Outra declinação de caril


Apesar de o caril ser intenso por si, resolvi acrescentar gambas. E o resultado foi melhor. Faz-se da mesma maneira que o outro de que já deixei a receita. Mas acrescentei um pouco de sumo de lima e uns fios de açafrão, quase no final. E côco ralado na hora. Um sabor exótico e estranhamente delicado, apesar de persistente na memória sensorial. Acompanhado por uma salada verde e rosa (por causa das beterrabas) e vinho branco quase gelado. Claro que com este calor, o jantar é tardio. Mas feito com antecedência, para registar e partilhar aqui:).
A suspirar por Lagos. Pelo mar em frente à casa de Lagos. Pelo jardim cheio de hibiscos de muitas cores. E pelas idas matinais ao mercado.
Falta pouco! May the force be with me:)

Colher o dia



Começando pela teoria de Espinosa, a dos bons encontros. À minha mesa de hoje houve realmente um bom encontro. Com uma pessoa de sempre e com outra que veio pela primeira vez. Um casal especial. A mesa foi posta cá fora, junto às árvores e ouvia-se a voz bela e trágica de Maria Callas. E o almoço consistiu na recuperação de uma memória. Uma receita de família. Que eu acabei por reinventar, mas a que fui buscar inspiração. E tentei harmonizar um pouco a intensidade do caril com outros sabores. Creio que resultou bem. Ou melhor, resultou. Porque não ficou nada:). Um almoço prolongado, com vinho e conversa que flui, sem rede. Sem formalismos e cerimoniais vazios de sentido.

Caril de Bacalhau
3 cenouras+1 cebola+metade de um pimento+1 courgette+alcaparras q.b.+1 garrafa de leite de côco+caril a gosto+coentros picados+tomate cortado em cubos+3 postas de bacalhau em lascas.
Faz-se um refogado com os vegetais, junta-se o bacalhau em lascas, depois o leite de côco, o caril, o tomate picado e os coentros. Deixa-se estar durante cerca de meia hora e tempera-se a gosto. O que significa que quem quiser, pode tornar o caril mais spicy. Ou não.

NB: O branco da mesa foi cortado pela introdução de garrafas de uma cerveja belga, intensa como um vinho e que se chama DEUS. E eu juntei uns ramos de oliveira às garrafas de Deus. Para dar um toque terreno:)

Cheese Cake de Ananás e Côco


Adoro a versatilidade do cheese cake. Já experimentei fazer várias declinações da receita-base, mas devo dizer que esta correu particularmente bem, apesar de a associação do ananás e do côco não ser especialmente original. Uma sobremesa fresquíssima, muito ligeira e com um aspecto quase diáfano.
Agora a receita:
1 pacote de bolachas digestivas+ 50 g de manteiga+ leite q.b.+1 pacote de natas+seis folhas de gelatina branca+1 lata de leite condensado+1 emb. de queijo mascarpone+2 iogurtes de ananás+metade de um côco+pedaços de ananás.

Para fazer a base de bolacha, basta triturar as bolachas, juntar a manteiga derretida, um pouco de leite e misturar. Depois, forra-se o fundo de uma forma com fundo amovível e leva-se ao congelador.
Entretanto, coloca-se o leite condensado a aquecer em banho-maria. Depois, bate-se as natas e demolha-se as folhas de gelatina em água fria. Quando o leite condensado estiver quente, dissolve-se as folhas de gelatina. E logo de seguida, junta-se o queijo mascarpone, que se deve incorporar com cuidado (eu uso a batedeira na velocidade mínima, para simplificar). Transfere-se para uma taça, junta-se as natas batidas e depois os iogurtes. Mexe-se com cuidado, coloca-se na forma e leva-se ao frigorífico durante algumas horas. Ou ao congelador, se tiver que ser rápido. Para finalizar, depois de se desenformar, coloca-se ananás aos pedaços por cima e polvilha-se com côco acabado de ralar. E sim, faz toda a diferença ser côco fresco, ralado na hora.

NB: Os iogurtes que usei são os que costumo usar nas mousses de frutas. A marca é Emmi. E encontram-se com relativa facilidade em quase todos os supermercados. E isto não é um pormenor, porque estes iogurtes são mais densos e têm pedaços de ananás. O que faz uma certa diferença no resultado final.

