Todo o nada. Mario Testino

Um pretexto para ir a Madrid no fim de semana. E era preciso mesmo ter um pretexto? Ainda assim, estes dias vêm mesmo na altura certa. Porque a exposição só vai estar no Museu Thyssen-Bornemisza até dia 6 de Janeiro. E porque gosto mesmo muito das imagens deste fotógrafo que adora as mulheres e que as fotografa como ninguém. Que lhes confere um poder indizível.
Madrid, para mim, foi sempre sinónimo de (muito) calor. Por isso, vai ser bom ir durante o Outono. E conhecer um hotel futurista, em que cada um dos doze pisos foi projectado por um arquitecto diferente: Zaha Hadid, Norman Foster, Jean Nouvel e o preferido do meu filósofo, John Pawson.
Por isso, os meus sapatos Louboutin vão andar por Madrid durante quatro dias. E depois vão regressar, para fazer mais comida:) E para dar notícia dos sítios onde espero inspirar-me. De amar, I hope so.


Para a Pipinha e o seu (quase) marido arquitecto:
Eu e o Vasco vamos ser cobaias:) e ver se este hotel é mesmo o ideal para a vossa lua de mel. Tudo indica que sim, mas depois dou notícia de como correu, noivinhos atarefados!

A poesia do absoluto

http://graphics8.nytimes.com/

Três dias. Em Novembro. Dedicados à especulação, no sentido mais vasto do termo. Dizer a poesia que não pode ser dita. Por ser tão maior do que tudo o que alguma vez foi escrito. Por isso é que há escritores. E depois há Fernando Pessoa. Que tem uma dimensão que não é mensurável.
Deixo a notícia, confesso que depois de garantir a minha inscrição :). Eduardo Lourenço. José Gil. Richard Zenith. E mais. E quem vai assistir. E gostei tanto desta imagem. De ver o Fernando Pessoa na rua. Transformado em arte urbana.
Para mais informações sobre o II Congresso Internacional Fernando Pessoa, basta ir ao site da Casa Fernando Pessoa.
http://www.casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/


Pour Marie Fournes:
Salut, Marie! Quand j'ai fais ma inscription, je me suis souvenu de toi et des questions que tu as posé sur la poésie de Fernando Pessoa, pendant un dîner mémorable. Alors, j'espère que tout va bien et que tu continues a lire les mots du poète qui a essayé de dire le monde, la mort, l'infini. C'est bon d'essayer. Parce que c'est la libération. L'éffort c'est la rédemption. À bientôt!

O almoço de domingo. E o sol.


Depois de um sábado dedicado à busca de beleza, gostei ainda mais do meu domingo. E agora está a chover, mas durante o dia houve sol. O sol doce de Outono. Tão doce, que deu mais uma vez para almoçar lá fora. E eu aproveito enquanto houver sol. Para não perder nada do que há para viver. Hoje resolvi fazer umas costeletas de borrego com xarope de ácer. Muito bem acompanhadas por um arroz de açafrão e vegetais salteados. E claro, vinho. E boa conversa. Demorada e doce. Como o sol.
Agora a receita para um almoço de domingo:
Tempera-se com alguma antecedência as costeletas (que devem ser pequenas) com sal, vinho branco, laranja, pimenta, azeite, molho inglês... Quando for altura, coloca-se um pouco de azeite numa frigideira e deixa-se fritar ligeiramente as costeletas, para ficarem douradas. Depois, é só juntar o tempero e uma colher de xarope de ácer. Para o toque final. Servem-se com este molho, que fica delicioso, por ser ligeiramente doce, mas que não interfere com o resto.


NB: Minha querida Isa de Portimão, ainda não pude tentar fazer a receita que deixou há dias. Por não ter conseguido arranjar coelho. Mas a Dª Maria do Carmo já está a tratar do assunto:) Por isso, quando tiver um coelho caseiro, hei-de juntar-lhe três pimentas. Em sua homenagem. Um beijo do Norte, aí para o Sul. Onde fui sempre feliz.

