijo. Então, inspirada pelo desenho do António, dediquei-me a fazer rabanadas, depois de um dia caótico de reuniões intermináveis!
Assim:
1 pão para rabanadas+meio litro de leite+Porto rosé q.b.+cascas de laranja+200g de açúcar em pó+canela+3 ovos batidos+óleo para fritar
Embeber o pão cortado em fatias nesta mistura muito perfumada: leite, Porto rosé, duas cascas de laranja, açúcar em pó e canela. Passar por ovo e fritar em óleo quente, virando de um lado e do outro, para que as rabanadas fiquem douradas por inteiro. Retirar e passar por açúcar em pó e canela. E elas ficam óptimas assim: simples. Mas faço sempre uma calda, para quem quiser reforçar ainda mais o espírito da época:) Então, basta o sumo de duas laranjas, mais Porto rosé, açúcar em pó q.b. e cascas de laranja. Leva-se ao lume o tempo suficiente para que a calda ganhe alguma densidade. E serve-se quente. Porque foi assim que o António se deliciou com umas fatias douradas, depois de me oferecer outro desenho. Desta vez como recompensa.


NB: Eu sei que não é habitual usar açúcar em pó, mas não gosto de sentir os cristais do outro açúcar, por me parecer excessivo. Daí esta adaptação.

Lá fora.

Embora adore conhecer restaurantes diferentes, há alguns sítios que eu costumo ter como "seguros". Por serem sítios onde sei exactamente o que vou encontrar. Por me apetecerem. E eu gosto mesmo muito de fazer o que me apetece, sempre que possível:) Este é um deles. E quando tenho uma vontade incontrolável de comer um certo arroz à lavrador, feito por uma senhora simpática que se chama Dª Alice, o meu carro segue em direcção à Quinta da Cavada, em Vouzela. A cozinha é rústica e a ementa é certa. Mas o sítio é o que torna este restaurante ainda mais especial. Uma quinta com uma vista inesquecível, cheia de verde. A imagem que ilustra o meu texto é de um espaço onde almoço no Verão, debaixo de uma árvore centenária, que se vai espalhando, à medida que os anos passam. Mas lá dentro, durante o almoço de hoje, a lareira estava acesa. Para querer prolongar um almoço de dia de trabalho. E é bom saber que se vai encontrar sempre a simpatia e a alegria da Otília, o serviço atento do Sr. António e a comidinha de avó da Dª Alice.
E em todas as refeições, a memória de uma amiga. A quinta onde fica este restaurante pertencia à família da Maria João. A menina do Liceu Francês, que vinha sempre no Verão. A imagem da Maria João, no jardim. Que queria sempre tudo e depressa. E que deixou de existir numa noite de Carnaval, quando ainda havia tanto para viver. A amiga do nome esquisito: Maria João Terra da Motta. Evocada em cada uma das minhas refeições na Quinta da Cavada. Porque me recordo da alegria levemente insolente da minha amiga. E porque é bom que uma refeição evoque uma pessoa e as coisas boas que ela foi. Ou é, na nossa memória afectiva.

E antes de jantar: kir royal

Muito simples, a receita para aquele pedaço de tempo que antecede o jantar, Normalmente é gin tónico, mas hoje foi kir royal. Um dos cocktails para anteciparmos o ritual de nos sentarmos à mesa. E devo dizer que, apesar de a minha tendência natural ser para fazer comida, pelos vistos tenho jeito para preparar estas bebidas de antes de jantar. Porque dizem que ficam sempre diferentes, quando sou eu a fazer. Eu já expliquei que isso é só porque sou generosa nas doses de gin e de champanhe:).
Basta então: um pouco de licor de mirtilos no fundo de um copo, alguns mirtilos e champanhe. Para beber com tempo. E com música de antes de jantar. Uma voz cheia de alma: Duffy. Warwick Avenue. Serious. Syrup&Honey. Porque não apetece música de Natal. Tornou-se demasiado exuberante e ruidosa.