Um jantar de sábado à noite


Devo começar por dizer que as minhas tendências ligeiramente obsessivo-compulsivas não me permitem fazer massa para pizza muitas vezes. Isto porque o caos que se instala na cozinha, enquanto se prepara a massa, mexe comigo. E então, apesar de ser muito intuitiva a cozinhar, a verdade é que a farinha por todos os lados e as mãos peganhentas, fazem com que me apeteça desaparecer até a ordem ser restabelecida:). Mas a Joana veio cá a casa. E fez a massa, enquanto eu fazia o resto. Aqui fica então a receita da base para pizza:
4 chávenas de farinha+uma saqueta de fermento de padeiro+1 chávena de azeite+uma pitada de sal+2 chávenas de água tépida.
Coloca-se a farinha numa taça. No meio abre-se uma cavidade, coloca-se o sal, metade do azeite e da água e começa a operação de ficar com as mãos peganhentas. Vai-se amassando e junta-se água e azeite, consoante a necessidade. Quando a massa deixa de se colar insistentemente às mãos, faz-se uma bola e deixa-se em descanso durante meia hora, coberta com um guardanapo de pano. E fica em descanso mesmo. Não se deve perturbar o descanso da massa anteriormente massacrada pelas nossas mãos:)
NB: A Joana, que é vegetariana e tem algumas tendências místicas (que eu acho amorosas, apesar de ter sorrido ligeiramente com as suas recomendações), disse que a massa deve ser feita numa taça de loiça, por causa das vibrações positivas:). E que o guardanapo que cobre a massa deve ser branco.

Agora falta o resto. E o que se põe por cima da base, fica ao critério de cada um. Por mim, é o básico: tomate, cebola, pimento, azeitonas, cogumelos, orégãos e muito queijo mozzarella. Doses renovadas de queijo mozzarella. Descobrimos ontem que quando a primeira camada de queijo derrete, se deve colocar mais, para ficar naquele ponto delicioso!

A fotografia é uma homenagem à minha amiga. E também achei curiosa a ironia de simular uma oferenda ao buda de pedra:)

Jantar de Verão com sabor a sul


Por estes dias, as sopas tornam-se dispensáveis. Remetem-se para os dias de Outono ou de Inverno. Esta é uma das soluções para uma refeição leve. Juntar peixe fresco com massa e ervas que acrescentam uns toques mágicos ao resto. Embora seja necessário não exagerar. As ervas devem ser associadas com critério: cebolinho com coentros, por exemplo. E nunca poejos com manjericão. Acabam por se anular entre si. E nós gostamos dos sabores por inteiro, sem a sensação de interferência.
Agora a receita para um jantar ligeiro:
Cebola picada+alho+tomate cortado+pimento verde+cenouras+duas postas de garoupa+gambas+massa+sal+coentros+cebolinho picado.

Faz-se um refogado com tudo misturado, os vegetais entenda-se. Deixa-se estar uns minutos e depois junta-se água q.b.. Quando ferver, adiciona-se a massa e deixa-se cozer um pouco. Quando estiver quase cozida, é tempo de juntar as postas de peixe, que se retiram uns cinco minutos depois, para que a carne do peixe não fique sensaborona e para se retirar as espinhas. Entretanto, pouco antes de retirar do lume, coloca-se as gambas e as ervas. Mexe-se e junta-se o peixe já preparado.

Para ficar no ponto, a massa não deve absorver o molho. Que é para depois se servir em tigelas ou em pratos de sopa. E para se comer à colher. Num dia de calor, em que apetece pensar em praia e em mar. Enquanto se ouve música. Massive Attack. Risingson.

A very special dinner under a special sky





NB: Este post vai ser escrito em inglês, uma vez que os meus convidados são de sítios muito diferentes. E assim, podem compreender o significado tangível e intangível das palavras.
Yesterday was a day to remember. Because it was my first time in an industrial kitchen, because I had to cook for twenty-eight international guests, that came from Serbia, Croatia, Spain, Czech Republic, France, Slovenia and Korea. It was really something to keep. The path that led to the place where we had dinner was made from lemon grass, rosemary, lavender and small candles. The tables were white and very simple, just like our meal. That was extremely vegetarian: pasta, vegetables and lots of mozzarella cheese. And fresh lemonade, made by the spanish hands of Roger, Maialen and Sònia. Thank you for being so nice and so good at squeezing tons of lemons:).
And there was also the music, The XX and Florence and the Machine. And in between, we talked about Fernando Pessoa's poetry. Small parts of his poemas. Tobacconist's: I am nothing. Never shall be anything. Cannot will to be anything. This appart, I have in me all the dreams of the world.
Gratitude. Here's a word. A nice word to define our dinner under a blue and white and light grey sky. Thank you for the memory. That I'm going to keep.