Como tentar dizer a amizade



Sempre achei que era importante assinalar datas. Celebrar os aniversários, ritualizar os dias, os que temos como especiais e os outros. Que aparentemente são normais ou iguais entre si. E a amizade reforça ainda mais esta vontade. Pelo gesto simples de nos concentrarmos, de nos juntarmos para celebrar a vida de alguém. Que é partilhada connosco. Porque isso é uma dádiva. E as dádivas devem ser retribuídas de uma forma absolutamente livre. Celebrámos então a dádiva da amizade. A vida da Leninha. E o facto de a vida dela tocar as nossas vidas. Jantámos e rimos juntos. E oferecemos presentes. E pensámos num bolo de aniversário que reflectisse as coisas boas que ela é. E a alegria dela foi tanta! Convém dizer que este bolo, à semelhança do meu bolo de aniversário em forma de Louboutin foi executado por uma artista. Pela Cristina, da Casa dos Vouguinhas, nas Termas. Que interpreta os nossos pedidos e os transforma em rostos felizes, de aniversariantes estupefactos. Obrigada a ela. Pela sensibilidade e pela criatividade. E pela felicidade da Leninha! Para que escolha o próximo rumo. Sabendo que em cada regresso, havemos de estar cá. Com a nossa amizade.

Já é (definitivamente) Outono


Um sabor muito de Outono a ser quase Inverno. Esparregado. E o curioso é que nunca gostei. Aliás, detestava quando a minha mãe fazia. Mas aprendi a gostar, sem esforço. Porque fica muito delicado o sabor e também porque é muito bom de conjugar com quase tudo. E o melhor de tudo é que este esparregado foi feito com nabiças oferecidas pelo sr. Manuel da tabacaria, que sabe que gosto muito de aproveitar tudo o que a terra nos dá, consoante as estações do ano. Então, segui as instruções prévias do sr. Manuel e transformei (imensas) nabiças num creme perfumado com alho, azeite e vinagre. Assim: corta-se (mesmo muitas nabiças) como se fôssemos fazer caldo verde e cozem-se. Depois, basta escorrer bem a água e saltear em azeite e alho. Mexe-se e tempera-se com sal e vinagre. Entretanto, retira-se e passa-se com a varinha mágica. Voltamos a levar ao lume e junta-se a quantidade necessária de farinha (não muita) e rectifica-se os temperos. E serve-se muito quentinho, quando já está tudo pronto para um jantar de Outono, a ouvir The XX. Um som que ouvia no Verão. Mas que é para ouvir sempre




NB: Obrigada ao sr. Manuel, pelas ofertas de Outono. Pela simpatia de todos os dias. E pelo que isso acrescenta.

Cupcakes de chocolate


Já tinha feito várias vezes estes bolinhos delicados e passíveis de ser coloridos, mas não tinha dado notícia aqui. Pois hoje aconteceu. E o meu filho ajudou, aplicado em separar as gemas das claras e maravilhado por ver que se consegue fazer castelos de neve com a parte translúcida dos ovos! O olhar das crianças faz-nos recuperar um pouco da eterna novidade do mundo, como escreveu o poeta maior. Fernando Pessoa, pela voz de Alberto Caeiro, o guardador de rebanhos que não queria pensar. O anti-metafísico. Subversivo na simplicidade aparente das palavras. Por vezes, o mais simples é o mais difícil de dizer.
E estes bolos também são muito simples de fazer. Basta uma chávena de açúcar, seis ovos, 100 g de manteiga derretida, 150 g de chocolate em pó e uma colher de farinha. Bate-se o açúcar e as gemas, depois as claras são transformadas em castelos:). Entretanto, junta-se a manteiga derretida à mistura de gemas. Para o final, adiciona-se o chocolate em pó, as claras batidas e a colher de farinha. Leva-se ao forno durante 20 minutos. Depois de terem arrefecido, cobre-se com creme de chocolate. E salpica-se com bolinhas prateadas. Ou com o que quisermos no momento.
O meu filho adorou. E comeu chocolate como se fosse a primeira vez. E eu assisti com felicidade à primeira vez que o António comeu chocolate.

NB: O chocolate em pó que eu uso em todas as receitas de chocolate é Neuhaus. Uma mistura para pôr no leite. E que eu gosto de usar também nos bolos. Por ficarem infinitamente melhores.

Quem disse que as crianças não gostam de bróculos?