Mesa de jantar de domingo

Sair de casa, significa para mim, ir buscar coisas que me acrescentem. E à minha casa. E hoje só me apeteceu procurar com calma pormenores para a mesa. Não para um dia em especial, não para uma ocasião, não para visitas. Para hoje. Para quem está à mesa hoje. E encontrei velas e marcadores e guardanapos. E mais coisas. Esta mesa luminosa foi a mesa de hoje à noite, para homenagear a lasagna de vegetais que fiz, inspirada pelo blog de que falei noutra entrada. E parece-me que será uma espécie de antevisão da mesa de Natal, por ser feita de luzes. E ainda deu para recuperar uma peça de família, para nos lembrarmos todos os dias dos que existiram antes de nós.
O melhor: a maneira como o António "fecha" o prato, no final da refeição e tenta colocar os talheres como eu o ensinei. Com aquela candura dos cinco anos. E a olhar para mim, em busca de aprovação. Ternurento, o meu filho.

Chips de batata doce e guacamole

Como antecipei o jantar de hoje, só me apeteceu aproveitar bem os momentos prévios. E lembrei-me de associar batatas doces a guacamole, para ver como corriam as coisas. E não é que correram bem? Ainda por cima, foi mesmo rápido de fazer: bastou cortar duas batatas doces em rodelas finas e fritar em óleo bem quente. Quanto ao guacamole...admito que hoje não foi feito por mim. Veio de um frasco que estava na despensa, fruto das minhas deambulações pelo supermercado do El Corte Inglès, à espera de um dia como o de hoje. Em vez de gin tónico, vinho branco. A preceder o vinho tinto de um jantar de quinta-feira. E a música vibrante dos MGMT, que pede mesmo para dançar:) No Campo Pequeno, sábado à noite.

Só para dizer que...

Existe um blog absolutamente delicioso. Com aparente inspiração no título de um filme dinamarquês, A Festa de Babette. E quero espalhar a notícia. Por causa dos pontos comuns, dos textos, da maneira como naquele espaço se procura viver a vida. O ofício de viver. Algo aparentemente simples. Em todo o caso, é bom confirmar que há algures muitas pessoas que não deixam passar os dias em falso, procurando dar-lhes sentido(s). E sim, às vezes é difícil. Mas no final do dia, naquele flash interior em que rememoramos o bom, o mau, o sublime, os instantes de guardar e os que são só para integrar, acaba por fazer todo o sentido o exercício humilde a que nos devotamos. O de procurar (muito) a felicidade. O que nos faz bem. E de fazermos coisas com o que nos acontece. Em vez de nos deixarmos arrastar pelo que nos acontece. E então, escolhe-se todos os dias. Uma mesa bonita, como se fosse dia de festa. Flores frescas espalhadas pela casa. Copos de cristal frágeis e antigos. Velas. E uma refeição partilhada, em que se colocou tudo o que somos. Naquele blog é assim. E há crianças que gostam de aletria, como o meu filho:)
Fico feliz por mais uma dádiva. E achei que devia agradecer. Escolhi ilustrar as minhas palavras com a imagem de uma árvore de Natal, por ter verificado que ali também se vive muito a época em que as luzes mais brilham. Esta foi cristalizada em Milão, no Natal feliz do ano passado. E só me faz pensar em coisas boas.


Aqui fica então:

Des instants précieux


Um sábado no Porto. Uma ideia do meu belo filósofo, que disse que a Mar precisava de ir ver o mar. Porque tem estado sempre a chover. Porque tem havido frio e nuvens todos os dias. E então, levou-me ao meu restaurante de eleição, o Shis. Por ser mesmo em cima do mar. Eu deixei-me levar. E apreciei lentamente uma refeição que guardei na memória, num sítio que nunca me desiludiu e que não me canso de referenciar como sendo um dos melhores do Porto, a par do Cafeína. E no sábado não houve frio, nem chuva, nem nuvens. Só uma brisa sentida em pleno, enquanto conduzia junto ao mar, na Foz.
Um instante precioso em que cristalizei a imagem de um homem singular, como no filme do Tom Ford. Mas para melhor, porque é real.
E não me apeteceu cozinhar. Nem partilhar receitas.