Special orders




Hoje resolvi atender só aos pedidos gastronómicos do meu filho. E o António gosta mesmo muito de algo a que ele deu o nome de carne branca. Que é strogonoff. Uma coisa bem simples de fazer. A que eu procuro acrescentar coisas. Courgettes, alcaparras e pepinos muito pequenos. E o molho branco nunca é só de natas. Tem mostarda e ketchup. Para ganhar uma cor mais bonita e um sabor menos denso e pesado. E depois pediu arroz doce. Algo que eu nunca fiz sozinha. Das poucas vezes que sim, havia a supervisão da minha mãe. De qualquer forma, tenho quase a certeza que a receita original foi alterada. Mas ficou muito bom. Apesar de eu não gostar especialmente. Mas a minha mãe loiríssima :) ensinou-me que a comida deve ser sempre expressão de amor, de dedicação. Por isso, mesmo não gostando de arroz doce, fi-lo. Para o meu filho.
Como fazer arroz doce:
1 litro de leite+1 casca de limão+1 pau de canela+1chávena grande de arroz carolino+4 colheres de açúcar+4 gemas de ovos+4 colheres de natas+canela em pó.
Levar o leite, a casca de limão e o pau de canela ao lume, até levantar fervura. Assim que começar a ferver, junta-se o arroz e mexe-se pacientemente, à espera que fique cozido. Quando estiver no ponto, adiciona-se as gemas batidas e mexe-se de imediato, mas com cuidado. Retira-se do fogo e junta-se as natas, que devem ser envolvidas com delicadeza. Quando se transferir para a taça de serviço, polvilha-se com canela.
E depois serve-se bem fresco, em taças. Ou então, recupera-se as chávenas de chá mais frágeis e mais antigas que houver em casa. Para se homenagear a herança das mulheres que existiram antes. E que juntaram objectos tão bonitos e preciosos.
NB: Nem de propósito, o Miguel Esteves Cardoso escreveu hoje sobre arroz doce, no Público. E, como sempre, consegue transformar tudo pelas palavras. Fica a conclusão da crónica:
As alegrias também se poupam e adiam. Devem guardar-se. Faz mal quem se antecipa tanto que lhe escapa a felicidade de saber o que lhe está a acontecer. Antes de ser tarde.

Silêncio no jardim



De manhã, há sempre muito silêncio. Aos sábados, o mundo demora a acordar. E desci ao jardim. Para tentar capturar o silêncio das árvores e das flores. Ao longe, conseguia ouvir uma música que soa a princípio. "Cocoon", Bjork.
Para registar. Para não esquecer que o exercício da felicidade é um percurso que se faz todos os dias, que é uma possibilidade que nos é oferecida a todo o momento. Para saber que nunca se deve recusar a possibilidade da felicidade.
E este parece ser o momento de dizer que voltei a escrever. Há cinco anos que não. Que não conseguia ter uma voz. Estava tudo em suspenso, à espera que o meu filho crescesse. Que não precisasse tanto de mim. Quis ser mãe. E se escrevesse, o meu pequeno príncipe de cabelos claros não me iria ter tanto. Agora, ele pode sentar-se junto a mim. E fazer desenhos. Enquanto eu escrevo. Depois, quer adormecer no meu colo, enquanto lhe faço carinhos no cabelo.
Deixo o outro sítio onde escrevo. Que tem estado a ser construído em segredo. E que agora partilho. Acho que agora já posso partilhar.
www.ocomecodeumlivroeprecioso.blogspot.com/

Como agradecer aos amigos



Hoje a casa ficou cheia ao almoço. E depois de uma reunião longa, houve comida no jardim. Isto porque queria agradecer o meu dia de aniversário perfeito aos que o tornaram inesquecível. And the girl with the sweetest smile pediu-me para fazer pizza. Só de vegetais e queijo. E a Helena gostou da ideia de mousse de maracujá. E também houve outras coisas, que me esqueci de fotografar. Vinho branco. Limonada fresca. E ouviu-se The XX. E Florence and the Machine. E a melodia dos espanta-espíritos suspensos nas árvores.
E acaba por ser simples. A comida ser um pretexto humilde para dizer que gostamos muito de partilhar parcelas da nossa vida. Com os nossos amigos.

The Sartorialist

On the Street....Viale Piave, Milano


Eu sei que isto não tem nada a ver com comida, mas eu gosto de mais coisas. E queria falar de um blogue muito especial. De um fotógrafo que começou a fixar o olhar nas pessoas nas ruas. E a captá-las. Por serem exemplos de estilo. Mesmo quando misturam coisas imprevisíveis ou estranhas. E as fotografias são lindas. Tiradas nas ruas. Deixo esta imagem.