Pois. O meu filho é como todas as outras crianças: não gosta de bróculos. Ou não gostava. Até eu ter arranjado esta solução e ter integrado o vegetal mais odiado numa sopa cremosa. E não é que ele adorou? E comeu tudo?
A base é a normal de uma sopa: cebola+azeite. Depois duas batatas, uma courgette, quatro cenouras. E água adicionada aos poucos e sal. Depois de estar tudo bem cozido, passa-se, até ficarmos com um creme sem grumos. Depois é só juntar os bróculos, as pequenas hastes que parecem árvores. E deixar cozer durante uns minutos. Não muito, para não perdermos o verde dos bróculos.
E hoje usei uma loiça muito especial. Wedgwood. A melhor loiça inglesa, que encontrei finalmente. Esquecida numa loja, com as etiquetas amarelecidas. Um tesouro à minha espera. The queen's plain soup cup. E recuperei um livro, aberto na página sobre estas peças delicadas. As preferidas da rainha de Inglaterra e do Mick Jagger. E do meu filho. Que comeu a sopa toda:)

Mesa de domingo


Já disse (muitas vezes) que adoro os domingos, não é? Este especialmente. Pela surpresa do sol, depois da chuva. É como tudo: apreciamos mais o sol, depois da chuva. Sendo que o sol e a chuva podem ser metáforas do que quisermos. E então, depois de ter achado que era altura de recolher as mesas e as cadeiras dos terraços, por estarmos no Outono, próximos do Inverno, o domingo trouxe-me o sol. E eu procurei retribuir, com uma mesa posta cá fora. E uma árvore verdadeira no centro, enquanto ouvia "Fake plastic trees", dos Radiohead. A música eterna (e perfeita) dos Radiohead.

NB: Um beijo para o Rui Estêvão, pela dádiva de ter dado a ouvir esta música na Antena 3, numa sexta-feira à tarde cheia de chuva. Obrigada a ti, Rui. Pela música. Pela voz. Até ao próximo sábado, em Viseu! Para mais música.

Gelado de gengibre


Como os ingleses dizem do gin Hendrick´s... it is not for everyone. E não é mesmo. O gengibre tem um sabor muito peculiar. E se usado nas doses erradas fica insuportável. Pela sensação de se estar a beber perfume picante. Mas se for usado com cuidado, na quantidade certa, acrescenta muito ao que já estiver. Este gelado é mesmo muito fácil de fazer: dois pacotes de natas batidas, uma lata de leite condensado e duas colheres de gengibre ralado na hora.
E ficou tão bem harmonizado com as pêras que tinha feito há dias. Um belo recurso para sobremesa, esta combinação. Porque o doce de pêras conserva-se em frascos fechados no frigorífico e o gelado pode estar em repouso, à espera de ser usado. E assim, há sempre a possibilidade de prazer armazenado. Em espera.

O prazer da previsibilidade: queijo e azeite


Não tenho mesmo nada contra este tipo de previsibilidade. Uma palavra que é tantas vezes desconsiderada, apoucada. A verdade é que o queijo fresco e o azeite combinam mesmo bem. Com pão fresco. Ou tostas de rosmaninho. E então, previsivelmente, o começo do almoço de domingo declinou-se assim: com queijo fresco oferecido por um grande amigo e com um azeite muito especial. Umas gotas de vinagre balsâmico. E pólen de flores. O resto foi imprevisível. E ficou por conta de quem se deliciou com um sabor tão essencial, num dia doce de sol.

Codornizes, vinho do Porto e frutos vermelhos


Gosto bastante destas aves muito frágeis. Só não aprecio assim muito o facto de termos que nos desenvencilhar de uma quantidade enorme de ossos pequeninos, até termos acesso ao que realmente importa: a carne. Mas uma descoberta recente mudou isto tudo: peitos de codorniz. Comecei pelo mais importante: um tempero antecipado. Sal, vinho branco, molho inglês, azeite e o mais importante: vinho do Porto. O bastante para cobrir a carne.
E preparar esta carne foi bem simples: bastou colocar as codornizes num tacho com um pouco de azeite, para ficarem levemente douradas, juntar o tempero e fechar. Depois foi só esperar uma meia hora, até a carne ficar pronta. E quando isto acontece, retiramos as codornizes, para nos ocuparmos só do molho. Assim: junta-se mais vinho do Porto e os frutos vermelhos (amoras e mirtilos) e rectificar os temperos. Depois, é só esperar que a redução destes ingredientes se faça sozinha, em lume brando e com alguma vigilância. Enquanto se ouvia Kings of Leon. Uma voz rouca e algo agressiva a espalhar-se. A integrar-se na comida. Na minha disposição. E a testar a paciência amorosa do meu marido:).
E o vinho. Neste dia foi um vinho verde. Que já foi um segredo bem guardado. Mas que está a deixar de o ser, dados os prémios que tem recebido. Quinta de Gomariz. Um vinho verde que não é liso. E que ficou muito bem com uma carne feita em vinho do Porto.


NB: Os peitos de codorniz encontram-se no supermercado do El Corte Inglès.

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