Mais luzes

Uma preparação lenta para o Natal. Pontos de luz espalhados pela casa. Muitas velas e cristais e copos pequenos que brilham. Muitas luzes no sítio onde mais gosto de estar. Junto dos livros que vou acumulando, vindos de sítios diferentes. Onde procuro aprender mais sobre o acto aparentemente simples de fazer de uma refeição uma celebração quotidiana.

Uma árvore de Natal feita de luz

O ritual de fazer a árvore é orientado pelo meu filho, que vai dizendo antecipadamente como é que imagina a nossa árvore de Natal de cada ano. Porque todos os anos são diferentes entre si, também as árvores seguem esta lógica. E o António disse que queria muitas luzes. Eu achei que era uma boa sugestão e que estava de acordo com aquilo que eu própria quero: luz. Uma imagem da árvore de Natal que o António pediu. E enquanto escrevo, está sentado em contemplação silenciosa, depois de eu ter acendido as velas. Um ritual que será cumprido todos os dias, no percurso até à noite mais luminosa, em que a casa vai ser docemente invadida e cheirar a laranja, a canela e a gengibre. Um percurso feito de luz e de silêncio.

Chá, scones e um domingo de chuva



Lá fora chove muito. E o jardim aguarda pacientemente pela Primavera. Enquanto isso, na casa junto ao rio, o sentido é viver muito o que o Inverno tem de melhor. Que é olharmos mais para dentro. Para o que nos acolhe silenciosamente. Por isso, um domingo chuvoso e frio de Dezembro vive-se assim: com uma mesa posta para o chá. E com scones barrados com manteiga fresca e compota de framboesas. Um ritual que eu reinvento, partindo das referências inevitáveis dos ingleses. O afternoon tea, que nos hotéis mais emblemáticos de Londres é servido entre as três e as três e meia ou entre as cinco e as cinco e meia. Como tudo o que diz respeito aos ingleses, ritualistas por natureza, obedece a uma série de códigos que eu acho deliciosos. Começando pelo primeiro momento, com finger sandwiches. Que são pãezinhos muito pequenos, barrados com queijo-creme ou com o que nos apetecer. E que se chamam assim, por serem comidos com os dedos. Aliás, é tacitamente proibido usar garfo nesta refeição. E os scones, que devem ser quebrados e não abertos ao meio e barrados com manteiga ou com clotted cream. E compotas.
Então, depois de uns breves minutos a fazer scones, desfrutei do prazer de pôr uma mesa para o chá. E do depois. Chá preto de violetas e scones quentinhos.
Como fazer scones:
3 chávenas de farinha+1 de açúcar+1 de leite+2 ovos batidos+1 colher de manteiga+1 pitada de sal. Misturar tudo, fazer bolinhas pequenas e levar ao forno num tabuleiro untado durante 15 minutos.
Deixo ainda o link do sítio onde este ritual é levado muito a sério.

Catarina+Pedro 04.12.10



Um casamento. Dos meus amigos. Da Catarina, que para mim é Pipinha e do Pedro. E o dia deles foi a voz da Isabel Silvestre na Igreja Matriz, a cantar. "Muito lindo é o céu". E o frio. E os dois nomes, escritos de uma maneira muito simples, como se faz na adolescência, nos cadernos da escola. Ou gravados nas árvores, para tentar eternizar. E os centros de mesa, feitos por nós. Imaginados por mim e pela Pipinha durante dias. E eram tão simples. Tão depurados como as casas que o Pedro desenha. Água, flores brancas, luz e espelhos.
E a música soul da Ana. Para dançar a dois. Della Humphrey. "Don't make the good girls go bad." Louboutin and Gucci shoes dancing together.
No final, um abraço silencioso à minha amiga vestida de noiva.

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