Uma sopa com sabor a mar


O calor esmoreceu. E ainda bem, porque há uns dias que nem sequer conseguia pensar na ideia de uma sopa. Mas esta sopa é muito leve. E muito aromática, pela delicadeza dos sabores que se adivinham. Mesmo que não se consiga nomeá-los. Num momento, ficou feita. Com courgettes pequeninas e batatas novas e cenouras. Depois, juntei tomate partido. E azeite e sal. Quando estava quase a ficar pronta e antes de a transformar em creme, coloquei algumas gambas a cozer durante um ou dois minutos. Que foram retiradas logo a seguir. Depois, bastou passar com a varinha e juntar as gambas partidas em pequenos pedaços e uns fios de açafrão e tomate em cubos e tomilho acabado de apanhar. Um fio de azeite no final, mesmo antes de servir. Para o jantar com a Joana, a vegetariana mais tolerante que eu conheço, pela excepção de comer carne em minha casa.

Uma experiência perfeita


Há algum tempo que queria ir ao Eleven. Ou não havia tempo. Ou queria ir a outros sítios. E tinha algum receio de me desiludir. Por já ter tido experiências menos boas em restaurantes com estrelinhas no Guia Michelin. Mas desta vez aconteceu. E ainda bem. Porque não consigo lembrar-me de nada que não tenha sido bom. Mesmo muito bom.
Por isso, quando regressar a Lisboa, hei-de voltar ao Eleven. Em busca de mais uma experiência perfeita. Por mais temerária que seja a palavra. Mas é a palavra que me permite definir o meu almoço de ontem. A ver o rio ao longe. E pedaços da cidade.

De regresso




Com muitas memórias. Memórias gratas. Dias feitos de música e de confusão, num festival de cidade. Que é necessariamente diferente dos outros. Mas a música dos The XX. Junto ao rio. No meio de muitas pessoas. As vozes e os silêncios. Inesquecível. Ainda mais por ser no meu dia de anos.
E o meu sítio especial em Lisboa. Que agora ainda é mais especial. Pela surpresa de ter um pequeno bolo de aniversário à minha espera. E champanhe. E flores. Acabada de chegar de um concerto. Muito obrigada à responsável por mais uma memória, à Nisa Omar. Pela simpatia e pelo carinho.
Um hotel tende a ser um sítio impessoal. Onde se está de passagem. Este é diferente. E em Lisboa, este é o meu lugar de eleição. De descanso. Pelos jardins, cheios de árvores exóticas, pelos hibiscos de muitas cores. Pela piscina. E desta vez, houve mergulhos solitários. Bem cedo pela manhã. No meio do silêncio, depois da multidão.

Como celebrar os trinta anos





Os meus amigos são os melhores do mundo. Sei isso todos os dias, mas hoje muito especialmente. Pela coreografia da Ana e da Maria, ao som de Night Time dos The XX. Pelo presente que é um carinho. Pelo almoço todos juntos. E pelo bolo de aniversário. Na forma dos meus sapatos preferidos. De sola vermelha, muito altos. Obrigada. Vanessa, Maria, Lena, Paula, Ana, Zé Pedro, Marco, Nelson, Vítor, Hugo, Miguel. Obrigada por hoje. E por cada um dos dias. Mesmo os dias que custam a passar. E que nós tornamos diferentes. Pelos rituais, pela música, pelos cigarros fumados cá fora, com muita conversa pelo meio. A nossa sala nunca é aborrecida ou previsível. E é mesmo a melhor do mundo! Deixo umas imagens, para memória futura. E da minha alegria e surpresa. Desfocadas.
E agora, vou. Para ouvir muita música. No Optimus Alive. E para o hotel mais bonito, que é um prolongamento do meu jardim. Mas em Lisboa. Até daqui a uns dias!

Para um final de dia


O regresso a casa, depois de um dia cansativo é melhor com comida. Para termos logo a sensação de casa. Esta receita para um final de dia não é original, é uma herança rústica da Toscana. E trata-se de queijo mozzarella dentro de pão branco, embebido em leite e passado por farinha e ovo e que é frito em azeite. Embora deteste fazer fritos, por serem ainda mais caprichosos do que o risotto e exigirem ainda mais atenção, dispus-me a experimentar fazer mozzarella em carrozza, que significa "num recipiente". E correu bem. Acrescentei uma salada bem leve, salpicada com pólen de flores. Para ser mais poético :) E o meu dia teve um belo final. Ao som de Incubus. Que já não ouvia há demasiado tempo.

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